Pr. José Vidigal Queirós
Corria o ano de 1975, era a última semana do
mês de junho. Eu estava numa sala de aula para ouvir pela última vez a voz do inesquecível
Charles Dickson. Era o sermão de despedida, sua última aula de Homilética para
a minha turma do segundo ano do meu curso de graduação em Teologia que me
habilitaria como pregador de sermões expositivos. Cada palavra ainda ecoa em
minha mente, fazendo-me reviver o impacto que as palavras daquele missionário
norte-americano produziu em mim e em meus colegas de classe. Seu grande sonho
como professor era capacitar vocacionados como hábeis expositores da Palavra de
Deus; homens que soubessem manejar bem a “Palavra da Verdade”; que viessem a
impactar vidas através da pregação de sermões expositivos e deixassem marcas na
história dos batistas, neste país. Depois de ler Jeremias 23.23-32, ele
anunciou o tema: A PALHA NO PÚLPITO.
Em seguida, passou a dizer:
Jeremias
foi um homem extraordinário. Foi um dos poucos na sua época que seguiu com
fidelidade a vontade de Deus. A maioria daqueles que pregavam era dum grupo
moralmente corrupto, sem escrúpulos e longe de ser digno da vocação que fingiam
ter recebido de Deus. Neste texto, Deus denunciou os falsos profetas,
comparando o conteúdo das suas mensagens à palha que não alimentava ninguém.
A
linguagem é forte e serve para mostrar a revolta que Deus tinha, e ainda tem,
contra aqueles que pregavam mentiras como se fossem verdades. Esses falsos
profetas pretendiam saciar a fome espiritual do povo com fabricações da sua
própria imaginação. Mas a palha da imaginação humana não pode saciar a fome em
lugar da verdadeira comida espiritual. Mesmo não chegando ao extremo dos falsos
profetas, creio que, de uma forma ou de outra, há ainda muita palha nos
púlpitos dos nossos dias.
A primeira é a palha do plágio - “que furtam
as minhas palavras” (v. 30). O furto das palavras do Senhor praticado
pelos profetas contemporâneos de Jeremias era resultado de não terem um recado
de Deus. Plagiadores assim procedem por falta de vocação, por preguiça de
estudar e por esquecerem da tarefa prioritária. Isto resulta do fato de não terem
conhecimento do Senhor. Nos dias de Jeremias, Deus denunciava aqueles falsos
profetas, declarando: eles furtam as minhas palavras. Eles pensavam que Deus
não os estava ouvindo (vv. 23-25); pensavam que os seus sonhos podiam fazer
tanto quanto o recado de Deus (vv. 28-29).
Plagio
é trapaça; e, no contexto da pregação, é falsa profecia praticada por
pregadores que roubam os sermões de pregadores ilustres que se consagram a
Deus, para pregá-los como se fosse de sua autoria. Deus classifica os
plagiadores de sermões alheios como destituídos de vocação.
A segunda palha que prolifera no púlpito é a
palha da profanação – “e afirmam: Ele disse” (v. 31). Os
profetas contemporâneos de Jeremias fizeram de Deus o autor de suas mentiras; e
do púlpito, palco para planos interesseiros. O púlpito não é lugar para
exibição pessoal. O púlpito não é lugar para vinganças pessoais. Portanto, um
legítimo porta-voz de Deus é, e haverá de ser sempre, um pregador honesto.
Quando a profanação da tribuna sagrada ocorre, Deus é vilipendiado e seu povo é
vergonhosamente enganado.
A terceira palha que desonra o púlpito é a
palha da perversidade – “fazem errar o meu povo” (v. 32). Chamado
por Deus, Jeremias se levantou e ergueu a sua voz para denunciar os homens de
coração perverso que se faziam passar por profetas. Seus ouvintes foram vítimas
inocentes. Estes vis enganadores responderão a Deus (vv. 26-27).
A
alimentação que os nossos rebanhos devem receber é aquela que é buscada
exclusivamente na Palavra de Deus. O resto é palha. Pode ser poético e
dramático, popular e agradável aos ouvintes, mas, sem base bíblica, é palha que
não é digna da tribuna sagrada.
Dizem
que dois terços da população do mundo hoje vive desnutrida. Há falta de
proteínas na dieta. Mas, há alguns anos atrás, foi descoberta uma farinha que
contém a quantidade de proteínas necessárias à saúde normal, e o seu preço é
baratíssimo. É feita de peixe, mas só presta se incluir todo o peixe: cabeça e
ossos.
Espiritualmente
falando, há muita gente também no mundo que vive desnutrida. A solução está na
Bíblia. Mas o que é necessário não é apenas uma dose da Bíblia diluída com
alguma imaginação humana, mas, antes, a Bíblia completa em toda a sua beleza.
Paulo
assim disse, em 2Tm 3.16: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o
ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim
de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa
obra”.
Seguindo
esta sábia orientação, meus irmãos pregadores, os nossos ouvintes receberão o
trigo que alimenta a alma: uma substanciosa mensagem de Deus. Que Deus nos
ajude a pregar tais mensagens quando ocuparmos a tribuna sagrada.
O Pr. Charles
Dickson retornou aos Estados Unidos, para gozo de sua aposentadoria e, na
década dos anos 80, foi chamado por Jesus para unir-se aos nobres pregadores
que marcaram a história da igreja com seus sermões impactantes.
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