Rev. Martin Luther King Jr. |
Atos 20.17-38
Pr. José Vidigal Queirós
Introdução
Exmo. Sr. Presidente
da Junta Administrativa do Seminário Teológico Batista em São Luís, Pr. Antônio
Câmara Souza; Magnífico Reitor, Pr. Anderson Cavalcanti; Preclara Deã
Acadêmica, Profa. Gilcilene Falcão; Colendo Corpo Docente,
Digníssimo Orador Oficial desta turma de formandos, Sr. Francisco Alves;
Diletos Concludentes, Digníssimos Pastores e Líderes aqui presentes, minhas
senhoras e meus senhores.
Quero expressar a minha sincera
gratidão pela honra que me é conferida ao ter assento nesta magna solenidade e
poder assomar a esta tribuna sagrada, para dirigir-lhes a palavra. Em virtude
da relevância e seriedade deste momento, quando mais uma equipe de líderes
cristãos flui de sua graduação acadêmica para o exercício de sua respectiva
função na hierarquia eclesiástica, quero fazer uso das Sagradas Escrituras,
como fonte precípua da teologia cristã, para discretear o tema de minha fala:
Ministro Exemplar.
No capítulo 20, versículos 17 a
38, do livro de Atos dos Apóstolos, encontramos o registro do discurso do
apóstolo Paulo pronunciado aos presbíteros da igreja de Éfeso, onde ele fez uso
de seu testemunho pessoal para abordar o tema da exemplaridade do ministério
pastoral na esperança de que aqueles ministros alcançassem o padrão da
excelência no exercício do seu ministério. Contextualizando o discurso de
Paulo, quero propor aos formandos aqui presentes que a dignidade do ministério pastoral manifesta-se pela exemplaridade da
vida de quem o exerce. O apóstolo Paulo apontou três princípios que regem o
ministro exemplar.
1.
As virtudes de um ministro exemplar fluem
através do seu caráter
Em sua fala aos presbíteros de
Éfeso, Paulo revelou sua ousadia em apresentar-se como um referencial para
aqueles homens. Propôs a eles que a primeira virtude manifesta pelo caráter de
um ministro exemplar consiste no amor incondicional e irrestrito que deve ter
por Jesus - “Vós bem sabeis de que modo me tenho portado entre vós sempre, desde o
primeiro dia em que entrei na Ásia, servindo ao Senhor com toda a humildade, e com lágrimas e provações que
pelas ciladas dos judeus me sobrevieram...” (v. 19).
Nada, absolutamente nada, é mais
forte que o amor. Ninguém, absolutamente ninguém além daqueles que amam a
Jesus, exerce com dignidade o ministério pastoral. Amor é a energia espiritual
celeste que flui da natureza constitutiva divina, pervade a alma dos
regenerados, e os move à atitude de auto entrega, arremessando-os no altar do
altruísmo. Amor é a obsessão pelo bem; portanto, os ministros exemplares são
movidos de forma irresistível por uma ideia fixa: servir a Jesus. Esta é sua
razão de viver e morrer.
A segunda virtude que manifesta
o caráter de um ministro exemplar é a força exuberante de sua coragem. “Agora, eis que eu, constrangido no
meu espírito, vou a Jerusalém, não sabendo o que ali acontecerá, senão o que o Espírito Santo me
testifica, de cidade em cidade, dizendo que me esperam prisões e tribulações”,
declarou Paulo aos presbíteros de Éfeso (vv. 22-23).
Ser corajoso não significa ser
valentão. Enquanto o valentão caracteriza-se pela exibição agressiva e
narcisista de sua virilidade e vigor físico para causar medo, o corajoso
revela-se por sua firmeza e disposição em confrontar tudo e todos que o
adversam, mesmo tendo consciência dos riscos de danos e dores que está sujeito
a sofrer. Assim sendo, podemos afirmar sem margem de erro que coragem
é a força que nos move ao cumprimento do dever, mesmo quando morremos de medo.
Este foi o exemplo de Jesus, que mesmo “cheio
de pavor” (Mc 14.33), como diz e Evangelho de Marcos, decidiu fazer a
vontade do Pai, entregando-se à morte pelo meio mais cruel, humilhante e
doloroso que o sadismo humano foi capaz de produzir: a cruz.
Deus não está à caça de
valentes, mas em busca de corajosos. Ministros exemplares manifestam sua
coragem quando resistem com firmeza às ameaças dos que arrogam para si o poder
de decisão. Ministros exemplares confrontam ideias, não pessoas. Ministros
exemplares manifestam coragem quando, mesmo com o risco de sua própria
demissão, não se dobram diante dos impositores que, segundo a vileza de seu
caráter, fazem uso da chantagem para dobrarem os homens de Deus.
A terceira virtude que manifesta
o caráter de um ministro exemplar é a disposição ao sacrifício de sua própria
vida. “Mas em nada tenho a
minha vida como preciosa para mim, contando que complete a minha carreira e o
ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da
graça de Deus”. Homens de Deus que exercem com dignidade o
ministério pastoral abrem mão de privilégios e status para investir sua vida,
seus dons e talentos na construção de uma nova humanidade para a glória de
Deus.
Em João 12.24-25, Jesus declarou
aos seus discípulos: “Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não
morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida,
guardá-la-á para a vida eterna”. Isto significa dizer
que quem vive para Deus está morto para si mesmo. Portanto, ministros
exemplares percorrem sua jornada, mantendo sua vida no altar do sacrifício.
Isso ele haverá de realizar movido pelo senso
do dever a cumprir – “contanto que complete a minha carreira e o
ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do evangelho da
graça de Deus” (v. 24).
Diletos formandos, sejam exemplares
no exercício do ministério, manifestando em seu caráter essas virtudes: o amor
incondicional a Jesus, a força exuberante de sua coragem, a disposição ao
sacrifício da própria vida e o senso do dever a cumprir. Assim, portanto,
reafirmo que as virtudes de um ministro exemplar fluem através de seu caráter.
O segundo grande princípio que
rege o ministro exemplar é:
2. As
virtudes de um ministro exemplar manifestam-se através do seu discurso
Eloquência não torna o pastor um
ministro exemplar. Cataratas retóricas podem também jorrar da boca de um mau
caráter. Não é o discurso que faz o ministro; mas o ministro é que faz o
discurso. Portanto, um ministro exemplar pode ser identificado pela natureza,
conteúdo e propósito do seu discurso.
Vivemos dias difíceis, uma época
ameaçadora para a igreja de Deus, pois o nível de mediocridade na pregação
tende a proliferar na igreja de Cristo. Contrapondo o perfil dos profissionais
do púlpito e dos mercadores do evangelho que ascendem aos níveis de maior
escalão no âmbito eclesiástico, o apóstolo Paulo propôs aos presbíteros de
Éfeso e a nós hoje que o discurso de um ministro exemplar manifesta quatro
aspectos relevantes.
O primeiro deles consiste no conhecimento
profundo da revelação divina.
No texto já citado, versículos 20 e 21, Paulo disse: “... não me esquivei de vos anunciar coisa alguma
que seja útil, ensinando-vos publicamente e de casa em
casa, testificando, tanto a judeus como
a gregos, o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus”. E acrescentou nos versículos 26 e 27: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que
estou limpo do sangue de todos. Porque não me esquivei de vos anunciar todo o conselho de Deus”.
Ministros exemplares são homens
que falam com Deus antes de falar com os homens. Ministros exemplares são
homens que leem diariamente a Palavra de Deus antes de lerem o jornal.
Ministros exemplares são homens que navegam no universo do Espírito antes de
navegarem na internet. No segundo módulo do Curso Haggai, um dos professores, fez
durante a aula a seguinte declaração: “Alguém
disse com certa coerência: Depois que os provedores da internet inventaram o
Google, ninguém mais estuda; e depois que inventaram o Facebook, ninguém mais
trabalha”.
A superficialidade dos púlpitos
atuais resulta diretamente da preguiça e da mediocridade daqueles, cujo
ministério sobrevive do plagio. Estes são ministros incompetentes; homens de
inteligência atrofiada que buscam fazer sucesso pregando os sermões produzidos
por homens iluminados por Deus. São amantes da negligência que, à semelhança de
Josué, ocupam-se daquilo para o qual não foram chamados.
Quando Deus nomeou Josué como
substituto de Moisés, tudo de mais importante que Deus lhe exigiu foi o
seguinte: “Não se aparte da tua
boca o livro desta lei, antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado
de fazer conforme tudo quanto nele está escrito; porque então farás prosperar o
teu caminho, e serás bem sucedido” (Js 1.8). Significa dizer que
Deus chamou Josué para ser profeta e não guerreiro. Seu tempo deveria ser
ocupado com o estudo e a meditação na Palavra de Deus. Mas, lamentavelmente,
sua inversão de prioridades, trocando o ofício profético pela carreira militar,
conduziu a nação de Israel ao fracasso espiritual completo.
Na velhice, quando não mais
tinha forças para empunhar a espada, ao ver a nação adorando os deuses dos
cananeus, Josué fez ao povo de Israel uma proposta através da qual testificou
de seu fracasso: “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade;
deitai fora os deuses a que serviram vossos pais dalém do Rio, e no Egito, e
servi ao Senhor. Mas, se vos parece
mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses
a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos
amorreus, em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor”
(Js 24.22-24).
Ministros exemplares conhecem os
desígnios de Deus. Ministros exemplares são detentores da sabedoria divina,
esmeram-se no estudo e meditação na Palavra de Deus, para proclamarem a
mensagem divina com a mesma autoridade dos profetas da antiga aliança que, ao
iniciarem seus discursos, afirmavam com autoridade: “Assim diz o Senhor”. Ministros exemplares proclamam não a mensagem
que seus ouvintes gostam, mas a palavra da qual todos estão carentes. Seu
propósito é nutrir e não divertir.
Não só o conhecimento profundo,
mas também o discernimento claro do que deve pregar, marca a exemplaridade dos pregadores enviados por Deus. Paulo
declarou aos pastores de Éfeso: “... não me esquivei de vos anunciar coisa alguma que seja útil, ensinando-vos publicamente e de casa em casa...” (v. 20). Lamentavelmente, há muitas igrejas
raquíticas espiritualmente, porque a ignorância bíblico-teológica de seus
pastores privou o rebanho do Senhor do pão espiritual. O besteirol proclamado
dos púlpitos atuais tornou-se o substituto da palavra que nutre, fazendo
prevalecer a ignorância e a cegueira espiritual. Ministros exemplares são
pastores que têm consciência de sua responsabilidade de nutrir substancialmente
o rebanho de Cristo.
O terceiro aspecto que
caracteriza o discurso de um ministro exemplar consiste na esperança dos resultados que pretende alcançar: arrependimento e fé.
A igreja não existe para promover shows, nem os pastores são chamados para
divertir os ouvintes através de seus discursos. A igreja não é a plateia de
Deus e os pastores não são animadores de shows e de programas. Muitos templos
de igreja já foram transformados em circo, porque o púlpito foi substituído por
um picadeiro, onde os artífices do riso e os animadores do espetáculo divertem
dominicalmente sua plateia em troca de aplausos.
Ministros exemplares são homens
de Deus que instrumentalizam as Sagradas Escrituras – “como martelo que esmiúça a penha” (Jr 23.29) – para quebrantar os corações endurecidos, transformando a alegria
em tristeza e o riso em lágrimas de arrependimento. “Senti as vossas misérias, lamentai e chorai;
torne-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria em tristeza” é a
palavra de Tiago proclamada aos pecadores de corações endurecidos (Tg 4.9).
Não faça do culto um espetáculo;
não faça do púlpito um palco. Faça do culto uma manifestação de verdadeiro
louvor e verdadeira adoração; faça do púlpito aquilo que ele realmente é: uma
tribuna sagrada de onde se faça ouvir com autoridade a voz de Deus por meio da
boca de um ministro exemplar. Portanto, meus amados, tudo isso nos leva a
acreditar que as virtudes de um ministro exemplar manifestam-se através do seu
discurso.
O terceiro princípio que rege o
ministro exemplar é o seguinte:
3. As virtudes de um ministro exemplar
manifestam-se através de suas obras
Em sua fala aos presbíteros de
Éfeso, o apóstolo Paulo ensinou que as obras de um ministro exemplar manifestam
a excelência de sua espiritualidade. Nos versículos 33 a 35, assim ele
se expressou: “De ninguém cobicei
prata, nem ouro, nem vestes. Vós mesmos sabeis que estas mãos proveram as minhas necessidades e as
dos que estavam comigo. Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário
socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele
mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber”. Homens espirituais são
movidos pelo amor e altruísmo, pelo seu senso de responsabilidade para com o
próximo e pelos compromissos de sua fé.
As obras de um ministro exemplar revelam a autenticidade de sua vocação.
Ele busca imitar Jesus que “veio não para
que fosse servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos”
(Mt 20.28). Os ministros das igrejas atuais estão classificados em duas
categorias principais; as outras são derivadas destas duas: vocacionados e
mercenários.
O mercenário entra para o
ministério, planejando o quanto poderá explorar a igreja para dela tirar bens e
riquezas. Movido pela ganância, ele é estimulado a mudar de pastorado quando a
próxima igreja lhe oferece melhor salário. Para ele, igreja é o meio pelo qual
busca engordar o saldo de sua conta bancária. Ele não está preocupado com o
destino dos pecadores, porque vive em função do próximo banquete e do próximo
orgasmo.
Em contraposição, o ministro
exemplar vê a autenticidade de sua vocação como compromisso com Cristo, o reino
de Deus e a missão. Para ele, a igreja é uma agência de promoção do reino de
Deus e de transformação social. Movido pela sua paixão pelos pecadores, foge da
sedução das riquezas e, pela fé na providência divina, investe sua vida na
missão como sua incumbência maior. A salvação dos pecadores e a edificação dos
regenerados são o foco de suas atenções e as prioridades que determinam o tempo
de suas atividades. Por esta razão, suas riquezas não são constituídas de ouro
e prata, mas das “obras que Deus preparou
de antemão para que andássemos nelas” (Ef 2.10).
As obras de um ministro exemplar enaltecem a grandeza de sua
generosidade. Paulo declarou aos pastores de Éfeso: “Vós mesmos sabeis que estas mãos proveram as
minhas necessidades e as dos que estavam comigo. Em tudo vos dei o exemplo de que assim trabalhando, é necessário
socorrer os enfermos, recordando as palavras do Senhor Jesus, porquanto ele
mesmo disse: Coisa mais bem-aventurada é dar do que receber” (At
20.34-35).
Amados, o exercício do
ministério pastoral exige de nós renúncia, sacrifício e altruísmo. Somos
vocacionados para o serviço prestado a Deus em favor dos homens. Somos não
somente ministros de Deus, mas também, benfeitores da humanidade. Morremos para
nós mesmos, a fim de que outros vivam e vivam eternamente.
Finalmente, as obras de um ministro exemplar atribuem-lhe o mérito de servir como
exemplo. Quando Paulo disse aos presbíteros de Éfeso: “Em tudo vos dei o exemplo” (At 20.35), com certeza ele esperava
ser imitado e seus imitadores, por sua vez, se tornassem um referencial para os
futuros ministros que Deus ainda haveria de vocacionar.
Já chega de pastores cuja
utilidade maior é servir como motivo de vergonha e desonra. Como disse Judas, “Estes são os escolhidos em vossos
ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se apascentam a si mesmos
sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos; são árvores sem folhas
nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas; ondas furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas, estrelas
errantes, para as quais tem sido reservado para sempre o negrume das trevas”(Jd
12-13).
Ministros exemplares dignificam
o ministério que exercem por meio das obras que praticam. São obras que
manifestam a excelência de sua espiritualidade, revelam a autenticidade de sua
vocação, enaltecem a grandeza de sua generosidade e atribuem-lhe o mérito de
servir como exemplo.
Conclusão
Diletos concludentes,
permitam-me reiterar a tese deste discurso: A
dignidade do ministério manifesta-se pela exemplaridade da vida de quem o
exerce. O ministro exemplar é aquele cujo caráter e obras aprovam seu
discurso. A credibilidade no que dizemos depende daquilo que nós somos e fazemos.
Sejamos ministros que honrem o ministério, sendo exemplares no caráter, no
discurso e nas obras, para que as próximas gerações glorifiquem a Deus pelos
ministros que Ele enviou. Ao nosso Deus e Pai e ao Senhor Jesus Cristo sejam a
glória, o louvor e honra pelos séculos dos séculos. Amém.