Pr. José
Vidigal Queirós
Introdução
No exercício do ministério
pastoral, algumas experiências dolorosas me fizeram aprender uma lição de vida:
quando nos lembramos do que devemos esquecer, esquecemos do que devemos
lembrar. O momento do infortúnio apaga temporariamente a memória dos dias
felizes, obscurecendo a visão e deprimindo a alma. O pior de todos os momentos da
minha vida foi quando eu e minha esposa contemplamos o corpo de nosso filho
mais novo (um pouco menos de três anos de idade) sendo enterrado numa cova de
cemitério. Abraçados um ao outro, no silêncio absoluto de nossa mais dolorosa contemplação,
não tivemos outro consolo além das gotas de lágrimas que rolaram suavemente por
nossas faces. Naquele momento, não víamos nada além de uma cova; esquecemos de
olhar para o céu. Em nossa volta, não havia nada mais além de pessoas que
conversavam baixinho e das catacumbas que evocavam o sentimento de pesar.
Abraçados, voltamos pra casa. A vida continuava e meu ministério também.
Os dias, as semanas e os meses se
passaram e a lúgubre lembrança fazia retornar nossas lágrimas de dor. Até que,
em um de meus momentos de privacidade com Deus, ao ler o capítulo 3 das
Lamentações de Jeremias, esbarrei no versículo 21. Em suas Lamentações, o
profeta descreve o quadro lúgubre do sofrimento do seu povo no cativeiro
babilônico. Depois de ter assistido o massacre de sua nação e ver os
sobreviventes sendo deportados como escravos para a Babilônia, Jeremias não
tinha nada diante de seus olhos além do cenário da tragédia. Por esta razão,
consternado com a visão da tragédia, ele escreveu suas Lamentações.
Quando li o versículo 21, senti-me
solidário ao profeta e aprendi com ele uma lição de vida que me fez erguer os
olhos ao céu em atitude de gratidão a Deus: “Quero
trazer à memória o que me pode dar esperança”. Dei um brado de alegria e,
pela fé, contemplei o horizonte luminoso que Deus reservava para mim. Estas
palavras de Jeremias trouxeram-me uma lição que compartilho agora com você: as lembranças do que Deus é e fez em nossa
vida podem mudar o nosso futuro. Tenho plena convicção de que, mesmo na
pior das crises, há lembranças que podem renovar a nossa esperança.
1. A
lembrança de que Deus é imutável e seus atributos são eternos
A
imutabilidade de Deus é a garantia que temos de que ele é confiável e nunca nos
deixará à deriva. Tudo que ele foi ainda é; e haverá de ser por toda a
eternidade. A lembrança de que Deus é imutável e seus atributos são eternos
alimenta a nossa fé, renova a nossa esperança e nos move à perseverança. “Porque eu, o SENHOR, não mudo; por isso,
vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Ml 3.6).
Mas, do que
Deus está falando? A resposta é simples: de sua misericórdia. A bondade de Deus
é infinita. Ele age em função de sua bondade, seu amor e sua misericórdia.
Jeremias lembrou disso e sua esperança foi renovada. Ele exalta nosso Criador
declarando que “As misericórdias do
SENHOR são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não
têm fim” (Lm 3.22).
Jamais nos
esqueçamos de que os atributos de Deus são eternos. Portanto, quando estivermos
vivendo os “dias maus”, lembremos de que “Toda
boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em
quem não pode existir variação ou sombra de mudança” (Tg 1.17). Lembremos
de tudo isso e, com toda certeza, nossa esperança será renovada.
2. A
lembrança de que Deus é fiel e cumprirá suas promessas
Provações (ou tentações) são
experiências por meio das quais nossa fé e obediência a Deus são testadas. Deus
as permite para elevar nosso grau de resistência ao mal. Deus conhece nossos
limites; eis porque Paulo escreveu em 1Co 10.13: “Não veio sobre vós tentação, senão humana; mas
fiel é Deus, que não vos deixará tentar acima do que podeis, antes com a
tentação dará também o escape, para que a possais suportar”. O sofrimento é o “mal”
necessário usado como recurso pedagógico divino para a lapidação do nosso
caráter e nosso crescimento espiritual.
Desta
forma, o foco de nossas atenções deverá estar na fidelidade de Deus. Ele
honrará a sua palavra ao cumprir as suas promessas: “Deus não é homem, para que minta; nem filho de homem, para que se
arrependa. Porventura, tendo ele prometido, não o fará? Ou, tendo falado, não o
cumprirá?” (Nm 23.19). Não importa a intensidade da crise que você
atravessa ou da dor que você sente; jamais questione o amor e a bondade de
Deus. Portanto, “Guardemos firme a
confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” (Hb
10.23).
3. A
lembrança de que Deus nos ama e jamais se esquecerá de nós
Sempre que atravessamos “o vale
da sombra da morte”, tememos pelo que possa acontecer conosco. Deus não impede
que venham as adversidades em nossa vida, mas garante nossa segurança quando
passamos por elas. Como disse a Israel, ele também o confirma a nós: “Mas agora, assim diz o Senhor que
te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi;
chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando pelos rios, eles
não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama
arderá em ti. Porque eu sou o
Senhor teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; [...] Visto que foste precioso aos meus olhos, e és digno de honra e eu te
amo, [...] Não temas, pois, porque eu sou contigo...”
(Is 43.1-5).
Esta passagem bíblica nos ensina
claramente que, quando Deus nos diz: “Não temas”, ele tem cinco motivos para
fazer tal declaração: 1) “eu te remi” (v. 1); 2) “tu és meu” (v.1); 3) “és
precioso aos meus olhos” (v. 4); 4) “eu te amo” (v. 4); 5) “eu sou contigo” (v.
5).
Nada é mais intenso e maior em dimensão do que o amor de
Deus por nós. O seu amor supera o amor de uma mãe pelo bebê que ainda amamenta:
““Acaso, pode uma mulher esquecer-se do
filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas
ainda que esta viesse a se esquecer dele, eu, todavia, não me esquecerei de ti”
(Is 49.15).
Conclusão
Quero dar ênfase ao que disse
acima: as lembranças do que Deus é e fez
em nossa vida podem mudar o nosso futuro. Esta é a lição que aprendi com o
profeta Jeremias. Nunca mais esqueci Lm 3.21: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. Lembremo-nos
do que Deus tem sido e tem feito ao longo de nossa vida. Lembremo-nos de que
Deus é imutável e seus atributos são eternos; lembremo-nos de que Deus é fiel e
cumprirá as suas promessas; lembremo-nos de que Deus nos ama e jamais se
esquecerá de nós. Marchemos rumo ao futuro movidos pelas lembranças que podem
renovar a nossa esperança.
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