30 de novembro de 2018

ENSAIO EXEGÉTICO - II Tessalonicenses 2.13-17

José Vidigal Queirós[1]


INTRODUÇÃO

A vida cristã, fundamentada na doutrina dos apóstolos, requer profunda dedicação ao estudo e ensino da mesma. Conhecê-la bem é responsabilidade de todos e ensiná-la corretamente, tarefa designada aos pastores e mestres. Lamentavelmente, muitos profissionais do púlpito, presos pelas regras da retórica, estão esquecidos de que proclamar os grandiosos atos redentores de Deus (1Pe 2.9), ou ainda, anunciar todo o desígnio de Deus (At 20.27) são o cerne da mensagem cristã ao mundo. Para tanto, é necessário um conhecimento profundo e preciso da Palavra de Deus.
O trabalho de quem prega e ensina só tem razão de existir se for o resultado de uma reflexão séria sobre o que a Bíblia tem a nos dizer. A mensagem bíblica é milenar; percorrendo gerações e sendo disseminada nas culturas, veio até nós e continuará sua trajetória, até os confins da terra e até o final dos tempos. Eis a razão pela qual o verdadeiro sentido das Escrituras deve ser preservado entre nós. Para garantir a perpetuação da mensagem divina aos homens, com integridade e exatidão, o estudo de caráter investigativo, exegético, científico, é indispensável. A exegese não pode estar divorciada da pregação e do ensino.
O presente estudo consiste num ensaio exegético de um parágrafo do segundo capítulo da Segunda Epístola de Paulo aos Tessalonicenses (2Ts 2.13-17) que tem como objetivo subsidiar os estudantes de teologia na experiência de exercitar suas habilidades no aprendizado dos procedimentos práticos da exegese bíblica do Novo Testamento.
Outrossim, este trabalho visa auxiliar os expositores das Sagradas Escrituras (pregadores e educadores de modo geral) na construção de sua cosmovisão bíblico-teológica, na perspectiva da fé reformada. A relevância do conteúdo doutrinário abordado neste ensaio exegético, embora pequeno, tem sua relevância justificada no fato de que a situação contextual das igrejas batistas brasileiras é similar à da igreja primitiva, no que diz respeito à influência das teologias nocivas sobre a fé cristã, causando distorções e absurdeza no âmbito do ensino e da práxis ministerial eclesiástica. Portanto, este estudo serve como desafio à renovação do propósito de se consolidar a ortodoxia bíblico-teológica.

ESTÁGIO I – OBSERVAÇÃO

1º PASSO – ABORDAGEM INICIAL

1.       Anotações  de Leitura da Epístola
Os dados contidos neste tópico são anotações pessoais oriundas das sucessivas leituras da epístola como um todo. O objetivo destas anotações é construir uma estrutura do texto que facilite o processo de interpretação nas etapas que se seguirão.

1.1.     Capítulo 1.1-2 (Introdução)
a)  A Segunda Epístola aos Tessalonicenses foi escrita por Paulo, tendo Silvano e Timóteo como prováveis coautores (?).
b) Os destinatários são identificados explicitamente como sendo a “igreja dos tessalonicenses”.
Observação: será necessária uma investigação posterior sobre a região geográfica em que estava situada a igreja.

1.2.     Capítulo 1.3-12

Há duas orações nesta porção da epístola: uma de ação de graças e outra de intercessão.
 
1.2.1.  Ação de graças:
a)  Primeiro motivo: o crescimento espiritual extraordinário na fé – “vossa fé cresce sobremaneira” – e no amor – “o vosso mútuo amor de uns para com os outros vai aumentando” (v. 3).
b)  Segundo motivo: a perseverança na fé apesar das “perseguições” e “tribulações” (v. 4) que serviu também de motivo de glória – “nos gloriamos de vós” (v. 4) – para os autores da epístola.
c) Terceiro motivo: o sofrimento suportado com perseverança que tornava os membros da igreja “dignos do reino de Deus” (v. 5) e os perseguidores dignos do juízo divino – “que ele dê em paga tribulação aos que vos atribulam” (v. 6).
d)  Quarto motivo: a esperança de gozarem do “alívio... quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder” (v. 7), trazendo vingança contra os adversários (vv. 8, 9).

1.2.2.  Intercessão:
a)       Objetivos: (1) que Deus os “torne dignos da vocação”, isto é, do chamado divino que atenderam ao ouvirem o evangelho (v. 11); (2) e “cumpra todo propósito de bondade e obra de fé” (v. 11).
b)       Um desígnio: a glorificação “de nosso Senhor Jesus” (v.12).

1.3.     Capítulo 2.1-12

Esta parte da epístola trata de um tema escatológico. O conteúdo pode ser estruturado da seguinte forma:

1.3.1.  Exortações:
a)     Primeira: a expectativa da “vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (v.1) serviu como motivo da exortação a que ninguém jamais se desviasse – “que não vos demovais da vossa mente” (v.2) – por qualquer influência externa – “quer por espírito, quer por palavra, quer por epístola” (v.2) – no que diz respeito ao “Dia do Senhor” (v. 2).
b)  Segunda: que os membros da igreja não se deixassem iludir, dando crédito a falsos ensinamentos – “ninguém, de nenhum modo, vos engane” (v. 3)

1.3.2.  Acontecimentos escatológicos:
a)       O surgimento da “apostasia” (v. 3);
b)       A manifestação pública do “homem do pecado, o filho da perdição” (vv. 3-6).

1.3.3.  O contexto mundial na era escatológica:
a)    A atual ordem das coisas – “o mistério da iniquidade” (v.7) – já estava em plena atividade no mundo atual – “já opera” (v. 7)
b)  Um impedimento – e quando for afastado “aquele que agora o detém” (v. 7), então será manifesto “o iníquo” por ocasião da vinda do Senhor Jesus que o matará “com o sopro da sua boca” (v.8).
c)   O agente responsável – Satanás, com todo o seu poder, é o agente responsável pelo surgimento “do iníquo” (v. 9) o qual se tornará notável pelos “sinais e prodígios da mentira” (v. 9) com o propósito de seduzir o mundo perdido (v. 10).
d)    A ação providencial e soberana de Deus – “Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira” (v. 11), para que o juízo de Deus se manifeste com rigor.

1.4.     Capítulo 2.13-17

O conteúdo desta passagem pode ser subdivido em quatro partes:
a)  Os tessalonicenses foram escolhidos por Deus para a salvação (v.13);
b) Os tessalonicenses foram chamados por Deus pela pregação do evangelho através de Paulo e seus auxiliares (v. 14);
c) Os tessalonicenses são exortados à perseverança, sendo esta uma necessidade premente de todos (v. 15);
d) Os tessalonicenses são alvo de duas bênçãos impetradas pelo apóstolo Paulo: consolação (v. 16) e confirmação (v. 17).

1.4.1.  Ação de graças:
a)   Primeiro motivo: foram eleitos por Deus - “porque Deus vos escolheu[2] desde o princípio para a salvação”.[3] (v.13).
b) Segundo motivo: atenderam ao chamado divino - “para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”.[4] (v.14).
1.4.2.  Encorajamento:
a)       Primeira exortação: “permanecei firmes”;
b)       Segunda exortação: “guardai as tradições...” (v. 15).
c)       Palavra de conforto: “console o vosso coração” (vv. 16-17).

1.5.     Capítulo 3.1-5

Há alguns destaques a serem feitos: um pedido de orações, uma palavra de esperança, algumas exortações e a finalização da epístola.

1.5.1.  Pedido de orações:
a)       Pela propagação eficaz do Evangelho (v. 1);
b)       Por livramento dos perseguidores (v. 2).

1.5.2.  Palavra de esperança:
a)       Proteção divina (v. 3);
b)       Obediência às instruções (v. 4);
c)       Direção divina (v. 5).

1.6.     Exortações:
a)  Primeira: aplicação urgente da disciplina – separação dos crentes de vida moralmente desordenada (v. 6);
b)   Segunda: imitação dos apóstolos (vv.7-9);
c) Terceira: evitar a ociosidade (vv. 10-11) e ser diligente no trabalho em prol da subsistência (vv. 12-13);
d)  Quarta: aplicação da disciplina – isolar da comunhão os crentes insubordinados (vv. 14-15).

1.7.     Finalização:
a)       Uma saudação (v. 16);
b)       Autenticação de autoria paulina (v. 17);
c)       Bênção apostólica (v. 18).

2.       Esboço da epístola
               1)       Introdução (1.1-2)
               2)       Orações (1.3-12)
    a)       Ação de graças (1.3-9)
    b)       Intercessão (1.11-12)
               3)       A Segunda Vinda de Cristo (2.1-12)
    a)       Acontecimentos escatológicos antes da parousia (2.1-6)
    b)       A ordem espiritual do mundo na era escatológica (2.7-12)
               4)       Incentivo à perseverança (2.13-17)
    a)       Ação de graças (2.13-14)
    b)       Encorajamento (2.15-17)
               5)       Motivos de Intercessão (3.1-5)
    a)       Pedidos de oração (3.1-2)
    b)       Palavra de esperança (3.3-5)
               6)       Exortações (3.6-16)
               7)       Encerramento (3.17-18)
    a)       Saudação final (3.17)
    b)       Bênção (3.18)

3.       Contexto Histórico Geral

3.1.     A cidade de Tessalônica

Situada no Golfo Termaico, atualmente denominado Golfo de Salônica, no Mar Egeu, a cidade cujo nome primitivo era Terme ou Terma – que significa “fonte de água quente” – foi o lugar onde Cassandro, um dos sucessores de Alexandre, o Grande, fixou residência. Foi ele quem deu à cidade o nome de Tessalônica para honrar sua esposa Tessalonike, irmã de Alexandre.
Na época dos romanos a cidade serviu como capital do segundo distrito, um dos quatro em que a Macedônia foi dividida. Foi também o local em que se estabeleceu uma base militar e comercial na Via Egnatia que ligava o Mar Egeu ao Adriático. No ano 42 a.C., Tessalônica foi proclamada cidade livre e a administração imperial estabeleceu nela um procônsul. A administração municipal contava também com um corpo de magistrados civis – os politarcas – que cuidavam das questões de ordem jurídica e/ou judiciária (At 17.6).
Em Tessalônica, havia uma sinagoga de judeus, onde Paulo pregou e obteve várias conversões. Estes crentes judeus se uniram aos pagãos convertidos e, juntos formaram a primeira comunidade cristã (At 17.1-13; cf Fp 4.16). Tessalônica, segundo J. D. Douglas, foi “o primeiro lugar onde a pregação de Paulo conseguiu um proeminente grupo de seguidores (At 17.4)”[5].
Durante o período em que estiveram em Tessalônica, Paulo e sua equipe tiveram de sustentar-se através do trabalho manual árduo (1Ts 2.9; 2Ts 3.7-8). Aquela era uma região destituída de uma economia saudável, pois a população passara por um período de fome e escassez. Esta foi a razão pela qual tiveram de aceitar ajuda financeira em duas ocasiões durante o período de permanência naquela cidade (cf Fp 4.16).[6]

3.2.     Os destinatários e o propósito da epístola

Estando em Corinto, por volta do ano 51 d.C., Paulo enviou Timóteo de volta a Tessalônica para avaliar a situação em que a igreja se encontrava e, ao retornar a Corinto (At 18.5), Timóteo trouxe boas notícias sobre a perseverança e o zelo dos membros da igreja, mas informou também sobre alguns problemas referentes à conduta moral e outros de natureza doutrinária, o que motivou Paulo a escrever sua primeira epístola. Posteriormente, chegaram outras notícias a Paulo, as quais indicavam que havia ainda alguns mal-entendidos a serem removidos, o que motivou Paulo a escrever sua Segunda Epístola aos Tessalonicenses.
As duas, em seu bojo, insinuam que a igreja estava doutrinariamente vulnerável. Em contrapartida, apesar da intensa perseguição e da imaturidade doutrinária dos tessalonicenses, Paulo considerou que a igreja floresceu, tornando-se um exemplo para as demais igrejas da Macedônia e da Grécia, uma vez que perseveravam no amor, na fé e na esperança (1Ts 1.3-7; cf 2Ts 1.3-4).
Os cristãos de Tessalônica eram reconhecidos como exemplares, pois sua fé crescia sobremaneira, seu amor mútuo aumentava, e eles continuavam a suportar fielmente perseguição e tribulação. Portanto, o apóstolo Paulo, como o fez em sua primeira carta, elogiou-os e incentivou-os a continuar firmes (2Te1:3-12; 2:13-17).
Apesar disso, havia na congregação alguns que ensinavam erroneamente que a vinda de Jesus Cristo era iminente. Tentando evitar que os crentes fossem seduzidos a aceitar um ensino errôneo, Paulo mostrou que outros eventos históricos haveriam de anteceder à vinda do dia do Senhor (2:3). Outrossim, havia um problema que ainda precisava de atenção. Em sua primeira carta, Paulo havia dito: “porque também já assim o fazeis para com todos os irmãos que estão por toda a Macedônia. Exortamo-vos, porém, a que ainda nisto continueis a progredir cada vez mais, e procureis viver quietos, e tratar dos vossos próprios negócios, e trabalhar com vossas próprias mãos, como já vo-lo temos mandado; para que andeis honestamente para com os que estão de fora e não necessiteis de coisa alguma” (1Te 4:10-12).
Havia alguns dentre os congregados que não levaram a sério essa admoestação. Por isto, Paulo ordenou que essas pessoas se dedicassem ao trabalho e comessem o alimento que elas próprias produziram, acrescentando: “Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto: que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes, fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos e exortamos, por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe. Todavia, não o tenhais como inimigo, mas admoestai-o como irmão” (2Te 3:10-15).
A principal razão que gerou motivos para sua segunda epístola parece ter sido o fato de ter havido uma interpretação distorcida dos ensinamentos de Paulo, na epístola anterior, sobre a parousia – o evento apocalíptico da Segunda Vinda de Cristo. Talvez o erro de interpretação tenha sido originado na leitura de 1Ts 4.17, onde Paulo diz: “Depois nós, os que ficarmos vivos seremos arrebatados juntamente com eles, nas nuvens, ao encontro do Senhor nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor”. Eles haviam deduzido dessas palavras que a vinda de Cristo seria iminente. Na verdade, ao abordar o tema da parousia, Paulo teve a intenção de consolar os aflitos da igreja que viviam atribulados pela perseguição sofrida.
O parágrafo em estudo evoca o tema da eleição. No Antigo Testamento, há registros das escolhas que Deus fez de pessoas e, de um modo especial, da nação de Israel, para realizar por meio dos mesmos os seus propósitos. Eleição e vocação estão indissoluvelmente associados. Os hebreus haviam sido escolhidos soberanamente por Deus como “propriedade peculiar dentre os povos [...], reino de sacerdotes e nação santa” (Êx 19.5-6). Embora não se trate de uma eleição para a salvação, como Paulo se refere aos tessalonicenses, ela enfatiza uma ação soberana divina, tendo em vista o cumprimento de seus eternos desígnios.
Pedro, abordando o mesmo tema em sua primeira epístola, aplica este versículo à eleição dos destinatários de sua carta como critério para o exercício de uma missão: “proclamardes as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1Pe 2.9). Isto subentende um chamado divino, uma vocação.
Paulo se refere à eleição dos crentes de Tessalônica como tendo sido efetivada pela “santificação do Espírito”. Santificação ou santidade é elemento comum destas passagens paralelas. O conceito de “nação santa” (Ex 19.5) é atribuído por Pedro à igreja, identificando-a com o povo de Deus, cuja relação entre ambos requer santidade: “Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 20.7; 1Pe.1.15). Neste sentido, os tessalonicenses foram santificados por Deus que os havia escolhido para a salvação e os vocacionou (chamou) por meio do evangelho pregado pelo apóstolo Paulo para um propósito sagrado: a glória de Cristo.

4.       Autoria e data da epístola [7]

O apóstolo Paulo se identifica por duas vezes como o autor tanto da primeira (1Ts 1.1; 2.18) como da segunda (2Ts 1.1; 3.17) epístola. Em ambas ele adiciona os respectivos nomes de Silvano (Silas) e Timóteo como coautores. Há evidências internas, tanto no vocabulário quanto no estilo e conteúdo doutrinário, que sustentam a autoria paulina. Ambas as epístolas foram escritas quando da estadia de Paulo durante 18 meses em Corinto, no final do ano 51 d.C..


ESTÁGIO II – INTERPRETAÇÃO

2º PASSO – CRÍTICA TEXTUAL

OBSERVAÇÃO: considerando que a crítica textual visa a reconstrução do texto original, que esta etapa da exegese é da competência de eruditos especializados na área da linguística, e da leitura in loco dos manuscritos gregos produzidos nos primeiros séculos da era cristã, esta etapa é aqui desconsiderada.

3º PASSO – TRADUÇÃO

1.       Definição dos limites da passagem

Os elementos que demarcam os limites do parágrafo escolhido para análise são os seguintes:
1)       O parágrafo está inserido numa unidade literária que tem por tema a “apostasia” que virá e alcançará o auge com a manifestação do “homem da iniquidade”. A exposição deste assunto é iniciada em 2:1 e concluída em 2.12. A ênfase desta passagem é “o mistério da iniquidade” já operante na presente era.
2)       Há uma mudança de ênfase a partir do versículo 13 no qual Paulo inicia sua exortação à perseverança na fé para que os tessalonicenses não sejam arrastados pela apostasia vindoura.
3)       O versículo 17 dá fim à exortação e encerra o parágrafo. A comprovação deste fato pode ser vista no versículo seguinte (3:1), onde Paulo, depois de terminar sua palavra de exortação, prossegue sua carta fazendo um pedido de orações em seu favor.

2.       Tradução Literal

O texto grego utilizado neste trabalho como referencial é o Textus Receptus. A razão disso é que este foi o texto utilizado pelos reformadores do século XVI e pelo próprio João Ferreira de Almeida, em sua tradução da Bíblia para o português. De acordo com a Sociedade Bíblica Trinitariana, “Durante o período Bizantino, nos anos 312 - 1453 d.C., o Textus Receptus foi usado pela Igreja Grega”.[8] Portanto, ao se tratar de precisão em uma tradução das Escrituras, a opção mais coerente é fazer uso do texto mais antigo, isento das alternações adicionadas pela crítica textual, durante o século XX. A ordem das palavras na presente tradução segue a mesma ordem do texto grego. Esta é uma opção pessoal, sendo o único motivo disto a facilidade de serem identificados os termos enfáticos que demandarão mais atenção durante o processo de análise léxico-sintática a ser realizada posteriormente.

2Ts 2:13 - Ἡμεῖς δὲ ὀφείλομεν εὐχαριστεῖν τῷ Θεῷ πάντοτε περὶ ὑμῶν, ἀδελφοὶ ἠγαπημένοι ὑπὸ Κυρίου, ὅτι εἵλετο ὑμᾶς ὁ Θεὸς ἀπ᾽ ἀρχῆς εἰς σωτηρίαν ἐν ἁγιασμῷ πνεύμ ατος, καὶ πίστει ἀληθείας,
Tradução: Nós, mas, devemos (estamos em débito, dívida) agradecer (ser grato, sentir gratidão) ao Deus sempre (em todos os tempos) a respeito de (por causa de, concernente a) vós, irmãos amados, por (sob) do Senhor, porque elegeu vós o Deus desde (o) princípio para (a) salvação em (por) santificação (purificação) do Espírito, e fé da verdade,

2Ts 2:14 - εἰς ὃ ἐκάλεσεν ὑμᾶς διὰ τοῦ εὐαγγελίου ἡμῶν, εἰς περιποίησιν δόξης τοῦ Κυρίου ἡμῶν Ἰησοῦ Χριστοῦ.
Tradução: para dentro da qual (propósito) chamou vós através do evangelho nosso, para [a] possessão [aquisição, propriedade própria] da glória do Senhor nosso Jesus Cristo.

2Ts 2:15 - Ἄρα οὖν, ἀδελφοὶ, στήκετε, καὶ κρατεῖτε τὰς παραδόσεις ἃς ἐδιδάχθητε εἴτε διὰ λόγου, εἴτε δι᾽ ἐπιστολῆς ἡμῶν.
Tradução: Assim (portanto, por isso) por esta razão, irmãos, perseverai (permanecer firme, manter a posição) e mantende sob vosso poder (ter posse de, apoderar-se, segurar) as tradições que vos foram ensinadas quer por palavra, quer por epístola nossa.

2Ts 2:16 - Αὐτὸς δὲ ὁ Κύριος ἡμῶν Ἰησοῦς Χριστὸς, καὶ ὁ Θεὸς καὶ πατὴρ ἡμῶν ὁ ἀγαπήσας ἡμᾶς, καὶ δοὺς παράκλησιν αἰωνίαν καὶ ἐλπίδα ἀγαθὴν ἐν χάριτι,
Tradução: O próprio e (mas, além do mais) o Senhor nosso Jesus Cristo, e o Deus e pai nosso o qual (que) amou nos, e deu consolação eterna e esperança boa em (por) graça,

2Ts 2:17 - παρακαλέσαι ὑμῶν τὰς καρδίας, καὶ στηρίξαι ὑμᾶς ἐν παντὶ λόγῳ καὶ ἔργῳ ἀγαθῷ.
Tradução: console vossos os corações, e confirme vos em toda palavra e obra boa.

3.       Ordenação Lógica e Gramatical das Palavras

V. 13 - Mas nós devemos agradecer sempre a Deus por [por causa de] vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos elegeu desde [o] princípio para [a] salvação, em [pela] santificação [purificação] do Espírito e fé da [na] verdade.
V. 14 - Para [para dentro de] a qual vos chamou através do nosso evangelho, para possessão [aquisição] da glória do nosso Senhor Jesus Cristo.
V. 15 – Assim, por esta razão, irmãos, perseverai e mantende sob vosso poder as tradições que vos foram ensinadas, quer por palavra, quer por epístola nossa.
V. 16 – E [que] o próprio Jesus Cristo, nosso Senhor, e o nosso Deus e pai, o qual nos amou e em [pela] graça [nos] deu eterna consolação e boa esperança,
V. 17 – console os vossos corações e vos confirme [tornar estável, fixar] em toda palavra e boa obra.

4.       Comparação de Versões

Versículo
ARA
ACF
ARC
ARM
NVI
13
Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade,
Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade;
Mas devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade,
Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos, amados do Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade,
Nós, porém, devemos sempre agradecer a Deus por vocês, irmãos amados do Senhor, porque, desde o início, Deus os escolheu para serem salvos pelo Espírito que santifica e pela fé na verdade.
14
e para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
para o que, pelo nosso evangelho, vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
e para isso vos chamou pelo nosso evangelho, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
Para isso chamou vocês por meio do nosso Evangelho, a fim de que possuam a glória de nosso Senhor Jesus Cristo.
15
Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.
Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.
Então, irmãos, estai firmes e retende as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.
Assim, pois, irmãos, estai firmes e conservai as tradições que vos foram ensinadas, seja por palavra, seja por epístola nossa.
Por isso, irmãos, fiquem firmes e mantenham as tradições que lhes ensinamos de viva voz ou por meio da nossa carta.
16
E o próprio Senhor nosso, Jesus Cristo, e Deus nosso Pai que nos amou e pela graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança,
E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo e nosso Deus e Pai, que nos amou, e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança,
E o próprio nosso Senhor Jesus Cristo, e nosso Deus e Pai, que nos amou e em graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança,
E o próprio Senhor nosso, Jesus Cristo, e Deus nosso Pai que nos amou e pela graça nos deu uma eterna consolação e boa esperança,
O próprio nosso Senhor Jesus Cristo e Deus nosso Pai, que nos amou e por sua graça nos dá consolo eterno e esperança feliz,
17
console os vossos corações e os confirme em toda boa obra e palavra.
Console os vossos corações, e vos confirme em toda a boa palavra e obra.
console o vosso coração e vos conforte em toda boa palavra e obra.
console os vossos corações e os confirme em toda boa obra e palavra.
concedam-lhes ânimo ao coração e os fortaleçam para que façam e falem tudo o que é bom.


4º PASSO – ANÁLISE LITERÁRIA

O texto em estudo caracteriza-se como literatura epistolar. As evidências deste gênero são encontradas com grande frequência. Além da saudação inicial de caráter formal e costumeiro das epístolas paulinas, estão em evidência as exortações, expressões de ação de graças, admoestações, conteúdo doutrinário e um epílogo ou bênção pastoral.
Desta forma, a Segunda Epístola de Paulo aos Tessalonicenses tem todos os elementos que constituem a literatura epistolar. Paulo a introduz com sua identificação e uma saudação tradicional, usando os vocábulos “graça” e “paz” (1.1-2). Ele expressa uma ação de graças (1.3-9) e uma intercessão (1.11-12) e, em seguida, faz uma exposição doutrinária sobre a segunda vinda de Cristo (2.1-12), descrevendo alguns eventos escatológicos que antecedem a parousia (2.1-6) e a ordem no mundo durante a era escatológica (2.7-12). Em seguida, emite uma palavra de incentivo e perseverança (2.13-17), iniciada com ação de graças e encerrada com uma exortação e uma bênção pastoral. No capítulo seguinte, ele expressa alguns motivos de intercessão e emite uma palavra de esperança (3.1-5) e algumas exortações (3.6-16). Finalmente, encerra a epístola com uma saudação final e uma bênção (3.17-18).

5º PASSO – ANÁLISE DA REDAÇÃO

1.       Autoria

A Segunda Epístola aos Tessalonicenses é iniciada com a identificação da autoria atribuída a “Paulo, Silvano e Timóteo” que escrevem “à igreja dos tessalonicenses, em Deus nosso Pai e no Senhor Jesus Cristo” (1.1). Uma evidência interna de que Silvano e Timóteo podem ser considerados como coautores da referida epístola é o uso que o escritor faz da primeira pessoa no plural, conforme a expressão “sempre devemos dar graças a Deus” (1.3), que é repetida no parágrafo aqui analisado (2.13).
A expressão seguinte “De maneira que nós nos gloriamos de vós” (1.4) estabelece com clareza uma distinção clara entre quem escreve – “nós” – e os destinatários “vós”. O versículo 7 faz uma distinção entre “vós” (destinatários) e “conosco” (autores). O mesmo ocorre no versículo 11, onde o termo referente aos autores “pelo que também rogamos sempre por vós” estabelece tal distinção.
Uma mudança ocorre no versículo 5 do capítulo 2, onde se percebe que o escritor usa o verbo na primeira pessoa do singular – “Não vos lembrais de que eu vos dizia estas coisas quando ainda estava convosco?” Tal pessoa, evidentemente, deve ser o apóstolo Paulo.
No parágrafo em estudo, o escritor volta a usar o verbo na primeira pessoa do plural – “nós devemos” (2.13) e “vos chamou pelo nosso evangelho” (2.14), prosseguindo no capítulo 3 com o termo “orai por nós... para que sejamos livres dos homens perversos...”. Até o final da epístola, o escritor continua a usar o pronome “nós”. Assim sendo, é possível afirmar coerentemente que, embora Paulo seja o autor da epístola, ele considera Silvano e Timóteo como coparticipantes na redação da mesma.
 
2.       Fontes usadas pelo autor

Não há evidências, no texto em análise, de que o autor tenha usado fontes não canônicas. Não há também nenhuma citação direta do Antigo Testamento. No entanto, o contexto imediato anterior aponta um personagem histórico vindouro a quem Paulo se refere como “o homem do pecado” e também o designa como “iníquo”, “filho da perdição”. Este se levanta como oponente declarado a Deus e tudo que seja objeto de adoração. Este personagem será aniquilado pessoalmente pelo próprio Senhor Jesus com “o sopro da sua boca” (2.8), por ocasião de sua vinda em glória.
Possivelmente, Paulo se reporta ao mesmo personagem mencionado pelo profeta Daniel (Dn 7.24-26). O perfil deste personagem é idêntico ao da “besta” a que se refere João, em Ap 13.1-6. Se este é o caso, então Paulo esteve familiarizado com a literatura apocalíptica judaica (canônica) de onde ele obteve grande influência na construção de sua escatologia.
A razão de ter destacado este evento escatológico põe em evidência sua intenção de corrigir um erro de interpretação sobre a segunda vinda de Cristo que havia entre os crentes, os quais acreditavam que a vinda de Cristo seria iminente. Cristo não virá antes que tenha se manifestado no mundo esse “iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro da sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda” (2.8). Embora este trabalho não se proponha ao estudo das influências da literatura apocalíptica judaica na escatologia paulina, este é um fato evidente constatado na leitura de suas epístolas.
A razão pela qual Paulo escreveu suas exortações, as quais já foram detalhadas anteriormente, era a perseverança, a guarda das tradições, isto é, dos ensinamentos transmitidos por ele e seus parceiros, e a consolação divina como bênção confortadora aos crentes. Seu objetivo parece ser o de manter a igreja imune às heresias e incentiva-la a manter-se firme diante das adversidades que tivesse de sofrer durante o período que antecede a vinda de Cristo.

6º PASSO – ANÁLISE DAS FORMAS

O texto em pauta está destituído de paralelismos, estruturas simétricas, narrativas e quaisquer figuras de retórica (ou de linguagem) que mereça atenção especial. Apesar disso, a epístola, em seu bojo, apresenta conteúdo de natureza profética que termina numa ação de graças e exortações expressas pelo texto em pauta (2Ts 2.13-17), o qual, por si só nada tem de linguagem especial, além do que já foi exposto nos itens anteriores deste trabalho.

7º ANÁLISE DO CONTEÚDO

1.       Análise do Relacionamento Sintático – Diagramação do Texto

Versículo 13:
Mas

nós devemos agradecer                                                   
sempre a Deus
por [por causa de] vós, irmãos,
amados do Senhor,
 porque

            Deus vos elegeu
desde [o] princípio
para [a] salvação,
em santificação [purificação] do Espírito
e fé da [na] verdade.

Versículo 14:
Para [para dentro de] a qual vos chamou
através do nosso evangelho,

                  para possessão [aquisição] da glória do nosso Senhor Jesus Cristo.
 
Versículo 15:
Assim, por esta razão, irmãos,
perseverai
e mantende
sob vosso poder
as tradições que vos foram ensinadas,
quer por palavra,
quer por epístola nossa.

Versículo 16:
E [que]
o próprio Jesus Cristo,
nosso Senhor,
e
o nosso Deus e pai,
o qual nos amou

                        e em [pela] graça [nos] deu
eterna consolação
e boa esperança,

Versículo 17:

                       console os vossos corações
e vos confirme [tornar estável, fixar]
em toda palavra
e boa obra.

2.       Tema do Parágrafo: A ELEIÇÃO DOS TESSALONICENSES

3.       Esboço Analítico

Neste parágrafo, as palavras do apóstolo Paulo, com referência à eleição dos tessalonicenses, põem em evidência três fatos importantes:

3.1.     Motivos de gratidão a Deus (vv. 13-14).

Primeiro Motivo: os tessalonicenses foram escolhidos por Deus para a salvação.

Segundo Motivo: o chamado dos tessalonicenses à salvação ocorreu por meio do evangelho proclamado por Paulo (v. 14).

No que se refere à escolha (eleição) dos tessalonicenses para a salvação, o texto indica que:
a)       O sujeito da escolha é Deus – “Deus vos elegeu”;
b)       O tempo da escolha é “desde o princípio”;
c)       O propósito da escolha é “a salvação”;
d)       Os critérios da escolha são: “pela santificação do Espírito e fé na verdade”;
e)       O meio pelo qual os eleitos foram chamados é “através do nosso evangelho”;
f)        O destino dos escolhidos é “para possessão da glória de nosso Senhor Jesus Cristo”.


3.2.     Uma palavra de encorajamento (v. 15)

Paulo faz duas exortações aos tessalonicenses
a)      Exortação à perseverança – “Assim, por esta razão, irmãos, perseverai...”
b)    Exortação à preservação dos ensinamentos doutrinários – “e mantende sob vosso poder as tradições que vos foram ensinadas, quer por palavra, quer por epístola nossa”.

3.3.     Duas grandes bênçãos (vv. 16-17)

Que pela ação providencial conjunta de Cristo e de Deus Pai os tessalonicenses gozem:
a)       De conforto espiritual – “... console os vossos corações...”
b)       De segurança e firmeza – “... e vos confirme em toda palavra e boa obra”.


4.       Análise Lexical

Referência
Vocábulo Transcrito
Forma Lexical
Descrição Gramatical
Significado
2:13
Ἡμεῖς
Ἡμεῖς
Pronome pessoal
Pessoa: primeira singular
Caso: nominativo
Nós
(sujeito)
Paulo se refere a si mesmo e seus parceiros de ministério.
2:13
δὲ
δὲ
Conjunção adversativa ou aditiva
Mas
2:13
ὀφείλομεν
ὀφείλω
a forma prolongada é οφειλεω
Verbo, presente, Voz: ativa,
Modo: indicativo, Pessoa: primeira
Número: plural.
Lit. significa dever, estar em débito com.
No contexto, significa “devemos” como senso de obrigação.
2:13
εὐχαριστεῖν
εὐχαριστέω
Verbo
Tempo: presente, Voz: ativa
Modo: infinitivo
Lit. significa ser grato, sentir gratidão, dar graças, agradecer.
Paulo expressa um dever de agradecer.
2:13
τῷ
Artigo definido
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: masculino
O artigo especifica a pessoa de Deus
2:13
Θεῷ
θεός
Substantivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: masculino
Literalmente, designa qualquer divindade. No contexto, refere-se a Deus Pai
2:13
πάντοτε
πάντοτε
Advérbio de tempo
Em todos os tempos, sempre, constantemente.
O contexto expressa a ideia de eternidade.
2:13
περὶ
περί
Preposição
A respeito de, concernente a, por causa de, no interesse de, em torno de, junto a.
No contexto, é uma preposição usada para indicar a ideia de causa, motivo, razão pela qual...
2:13
ὑμῶν
ὑμῶν
Pronome Pessoal
Pessoa: segunda
Caso: genitivo
Número: plural
Vós
2:13
ἀδελφοὶ
ἀδελφός
Substantivo
Caso: vocativo
Número: plural
Gênero: masculino
Irmãos.
Expressão usada aqui para indicar a relação de fraternidade na igreja.

2:13
ἠγαπημένοι
ἀγαπάω
Verbo
Tempo: perfeito
Voz: ativa
Modo: particípio
Caso: nominativo
Gênero: masculino
Receber com alegria, acolher, gostar muito de, amar ternamente.
2:13
ὑπὸ
ὑπό
Preposição
Por, sob
2:13
Κυρίου
κύριος
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: masculino
Senhor, dono, proprietário.
O termo expressa um título de honra.
2:13
ὅτι
ὅτι
Conjunção ou partícula conjuntiva neutra
Que, porque, desde que.
No contexto é uma conjunção causal: porque.
2:13
εἵλετο
αἱρέομαι
Verbo
Tempo: segundo aoristo;
Voz: média
Modo: indicativo
Pessoa: terceira do singular
Tomar para si, eleger, escolher.
2:13
ὑμᾶς
ὑμᾶς
Pronome pessoal
Pessoa: segunda do plural
Vós
2:13
Artigo definido
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
O
2:13
Θεὸς
θεός
Substantivo
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Termo que designa um ser divino.
No contexto, significa a pessoa de Deus.
2:13
ἀπ᾽
ἀπό
Preposição
O contexto expressa a ideia de origem. Seu significado, portanto, é “desde”.
2:13
ἀρχῆς
ἀρχή
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: feminino
Começo, origem, princípio
2:13
εἰς
εἰς
Preposição
Em, até, para, dentro, em direção a, entre.
O contexto indica propósito, portanto, seu significado é “para”
2:13
σωτηρίαν
σωτηρία
Substantivo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: feminino
Livramento, salvação.
2:13
ἐν
ἔν
Preposição
Denota posição (lugar, tempo ou estado) ou instrumentalidade.
Neste versículo, significa “por”.
2:13
ἁγιασμῷ
ἁγιασμός
Substantivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: masculino
O contexto denota o sentido de “santificação”.
2:13
πνεύματος
πνεῦμα
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: neutro
Espírito (terceira pessoa da trindade).
2:13
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:13
πίστει
πίστις
Substantivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: feminino
Fé (denota convicção da verdade)
2:13
ἀληθείας
ἀλήθεια
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: feminino.
Verdade (tanto objetiva quanto subjetivamente)
2:14
εἰς
εἰς
Preposição
Em, até, para dentro, em direção a, entre.
O contexto denota “para”
2:14
Pronome relativo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: neutro
Este pronome está relacionado ao vocábulo salvação. Portanto, denota o sentido de “a qual” ou “que”.
2:14
ἐκάλεσεν
καλέω
Verbo
Tempo: aoristo
Voz: ativa
Modo: indicativo
Pessoa: terceira do singular
Chamar
(chamar pelo nome).
2:14
ὑμᾶς
ὑμᾶς
Pronome pessoal
Pessoa: segunda
Caso: acusativo
Número: plural
Vós
2:14
διὰ
διά
Preposição
Denota o canal de um ato. Significa “através de”.
2:14
τοῦ
τοῦ
Artigo definido
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: neutro
Não pode ser traduzido como “o, a, os, as”, mas somente como “este, esta, estes, estas”. O vocábulo está associado ao vocábulo seguinte, “evangelho”.
2:14
εὐαγγελίου
εὐαγγέλιον
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: neutro
O evangelho
(as boas novas de salvação através de Cristo)
2:14
ἡμῶν
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: primeira
Caso: genitivo
Número: plural
Nosso


2:14
εἰς
εἰς
Preposição
Em, até, para dentro, em direção a, entre.
O contexto denota “para”
2:14
περιποίησιν
περιποίησις
Substantivo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: feminino
Possessão, propriedade própria, aquisição.
Denota a ideia de ter tomado posse, ter conseguido, adquirido, ou alcançado.
2:14
δόξης
δόξα
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: feminino
No contexto deste versículo, o temo denota “esplendor” ou ainda, “magnificência”, “majestade”.
2:14
τοῦ
τοῦ
Artigo definido
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: neutro
Não pode ser traduzido como “o, a, os, as”, mas somente como “este, esta, estes, estas”. O vocábulo está associado ao vocábulo seguinte, “evangelho”.
2:14
Κυρίου
κύριος
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: masculino
Senhor, dono, proprietário.
O termo expressa um título de honra.
2:14
ἡμῶν
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: primeira
Caso: genitivo
Número: plural
Nosso
2:14
Ἰησοῦ
Ἰησοῦς
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: masculino
Jesus, o Filho de Deus
2:14
Χριστοῦ
Χριστός
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: masculino
Literalmente, significa “ungido”. O contexto denota a pessoa de Jesus, o Messias.
2:15
Ἄρα
ἄρα
Partícula disjuntiva
Portanto, assim, então, por isso.
O contexto denota o sentido de “assim”.
2:15
οὖν
οὖν
Partícula conjuntiva
A associação deste vocábulo com o anterior faz denotar o sentido de causa ou uma explicação: “pois”.
2:15
ἀδελφοὶ
ἀδελφός
Substantivo
Caso: vocativo
Número: plural
Gênero: masculino
Irmãos.
Expressão usada aqui para indicar a relação de fraternidade na igreja.
2:15
στήκετε
στήκω
Verbo
Tempo: presente
Voz: ativa
Modo: imperativo
Pessoa: segunda Número: plural
Permanecer firme, perseverar, persistir, manter a posição.

2:15
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:15
κρατεῖτε
κρατέω
Verbo
Tempo: presente
Voz: ativa
Modo: imperativo
Pessoa: segunda plural
Ser poderoso, ter poder, ter a posse de, segurar na mão, etc.
O contexto denota o sentido de “preservar em segurança, conservar”
2:15
τὰς
Artigo definido
Caso: acusativo
Número: plural
Gênero: feminino
Esta, aquela.
2:15
παραδόσεις
παράδοσις
Substantivo
Caso: acusativo
Número: plural
Gênero: feminino
Tradição pela instrução, a substância de um ensino, corpo de preceitos.
2:15
ἃς
ὅς
Pronome relativo
Caso: acusativo
Número: plural
Gênero: feminino
Quem, que, a qual
2:15
ἐδιδάχθητε
διδάσκω
Verbo
Tempo: aoristo
Voz: passiva
Modo: indicativo
Pessoa: segunda
Número: plural
Ensinar, ser um professor, dar instrução.
2:15
εἴτε
εἴτε
Conjunção
Se... se; ou... ou; quer... quer, etc.
2:15
διὰ
διά
Preposição
Denota o canal de um ato. Significa “através de”.
2:15
λόγου
λόγος
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: masculino
Ato de falar, palavra proferida a viva voz que expressa uma ideia, discurso, etc.
2:15
εἴτε
εἴτε
Conjunção
Se... se; ou... ou; quer... quer, etc.
2:15
δι᾽
διά
Preposição
Denota o canal de um ato. Significa “através de”.
2:15
ἐπιστολῆς
ἐπιστολή
Substantivo
Caso: genitivo
Número: singular
Gênero: feminino
Carta, epístola.
2:15
ἡμῶν
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: primeira Número: plural
Nós, nosso, nossa.
2:16
Αὐτὸς
αὐτός
Pronome pessoal
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Ele, ele mesmo, ele próprio, o mesmo.
2:16
δὲ
εἰ δε μή
Conjunção
Mas, além do mais, e, etc.
2:16
Artigo definido
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Este, aquele, o.
2:16
Κύριος
κύριος
Substantivo
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Senhor, aquele que a quem pessoas ou coisas pertencem, proprietário, título de honra que expressa respeito e reverência e com o qual servos tratavam os seus senhores.
2:16
ἡμῶν
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: primeira
Caso: genitivo
Número: plural
Nosso
2:16
Ἰησοῦς
Ἰησοῦς
Substantivo
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Jesus, o Filho de Deus
2:16
Χριστὸς
Χριστός
Substantivo
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Cristo, o Messias.
2:16
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:16
Artigo definido
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Este, aquele, o.
2:16
Θεὸς
θεός
Substantivo
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Deus, ser divino.
2:16
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:16
πατὴρ
πατήρ
Substantivo
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Genitor, pai, patriarca.
2:16
ἡμῶν
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: primeira
Caso: genitivo
Número: plural
Nosso
2:16
Artigo definido
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Este, aquele, o.
2:16
ἀγαπήσας
ἀγαπάω
Verbo
Tempo: aoristo
Voz: ativa
Modo: particípio
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Gostar muito de, amar ternamente.
2:16
ἡμᾶς
ἡμᾶς
Pronome pessoal
Pessoa: primeira
Caso: acusativo
Número: plural
Nós, nos, nosso, etc.
2:16
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:16
δοὺς
δίδωμι
Verbo
Tempo: segundo aoristo
Modo: particípio
Caso: nominativo
Número: singular
Gênero: masculino
Dar, doar, conceder.
2:16
παράκλησιν
παράκλησις
Substantivo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: feminino
Convocação, aproximação, súplica, exortação, admoestação, consolação, conforto, etc.
2:16
αἰωνίαν
αἰώνιος
Adjetivo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: feminino
Sem começo nem fim, eterna.
2:16
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:16
ἐλπίδα
ἐλπίς
Substantivo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: feminino
Expectativa, esperança.
2:16
ἀγαθὴν
ἀγαθός
Adjetivo
Caso: acusativo
Número: singular
Gênero: feminino
Boa, agradável, excelente.
2:16
ἐν
ἔν
Preposição
Em, por, com, etc.






2:16
χάριτι
χάρις
Substantivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: feminino
Graça, boa vontade, favor.
2:17
παρακαλέσαι
παρακαλέω
Verbo
Tempo: aoristo
Voz: ativa
Modo: optativo
Pessoa: terceira
Número: singular
Chamar para o lado, dirigir-se a, falar a, admoestar, exortar, rogar, solicitar, etc.
2:17
ὑμῶν
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: segunda
Caso: genitivo
Número: plural
Vossos, de vós.
2:17
τὰς
Artigo definido
Caso: acusativo
Número: plural
Gênero: feminino
Estes, os
2:17
καρδίας
καρδία
Substantivo
Caso: acusativo
Número: plural
Gênero: feminino
Coração, denota o centro de toda a vida física e espiritual.
2:17
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:17
στηρίξαι
στηρίζω
Verbo
Tempo: aoristo
Voz: ativa
Modo: optativo
Pessoa: terceira
Número: singular
Firmar, colocar firmemente, fixar, confirmar.
2:17
ὑμᾶς
ἡμῶν
Pronome pessoal
Pessoa: segunda
Caso: genitivo
Número: plural
Vossos, de vós.
2:17
ἐν
ἔν
Preposição
Denota posição (lugar, tempo ou estado) ou instrumentalidade.
Neste versículo, significa “por”.
2:17
παντὶ
πᾶς
Adjetivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: masculino
Cada, todo, algum, tudo, qualquer um, etc.
2:17
λόγῳ
λόγος
Substantivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: masculino
Palavra, discurso.
2:17
καὶ
καί
Conjunção aditiva
E, também, até mesmo, mas. A melhor opção aqui é “e”.
2:17
ἔργῳ
ἔργον
Substantivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: neutro
Negócio, serviço, obra, ato, ação, etc.
2:17
ἀγαθῷ
ἀγαθός
Adjetivo
Caso: dativo
Número: singular
Gênero: neutro
De boa constituição ou natureza, útil, saudável, agradável, bom, etc.








O esboço analítico elaborado anteriormente põe em relevo os seguintes tópicos que requerem uma análise lexical com o máximo de precisão: os motivos de gratidão a Deus citados pelo apóstolo Paulo, as exortações que ele fez aos destinatários e o pronunciamento de uma bênção, que ele expressou nesta porção de sua epístola (5º passo, item 2).
Paulo tinha dois motivos de gratidão a Deus que ele exprimiu nesta passagem. O primeiro consiste na eleição dos tessalonicenses para a salvação e o segundo é o chamado a esta salvação por meio do evangelho pregado por Paulo e seus parceiros. Para que se tenha um entendimento claro desta passagem, é necessário que se faça uma análise semântica das seguintes orações: (1) ὅτι εἵλετο ὑμᾶς ὁ Θεὸς ἀπ᾽ ἀρχῆς εἰς σωτηρίαν ἐν ἁγιασμῷ πνεύματος, καὶ πίστει ἀληθείας“Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (v. 13); (2) εἰς ὃ ἐκάλεσεν ὑμᾶς διὰ τοῦ εὐαγγελίου ἡμῶν“para a qual vos chamou pelo nosso evangelho” (v. 14); (3) εἰς περιποίησιν δόξης τοῦ Κυρίου“para a possessão [tomar posse, alcançar] da glória de nosso Senhor...” (v. 14). Os termos aqui (pessoalmente) destacados para esta análise são: εἵλετο, ἀπ᾽ ἀρχῆς, ἐν ἁγιασμῷ πνεύματος, καὶ πίστει ἀληθείας, εἰς ὃ ἐκάλεσεν ὑμᾶς, περιποίησιν δόξης τοῦ Κυρίου.

Análise da primeira oração
a)       εἵλετο (escolheu, elegeu) – é um verbo, segundo aoristo, voz média, modo indicativo, na terceira pessoa do singular. O sujeito do verbo é Θεὸς = Deus. Este verbo na voz média denota a ideia de que Deus é tanto o sujeito como o beneficiário da ação de escolher. A tradução mais precisa da sentença onde este vocábulo está inserido poderia ser: “Deus vos escolheu para si mesmo”.
b)       ἀπ᾽ ἀρχῆς (desde o princípio) – a preposição ἀπ᾽, ligada ao substantivo ἀρχῆς, que denota um ponto de origem ou começo, pressupõe um início no tempo e não no espaço. Portanto, o termo define o tempo (a ocasião) em que a ação da escolha ocorreu: “desde o princípio”. O termo ἀπ᾽ ἀρχῆς, no Novo Testamento aparece, aparece 19 vezes, sendo que quando se refere aos atos de Deus ou à pessoa do Filho de Deus, está relacionado à origem da criação e, com esse sentido, é usado 11 vezes (Mt 19.4, 8; 24.21; Mc 13.19; Jo 8.44; 2Ts 2.13; 2Pe 3.4; 1Jo 1.1; 2.13; 2.14; 3.8). Com base no axioma hermenêutico – a Bíblia é um livro divino deduzimos que, as Escrituras não contêm erro. Assim sendo, é coerente e seguro afirmar que, na interpretação de Paulo, o termo que ele usou – desde o princípio – denota a ideia de que os tessalonicenses foram eleitos por Deus para a salvação, quando, na eternidade, o plano da criação e da redenção foram definidos pelo próprio Deus.
c)       ἐν ἁγιασμῷ πνεύματος (pela santificação do Espírito) – o dativo aqui empregado por Paulo denota que a santificação foi o ato divino, realizado pelo Espírito, que deu concretude à escolha determinada por Deus, “desde o princípio”. O Espírito foi o agente divino pelo qual a eleição dos tessalonicenses foi levada a cabo.
d)       καὶ πίστει ἀληθείας (e fé da verdade) – o termo encontrado no dativo - πίστει – define a fé como meio ou critério adotado para a eleição dos tessalonicenses; enquanto que o vocábulo no genitivo - ἀληθείας – indica a verdade como origem (procedência) desta fé. Esta verdade proclamada – o evangelho – mencionado no versículo 14, não somente é razão do crer como também a fonte geradora da fé pela qual os tessalonicenses foram salvos.
e)       εἰς ὃ ἐκάλεσεν ὑμᾶς (para a qual vos chamou) – a preposição εἰς indica a finalidade do chamado. O pronome relativo é empregado em lugar de σωτηρίαν – salvação – que, no acusativo, designa o objeto definido como propósito para o qual ὑμᾶς – vós [vos] – os tessalonicenses foram chamados.
f)        εἰς περιποίησιν δόξης τοῦ Κυρίου (para possessão da glória do Senhor) – a preposição εἰς (para, em direção a) nomeia περιποίησιν (possessão), empregado no acusativo, como o ato de possuir um objeto a ser adquirido, sendo este objeto a ser possuído a δόξης τοῦ Κυρίου  - a glória do Senhor - que, por sua vez, estando no genitivo, reforça com ênfase a ideia de posse. O termo empregado no genitivo Κυρίουdo Senhor – identifica o legítimo possuidor da referida glória. Assim sendo, a glória da qual o Senhor é o legítimo possuidor constitui-se também numa possessão a ser adquirida pelos escolhidos ou, mais precisamente, no destino a ser alcançado pelos mesmos.

Com respeito ao significado dos termos até aqui analisados, pode-se concluir o seguinte: O sujeito da escolha é Deus – “Deus vos elegeu”; o tempo da escolha é “desde o princípio”; o motivo e/ou propósito divinos para a escolha é “a salvação”; os critérios da escolha são: “pela santificação do Espírito e fé na verdade”; o meio pelo qual os escolhidos foram chamados é “através do nosso evangelho”; o destino dos escolhidos é “a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”.
 
Análise da segunda oração

A análise que segue diz respeito à palavra de encorajamento que Paulo expressa no versículo 15. Trata-se de duas exortações. A primeira é um incentivo à perseverança: Ἄρα οὖν, ἀδελφοὶ, στήκετε“Assim, por esta razão, irmãos, perseverai...”. A segunda um incentivo à preservação dos ensinamentos doutrinários καὶ κρατεῖτε τὰς παραδόσεις ἃς ἐδιδάχθητε εἴτε διὰ λόγου, εἴτε δι᾽ ἐπιστολῆς ἡμῶν“e mantende sob vosso poder as tradições que vos foram ensinadas, quer por palavra, quer por epístola nossa”. Os vocábulos ou expressões em destaque para análise são: στήκετε, κρατεῖτε τὰς παραδόσεις, ἃς ἐδιδάχθητε,
a)       στήκετε (permanecei firmes) – verbo no tempo presente, voz ativa, modo imperativo usado na segunda pessoa do plural soa como uma exortação de extraordinária importância. O termo denota uma ação contínua que tenha duração perpétua, levando em conta o propósito para o qual os tessalonicenses foram escolhidos por Deus: o usufruto da glória de Cristo.
b)       κρατεῖτε τὰς παραδόσεις (mantende sob vosso poder as tradições) – O verbo κρατεῖτε, que tem o sentido de “agarrar algo ou alguém e mantê-lo sob domínio”, é empregado no tempo presente, voz ativa e modo imperativo. Isto, portanto, estabelece a relevância da exortação tanto de manter sob domínio algo como também de atribuir valor extraordinário à coisa a ser preservada em segurança, indicada pelas palavras τὰς παραδόσεις. Ambas são usadas no acusativo e significam um “corpo de preceitos recebidos como ensinamentos doutrinários”, ou ainda, “as tradições herdadas”.
c)       ἃς ἐδιδάχθητε (que vos foram ensinadas) – o verbo ἐδιδάχθητε está no aoristo, voz passiva,  modo indicativo, segunda pessoa do plural e designa a ação de ensinar, dar instrução. O pronome relativo ἃς (que) usado no plural substitui o vocábulo παραδόσεις que designa o conteúdo do que foi ensinado: as tradições, o corpo de preceitos que Paulo deixou como dádiva a ser preservada.

Análise da terceira oração

A terceira analise refere-se às bênçãos pronunciadas por Paulo sobre os destinatários: (a) conforto espiritual – “... console os vossos corações...”; (b) segurança e firmeza“... e vos confirme em toda palavra e boa obra” (v. 17). O versículo anterior (v. 16) refere-se ao Senhor Jesus Cristo e Deus Pai como aqueles dos quais Paulo espera tais bênçãos. As expressões consideradas relevantes são: καὶ ὁ Θεὸς καὶ πατὴρ ἡμῶν ὁ ἀγαπήσας ἡμᾶς“e o nosso Deus e Pai que vos amou”; καὶ δοὺς παράκλησιν αἰωνίαν καὶ ἐλπίδα ἀγαθὴν ἐν χάριτι“e em graça deu uma eterna consolação e boa esperança”; παρακαλέσαι ὑμῶν τὰς καρδίας“console os vossos corações”; καὶ στηρίξαι ὑμᾶς“e vos confirme”.
a)     ἀγαπήσας ἡμᾶς (nos havendo amado) – mesmo estando o verbo no aoristo e na voz ativa, o modo particípio denota uma qualidade de ação realizada pelo sujeito que é Deus, cujo agente da passiva é o pronome ἡμᾶς (nós, nos). Este pronome categoriza o verbo como um adjetivo que se encontra no caso nominativo. Então, a expressão “que nos amou” está adjetivada, significando “amados”. O conjunto da frase indica que tanto Paulo como os destinatários (os tessalonicenses) são qualificados como “amados por Deus Pai”.
b)    καὶ δοὺς παράκλησιν αἰωνίαν (e havendo dado eterna consolação) – esta é uma expressão idêntica à anterior. O verbo no particípio designa qualidade de ação e, semelhantemente, deve significar “consolados eternamente”.
c)      παρακαλέσαι ὑμῶν (vos console) – o verbo que antecede o pronome está no optativo. Este modo “se vê em saudações, orações, anelos, imprecações, condições incompletas, exclamações e deliberação indireta”.[9] Neste contexto, o verbo παρακαλέσαι expressa um anelo do autor da epístola: “console”.
d)     στηρίξαι ὑμᾶς (vos firme) – idêntico ao caso anterior (verbo no optativo), esta é uma expressão de um anelo de Paulo. O termo expressa a ideia de segurança, estabilidade. Paulo deseja que os tessalonicenses sejam fixados com firmeza por Deus Pai.


ESTÁGIO III - ATUALIZAÇÃO

7º PASSO – ANÁLISE TEOLÓGICA

No processo de redação desta epístola, Paulo desenvolveu o tema escatológico da segunda vinda de Cristo. O conteúdo profético, explanado no contexto imediato anterior do parágrafo em análise, evidencia não só o plano da redenção definido por Deus, mas principalmente o seu eterno desígnio que se cumpre em Cristo e por meio de Cristo.
O apóstolo insere o tema da eleição dos santos, descrevendo-a como uma ação divina que, segundo ele, ocorreu “desde o princípio” (2Ts 2.13), mas que visa o cumprimento do propósito de Deus na parousia vindoura. Na epístola anterior, ele já havia mencionado o assunto, como se pode constatar pela sentença por ele usada: “... conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição...” (1Ts 1.4).
Em sua cosmogonia, o termo princípio, usado na segunda epístola, é empregado para denotar o tempo da eleição dos santos, na eternidade, como sinônimo da expressão “antes da fundação do mundo”, citada por ele em Ef 1.4 – “... como nos elegeu nele antes da fundação do mundo”. Esta eleição tem um propósito escatológico, pois ele a associa ao evento da segunda vinda de Cristo.
Em sua epístola aos romanos, cujo tema central é a justificação pela fé, ele aglutina a eleição dos gentios à eleição de Israel, fazendo três citações explícitas do termo “eleição” (Rm 9.11; 11.5; 11.28). Em todos os casos, ele descreve tal eleição como um ato soberano de Deus que antecede os fatos da história.
Não somente Paulo, mas também Pedro abordou este tema. Em ambas as cartas por ele escritas, há referências a isto. Na primeira, ele descreve os destinatários de sua epístola como santos que foram “eleitos segundo a presciência de Deus Pai”. Ele corrobora com Paulo crendo que tal eleição ocorreu segundo o critério da “santificação do Espírito” (1Pe 1.2). Na sua segunda epístola, Pedro faz a mesma exortação de Paulo com respeito à eleição e vocação dos santos – Portanto, irmãos, procurai mais diligentemente fazer firme a vossa vocação e eleição...” (2Pe 1.10).
Eleição e vocação são temas que estão entrelaçados. Paulo compreende que aos pecadores que Deus escolheu de antemão Ele chamou (ainda chama) por meio do evangelho. Na sua Epístola aos Romanos, ele descreve a eleição para a salvação com o sentido de predestinação – Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou” (Rm 8.29-30).
Aqui, eleição e predestinação são sinônimos. Predestinação consiste na escolha antecipada de pessoas para um destino. No caso, o destino é a glória que Cristo teve com o Pai, antes que o mundo existisse (2.14; cf Jo 17.24). Isto parece ser exatamente o que Paulo expressa no texto desta pesquisa ao dizer – Para o que pelo nosso evangelho vos chamou, para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo (2Ts 2.14).
A vocação dos eleitos, ou de outra forma, o chamado dos escolhidos, é outra obra da iniciativa divina. Ainda que a escolha dos santos para a salvação tenha ocorrido “desde o princípio”, ou seja, “antes da fundação do mundo”, o chamado divino a esses escolhidos ocorre no tempo e na história. O meio utilizado por Deus não é outro senão a proclamação do evangelho, as boas novas da salvação – “para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho” (2.14).
Os Evangelhos Sinópticos, Mateus e Marcos, deixam pistas, através dos discursos de Jesus, de que a vocação (chamado) dos judeus eleitos estava sendo efetivada através da pregação do evangelho, pelo qual “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 22.14; 24.22; 24.24; 24.31; Mc 13.22). Paulo exprime a mesma ideia ao dizer que os tessalonicenses haviam sido “escolhidos desde o princípio para a salvação” (2Ts 2.13) e que tal escolha de fato só se tornou uma realidade por que Deus “para isso vos chamou pelo nosso evangelho” (2Ts 2.14).
O fato de terem sido eleitos, chamados e recolhidos na igreja exigia que os tessalonicenses adotassem duas atitudes de extrema relevância: perseverança na fé e preservação das doutrinas – “permanecei firmes e guardai as tradições” (2.15) – para que, com o risco de serem enganados por alguém, não incorressem no pecado da apostasia que designa a era que antecede a manifestação do “homem do pecado, o filho da perdição” (2.3).

8º PASSO – APLICAÇÃO

Algo em comum há entre a mensagem do apóstolo Paulo, embutida nesta passagem de 2Ts 2.13-17, e as concepções teológicas atuais, caracterizadas por divergências a respeito do plano e do desígnio divino para com os santos eleitos. De um modo geral, as diversas correntes teológicas, que proliferam nos movimentos carismáticos e pentecostais e que exercem grande influência nas igrejas reconhecidas como tradicionais, tendem a alimentar concepções distorcidas não só na mente dos incautos, doutrinariamente vulneráveis, mas também da maioria da liderança cristã.
A divergência teológica em questão situa-se no âmbito da doutrina da eleição. Desde a reforma protestante até hoje, a questão da eleição dos santos tem polarizado a teologia. Com a ascendência e a proliferação do arminianismo, a igreja tem se tornado vítima de um antagonismo teológico inconsistente.
A concepção arminiana propugna que a eleição dos santos é condicional, isto é, Deus elege certas pessoas à salvação, mas só quando satisfazem certas condições. O livre-arbítrio, que ainda prevalece no homem após a queda, é o fator determinante da resposta humana ao chamado divino através da proclamação do evangelho. Fé e arrependimento são as condições imprescindíveis à eleição para a salvação e ambas fluem exclusivamente da natureza humana, mesmo estando a pessoa em estado de aprisionamento e escravidão ao pecado.
Portanto, a eleição para os arminianos consiste no ato pelo qual Deus, pela sua presciência, decidiu salvar pessoas que haveriam de preencher os requisitos ou condições previamente estabelecidas sem, contudo, definir quem seriam essas pessoas nem quantas. Os arminianos concebem a ideia de que o livre-arbítrio jamais pode ser violado por Deus. Assim sendo, a salvação é vista como uma dádiva de Deus condicionada a uma escolha humana. As implicações heréticas desta corrente de pensamento são as seguintes:
a)       O homem (não Deus) dá a última palavra sobre a questão da salvação;
b)       O homem se torna senhor de seu próprio destino;
c)       A ação redentora divina é tolhida e sua eficácia torna-se incerta, pois tudo depende de uma decisão humana;
d)       A soberania de Deus torna-se restrita (ou anulada?) pela suposta ou pretensa autonomia humana.

Então, quais as implicações e/ou aplicações teológicas que a mensagem de Paulo apresenta no que se refere à eleição? Recapitulando o que foi elaborado no 6º passo, a análise lexical do texto, a verdade implícita e explícita, que o texto em pauta comunica, deve ser a seguinte:
a)   Deus (não o homem) é o único sujeito da escolha – “Deus vos escolheu para a salvação” (v. 13), portanto, a eleição é um ato exclusivo da soberana graça divina;
b)  O tempo em que a eleição (a escolha) ocorreu é a eternidade, isto é, “desde o princípio”, ou ainda, “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4);
c)     O propósito da escolha é “a salvação”;
d)    Os critérios da escolha são: “pela santificação do Espírito e fé na verdade”;
e)    O meio pelo qual os escolhidos foram chamados é “através do nosso evangelho”;
f)     O destino dos escolhidos é “a glória de nosso Senhor Jesus Cristo”.

A conclusão a que se pode chegar é que a igreja da era pós-apostólica, por não ter permanecido firme e preservado os ensinamentos dos apóstolos (2Ts 2.15), caiu numa apostasia avassaladora que ainda perdura, mesmo após a reforma protestante. O resgate da sã doutrina, priorizado pelos reformadores, é de fundamental importância para a igreja atual; e a razão principal disso é que os métodos de evangelização de massa têm arrastado para o seio da igreja multidões de inconversos responsáveis pelos maiores danos causados à igreja atual.

REFERÊNCIAS
CHAMPLIN, R. N. O novo testamento interpretado versículo por versículo. Vol. 3., p. 164.
DAVIS, John D. Dicionário da bíblia. 10 ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1984, p. 591.
DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da bíblia. Vol. 3. São Paulo: Vida Nova, 1966, p. 1585.
GALACHE, C. Gabriel. Tradução Ecumênica da Bíblia. São Paulo: Edições Loyola, 1994, p. 2301.
SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Bíblia de estudo MacArthur (ARA), 2011, p. 1636.
SBTB – Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil: artigo postado sob título A Necessidade de Traduções Dignas de Confiança. Acesso: http://www.biblias.com.br/traducoes.asp, 22/12/2014 às 11:54.
STERGIOU, Costas. In the beginning was theWord bible software. Versão 4.0, 2012. Home page para acesso: http://www.theword.net.
TAYLOR, W. C. Introdução ao estudo do novo testamento grego. Rio de Janeiro: JUERP, 1977, p. 304.
WILLIAMS, Derek. Dicionário bíblico vida nova. São Paulo: Vida Nova, 2000, p. 362.



[1] O autor é Bacharel em Teologia e pós-graduado (lato sensu) em Pregação Expositiva pela FATEBE - Faculdade Teológica Batista Equatorial, Belém-PA; especializado em Teologia pela Faculdade Sul Americana, Londrina-PR; graduado em Pedagogia pela Universidade Vale do Acaraú. Atualmente é docente do Seminário Teológico Batista em São Luís, nas disciplinas de Teologia Sistemática e Exegese Bíblica (AT e NT).
[2]h h 2.13-14 Deus vos escolheu: Cf. Rm 8.29-30; Ef 1.4-5,11.
[3]Sociedade Bíblica do Brasil. (1999; 2005). Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada (2Ts 2:13). Sociedade Bíblica do Brasil.
[4]Sociedade Bíblica do Brasil. (1999; 2005). Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada (2Ts 2:14). Sociedade Bíblica do Brasil.
[5] DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da bíblia. Vol. 3. São Paulo: Vida Nova, 1966, p. 1585.
[6] CHAMPLIN, R. N. O novo testamento interpretado versículo por versículo. Vol. 3., p. 164.
[7] SOCIEDADE BÍBLICA DO BRASIL. Bíblia de estudo MacArthur (ARA), 2011, p. 1636.
[8] Artigo postado pela SBTB – Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil sob título A Necessidade de Traduções Dignas de Confiança. Acesso: http://www.biblias.com.br/traducoes.asp, 12/12/2014 às 11:54.
[9] TAYLOR, W. C. Introdução ao estudo do novo testamento grego. Rio de Janeiro: JUERP, 1977, p. 304.