21 de outubro de 2013

A VIDA DE JESUS - ESTUDO II - SEU ESTILO DE VIDA



Texto: Lc 2.22-52

Pr. José Vidigal Queirós

Introdução
No estudo anterior abordamos o tema relacionado ao contexto cultural e religioso em que Jesus teve sua formação humana: a Galileia. Por ter sido judeu, foi criado segundo os rigorosos padrões da Lei de Moisés. A sinagoga foi o lugar onde aprendeu as Escrituras, demonstrando interesse pelas coisas sagradas desde sua adolescência. Ao atingir a maturidade, ele já tinha adquirido consciência própria de sua identidade, de sua vocação e dos princípios que deveria adotar em seu estilo de vida. A respeito destes princípios é que o presente estudo se propõe a tratar. Jesus definiu seu estilo de vida com base nos seguintes princípios.

1. A consciência de sua filiação a Deus definiu seu padrão moral e espiritual

A primeira referência bíblica a respeito da consciência que Jesus tinha de sua filiação a Deus está registrada no Evangelho de Lucas. Já nos primórdios de sua adolescência (12 anos), ele se dedicava ao estudo das Escrituras – “Três dias depois, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os” (Lc 2.46). Ao ser repreendido pelos pais que o procuraram durante três dias por ter desaparecido de sua companhia, ele replicou: “Por que me procuráveis? Não sabíeis que me cumpria estar na casa de meu Pai?” (Lc 2.49).
A consciência de que era filho de Deus o levou certamente a compreender o grau de responsabilidade que seus pais terrenos tinham para com ele. Portanto, ele se submeteu à disciplina, sendo “submisso” a eles (Lc 2.51). Seu progresso moral e espiritual tornou-se tão notório que Lucas o descreveu, declarando que “crescia Jesus em sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52).
Atingindo a maturidade, Jesus tornou-se o “varão perfeito” e padrão para todos os filhos de Deus (Ef 4.13). A integridade de caráter que Jesus atingiu foi tal que ele chegou a desafiar seus oponentes a fazer-lhe qualquer denúncia de pecado: “Quem dentre vós me convence de pecado?” (Jo 8.46). O autor de Hebreus afirma que ele alcançou a plenitude da perfeição (moral e espiritual), quando “nos dias da sua carne, [...] por causa de sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” (Hb 5.7-9). O sofrimento pelo qual passou, durante toda a sua vida, foi o recurso pedagógico divino para modelar o seu caráter, levando-o à perfeição espiritual e moral. Portanto, Jesus definiu seu padrão de conduta moral e espiritual com base na sua consciência de que era o Filho de Deus.

2. A consciência de que era humano fez que ele reconhecesse seus limites

O apóstolo Paulo descreve as condições em que Jesus esteve submetido aos limites de sua natureza humana, ao afirmar que ele “subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz” (Fp 2.6-8).
Jesus estava ciente de que só havia uma possibilidade de executar os desígnios de Deus: uma rigorosa obediência ao Pai. Em todas as situações de sua vida e ministério, ele dependeu do Espírito Santo que lhe deu o poder de executar sua missão no mundo. Foi por isso que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele” (At 10.38).
Durante o período de sua encarnação, a natureza humana de Jesus não lhe permitiu que, mesmo sendo divino, exercesse alguns dos atributos que possuía antes de sua encarnação. Em primeiro lugar, em nenhum momento de sua vida terrena, ele pôde estar simultaneamente em dois ou mais lugares geográficos, ao mesmo tempo, porque estava confinado ao corpo físico. Desta forma, não pode exercer o atributo da onipresença.
Em segundo lugar, ao confessar aos seus discípulos que não sabia o dia em que ocorrerá o juízo final - “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai” (Mt 24.36) – ele admitiu sua limitação de conhecimento; e, portanto, não pôde manifestar o atributo da onisciência.
Finalmente, tendo consciência de que o poder para expulsar demônios vinha do Espírito Santo com o qual havia sido ungido – “Se, porém, eu expulso demônios pelo Espírito de Deus, certamente é chegado o reino de Deus sobre vós” (Mt 12.28) – não pôde exercer o atributo da onipotência. A maior prova de suas limitações está no fato de que Jesus dependeu da oração para se comunicar com o Pai e ouvir a sua voz. Assim sendo, seu estilo de vida foi marcado pela obediência total a Deus Pai. Por reconhecer que era humano e limitado, submeteu sua vida ao Pai Celeste para superar os seus limites.

3. A consciência de que era o Messias definiu as estratégias de sua missão

Jesus deu início ao exercício de seu papel como o Messias, testificando de sua vocação divina na sinagoga de Nazaré ao ler uma profecia de Isaías e declarar que esta teve cumprimento naquela ocasião (Lc 4.14-21). Firmado nesta passagem bíblica (Is 61.1-2), Jesus definiu as áreas de atuação de seu ministério terreno para os três anos que dispunha até à sua morte: (a) proclamação das boas novas do evangelho; (b) libertação espiritual dos cativos e oprimidos pelo diabo; (c) inauguração da era do perdão – “dia aceitável do Senhor”.
Ainda com base nesta mesma profecia de Isaías, Jesus definiu três estratégias para o cumprimento de sua missão, às quais dedicou toda a sua vida. Mateus as descreveu da seguinte forma: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 9.35). As estratégias adotadas por Jesus foram as seguintes: (a) evangelização “pregando o evangelho do reino”; (b) discipulado“ensinando nas sinagogas”; (c) serviço“curando toda sorte de doenças e enfermidades”. Tendo consciência de que era o Messias, ele admitiu que seu tempo de vida deveria ser utilizado de forma eficaz. Por esta razão, ele dedicou toda a sua vida na aplicação destas três estratégias de ação missionária.

4. A consciência de que ele era o Salvador definiu o propósito de sua vida

   Os evangelhos registram 31 declarações de Jesus em seus discursos, onde ele se referiu ao Pai como “aquele que me enviou”. Em sua oração a favor dos seus discípulos, dando por encerrada sua missão no mundo, Jesus fez a seguinte declaração a Deus: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18). O mundo foi o destino ao qual o Pai enviou o Filho. O propósito deste envio foi descrito por João como sendo a salvação – “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele” (Jo 3.16-17).
Jesus teve consciência disso e viveu em função disso. A característica principal de sua vida foi o seu ser para a morte. O propósito de dar a sua vida em resgate dos pecadores foi explicitamente declarado por ele mesmo nos seguintes termos: “... como o Filho do Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28; Mc 10.45).
Desde o início do seu ministério, ele já estava ciente de que a “cruz” seria seu destino e foi por esta razão que exigiu dos seus discípulos a renúncia a si mesmos e a predisposição ao sacrifício como requisitos para que se tornassem seus seguidores fiéis – “tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16.24; Mc 8.34).
Na véspera de sua morte, firmou a “nova e eterna aliança”, em que ratificou o compromisso de dar a sua vida em resgate dos pecadores – “A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados” (Mt 26.27-28). Foi sua consciência de que era o salvador que fez ele definir seu propósito de vida: resgatar o mundo do poder do pecado e da maldição da morte.

Conclusão
Por toda a sua vida, Jesus abriu mão de viver para si mesmo. Nada ele fez para proveito próprio. Sua vida foi orientada por quatro princípios que ele mesmo definiu. A consciência de que era o Filho de Deus definiu seu padrão de conduta moral e espiritual. A consciência de que era humano fez que ele aceitasse os seus limites. A consciência de que era o Messias definiu as estratégias de sua missão. Finalmente, a consciência de que era o salvador definiu o propósito de sua vida.



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