Pr. José Vidigal Queirós
Introdução
A vida de uma pessoa só tem real significado e importância quando é
orientada por objetivos previamente definidos. As grandes realizações nascem de
homens que têm grandes ideias e grandes ideais. Assim foi com Jesus que, antes
de começar seu ministério, tinha consciência de quais os fins para os quais
Deus, o Pai, o enviou ao mundo. Jesus viveu e morreu em função do cumprimento
do eterno desígnio de Deus. Em busca da concretização do desígnio divino, Jesus
definiu três objetivos fundamentais em função dos quais haveria de viver e
morrer: a restauração espiritual de Israel, o estabelecimento do reino de Deus
no mundo e o preparo de discípulos para o exercício da missão divina no mundo.
O primeiro referencial de Jesus para o alcance do seu grande objetivo
de vida foi a busca dos remanescentes do povo de Deus, uma vez que a sua
geração contemporânea “adúltera e pecadora” (Mc 8.38) já atingira o limite da
tolerância divina – “Ó geração incrédula! até quando estarei convosco? até quando vos hei de
suportar?...” (Mc 9.19), estava perdida e destinada ao juízo de Deus
– “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida!
Porque, se em Tiro e em Sidom se tivessem operado os milagres que em vós se
fizeram, há muito que elas se teriam arrependido com pano de saco e cinza. E,
contudo, vos digo: no Dia do Juízo, haverá menos rigor para Tiro e Sidom do que
para vós outras. Tu, Cafarnaum, elevar-te-ás, porventura, até ao céu? Descerás
até ao inferno; porque, se em Sodoma se tivessem operado os milagres que em ti
se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que
menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para
contigo” (Mt 11.20-24).
Mesmo neste estado grave em que o povo de Deus se encontrava, Jesus
acreditava que havia um remanescente que deveria ser trazida ao reino. Com este
intuito ele confessou: “Não fui enviado
senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 15.24). Esta foi a razão
pela qual, ao orientar os seus discípulos sobre o trabalho missionário inicial,
Jesus ordenou-lhes, dizendo: “...
procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10.6).
A dedicação de sua vida e ministério à restauração de Israel foi motivada
pelo intenso amor pelo seu povo. Ao avistar as multidões de pobres e famintos
que o seguiam, “compadeceu-se delas,
porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mt 9.6). Em seu ministério na Galileia, vendo
as multidões de coxos, aleijados, cegos, mudos e muitos outros enfermos, ele os
curou e, dirigindo-se aos seus discípulos, declarou: “Tenho compaixão desta gente, porque há três dias que permanece comigo
e não tem o que comer; e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça
pelo caminho” (Mt 15.32).
O chamado dos remanescentes ocorria pela pregação do “evangelho do
reino” (Mt 4.23). Ele sabia de antemão que nem todos os chamados haveriam de
ser escolhidos para o reino, pois muitos deles não cumpriam as exigências que
ele impunha: fé e arrependimento. Por isso, ele declarou: “... muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt 20.16; 22.14).
Durante toda a sua vida, Jesus se dedicou à colheita dos remanescentes de
Israel para que, através deles, constituísse sua igreja, a qual haveria de se
tornar a agência de promoção do reino de Deus no mundo.
2. O estabelecimento do reino de Deus a partir
de Israel
Depois que João foi preso, “veio Jesus para a Galileia, pregando o
evangelho do reino de Deus e dizendo: O tempo está cumprido, o reino de Deus
está próximo, arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1.14-15).
Sua pregação
do “Evangelho do Reino ”
era acompanhada de sinais
que manifestavam o poder
ativo e redentor
de Deus no estabelecimento
do seu reino
no mundo . Os milagres ,
principalmente os exorcismos ,
comprovavam que o reino
estava presente no mundo
pela atuação
do Messias (Mt. 12:22-29). Satanás, que mantinha cativos
os homens e tornara-se “o príncipe deste mundo ”,
estava agora sob
o domínio do Messias
e seu “reino ”
estava sendo saqueado (Mt. 12:28-29).
Durante a tentação
no deserto , Satanás havia oferecido “a glória destes reinos ”
a Jesus, mas na condição
de que a ele
Jesus se sujeitasse (Lc. 4:5-8). Satanás estava disposto
a “negociar ” sua
“autoridade ” com Jesus, a quem ele encarava como um invasor celestial, antes
que seu
reino fosse totalmente
saqueado.
Jesus tinha consciência de que sua vinda ao mundo traria consequentemente a ruína definitiva
de Satanás, removendo-o do comando dos reinos das nações, ao declarar: “Agora é o juízo deste mundo; agora será
expulso o príncipe deste mundo” (Jo 12.31). Ao ser acusado pelos judeus e interrogado
por Pilatos sobre sua pretensão de estabelecer um reino no mundo, Jesus
respondeu: “Eu para isso nasci, e para isso
vim ao mundo” (Jo 18.37). Mesmo assim, ele não pretendia que seu
reino fosse uma monarquia política. Esta foi a razão pela qual Jesus se
defendeu da acusação nos seguintes termos: “O meu reino não é
deste mundo ; se o meu
reino fosse deste mundo ,
pelejariam os meus servos ,
para que eu não fosse entregue aos judeus ;
entretanto o meu
reino não
é daqui” (Jo 18.36).
Não há nenhuma
dúvida de que Jesus viveu e morreu focado no reino de Deus.
3. O preparo de seus discípulos para a missão
no mundo
Jesus sempre esteve ciente de que não devia fazer tudo sozinho;
principalmente, no que diz respeito ao futuro de sua nação. Portanto, desde o
início de seu ministério cuidou em fazer uma seleção de discípulos a quem
haveria de treinar para a missão que, posteriormente, haveria de se realizar
até os confins da terra.
Seus primeiros discípulos eram galileus – “Caminhando junto ao mar da Galileia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam
a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu
vos farei pescadores de homens. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de
Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. E logo
os chamou. Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram
após Jesus” (Mc 1.16-17).
Transformar pescadores de peixes em “pescadores de homens” é uma tarefa
que demandaria tempo, esforço, conhecimento e experiência. Os anos que se seguiram (três anos) foi o tempo que Jesus gastou
para treinar os seus discípulos. Ainda no primeiro ano de ministério, Jesus
completou a seleção de doze dentre os seus primeiros seguidores, formando seis
duplas: “Simão, por sobrenome Pedro, e
André, seu irmão; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão; Filipe e
Bartolomeu; Tomé e Mateus, o publicano; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão,
o Zelote, e Judas Iscariotes, que foi quem o traiu” (Mt 10.2-4).
Tanto Jesus como os seus discípulos empreenderam várias viagens
missionárias durante o processo de treinamento. Era necessário que, antes de
entregar a eles a responsabilidade de “fazer discípulos de todas as nações”,
seus discípulos tivessem a experiência não só da proclamação do evangelho, mas
também do embate contra os poderes do mal. Por isso, “deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e
para curar toda sorte de doenças e enfermidades” (Mt 10.1). Então, os
enviou dando as seguintes instruções: “Não
tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos; mas, de
preferência, procurai as ovelhas perdidas da casa de Israel; e, à medida que
seguirdes, pregai que está próximo o reino dos céus. Curai enfermos,
ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios...” (Mt 10.5-8).
Durante os três anos que durou o seu ministério, Jesus se dedicou
prioritariamente ao preparo dos seus discípulos e, no encerramento, orou por
eles declarando a Deus: “Eu te
glorifiquei na terra, consumando a obra que me confiaste para fazer” (Jo
17.4); e enfatizou: “Assim como tu me
enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18).
Conclusão
Tudo que Jesus propunha a fazer de sua vida ele realizou. Seus
objetivos foram todos alcançados: conquistou remanescentes dentre os seus
patrícios, implantou o reino de Deus e preparou discípulos a quem entregou a
missão de promover o seu reino no mundo.
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