21 de outubro de 2013

A VIDA DE JESUS - ESTUDO 1 - SUA ORIGEM E AMBIENTE DE VIDA



Lucas 1.26-38


 Pr. José Vidigal Queirós



Introdução

A pessoa de Jesus é revelada pelas Escrituras sob dois aspectos: um biográfico, que trata de sua origem histórica e do papel que exerceu como cidadão israelita; e outro teológico, que o manifesta como o Messias enviado por Deus para estabelecer no mundo o seu reino eterno e trazer salvação aos pecadores. O presente estudo consiste na exposição do conteúdo bíblico que ressalta a origem histórica e o contexto cultural onde Jesus cresceu e foi educado. Este estudo está fundamentado na premissa de que a formação humana de Jesus foi condicionada pelo ambiente cultural em que ele viveu. Há quatro fatores que comprovam este fato.


1.       Um judeu de linhagem real – descendente de Davi

O Novo Testamento insere Jesus na linhagem histórica dos descendentes do rei Davi. Lucas registra a declaração do Arcanjo Gabriel, em sua mensagem a Maria, que “o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai” (Lc 1.32). Esta revelação anuncia o cumprimento das profecias do Antigo Testamento.
Em sua aliança com Davi, Deus lhe fez uma promessa nos seguintes termos: Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então farei levantar depois de ti um dentre a tua descendência, que sair das tuas entranhas, e estabelecerei o seu reino [...] eu estabelecerei para sempre o seu trono” (2Sm 7.12-13).

A respeito desta promessa os profetas anunciaram a vinda de um Messias (Ungido) para o estabelecimento do reino eterno de Deus no mundo (Is 9.6-7; Jr 33.15-17; Dn 2.44; 7.14). Na concepção dos judeus, o Messias haveria de restaurar a dinastia de Davi, tornando-se um monarca poderoso capaz de libertar a nação israelita do domínio dos povos estrangeiros. Mas o discurso de Jesus contradizia tal concepção, uma vez que a ideia de uma monarquia terrena era diabólica – “Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua” (Lc 4.5-8).
O reino não haveria de ser “deste mundo” (Jo 18.36), mas um reino espiritual – “... o reino de Deus está dentro de vós” (Lc 17.21), a forma pela qual, não somente os judeus, mas o mundo inteiro haveria de alcançar a salvação. Apesar disso, o povo em geral que o reconheceu como o Messias acreditava ser ele o “Filho de Davi” que chegara para reinar em Israel – E as multidões, tanto as que o precediam como as que o seguiam, clamavam, dizendo: Hosana ao Filho de Davi! bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas! (Mt 21.9).


2. Membro de uma família muito conhecida – “filho do Carpinteiro”

Duas afirmações biográficas de grande destaque são feitas no Novo Testamento a respeito da família de Jesus. Mateus dá indicações de que a família de Jesus era muito conhecida, sendo provavelmente um referencial para os habitantes Galileia – “Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas?” (Mt 13.55). Mateus faz dois destaques. O primeiro é que ele é filho do “carpinteiro” (em grego teknon = artífice em madeira, marceneiro, construtor, construtor de navio – Biblioteca Digital da Bíblia). O segundo é que seus familiares eram conhecidos por nome. Marcos faz os mesmos destaques, acrescentando o detalhe de que Jesus também era “carpinteiro” (Mc 6.3).

Devido ao fato da família de Jesus ter fixado residência em Nazaré, no sul da Galileia (Mt 2.23), é provável que ele, seu pai e irmãos, tenham se dedicado à fabricação e reparo de móveis, estrutura de telhados para residências e à manufatura e comércio de produtos artesanais de madeira. Provavelmente, teria sido esta a razão pela qual sua família era muito conhecida e tenha se tornado um referencial para todos os galileus.


3. Um habitante da Galileia culturalmente discriminado

A Galileia foi um território israelita doado por Salomão a Hiram, rei da Síria (1Rs 9.11). Por esta razão, tornou-se uma colônia de gentios. Na Galileia é que se achavam as cidades que foram designadas por Josué como as cidades de refúgio dos homicidas (Js 21.32). Portanto, ser galileu era motivo de preconceito. Os galileus eram, na opinião dos judeus, uma gentalha (ralé). Este fato fez uma grande diferença na vida de Jesus. Por ser galileu, os demais israelitas, principalmente os da Judéia, que eram muito preconceituosos e orgulhosos por constituírem a elite nacional (fariseus, sacerdotes, saduceus e escribas), o reputavam como destituído de conhecimento e de prerrogativas para o exercício de qualquer ofício religioso. Esta foi a razão pela qual os fariseus mandaram prendê-lo, por considerarem-no um embusteiro (Jo 7.32-52). Quando Nicodemos se opôs às intenções dos fariseus, eles questionaram: “Dar-se-á o caso de que também tu és da Galileia? Examina e verás que da Galileia não se levanta profeta” (Jo 7.52). Para os fariseus, Jesus não passava de um caipira (matuto) da Galileia.

Em contradição à tradição religiosa israelita, o profeta Isaías anunciou que o Messias emergiria da Galileia – Mas para a que estava aflita não haverá escuridão. Nos primeiros tempos, ele envileceu a terra de Zebulom, e a terra de Naftali; mas nos últimos tempos fará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, a Galileia dos gentios (Is 9.1). Ser galileu implicava uma reputação de pouco ou nenhum valor – “Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José. Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê” (Jo 1.45-46).

Quando ainda era um bebê (30 dias de nascido), Jesus foi apresentado no templo e Simeão, tomando-o nos braços, profetizou: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em Israel, e para ser alvo de contradição (Lc 2.34). Simeão apenas confirmou o que o profeta Isaías havia falado: “Ele vos será santuário; mas será pedra de tropeço e rocha de ofensa às duas casas de Israel, laço e armadilha aos moradores de Jerusalém” (Is 8.14; cf Rm 9.32-33; 1Pe 2.6-7). A descrição que o profeta Isaías fez a seu respeito identifica-o como alguém que “era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso” (Is 53.3).

Uma vez que Jesus estava destinado a ser “alvo de contradição” (Lc 2.34), ele insurgiu como um manifestante contraditor de opiniões que se levantou contra os poderosos e os sistemas instrumentalizados pelos que deles faziam uso para fins de poder e dominação. Literalmente, ele se tornou um subversivo, isto é, um agente heterodoxo de contrassenso ou ainda um empreendedor moral e, por isso, seus discursos proféticos suscitou a hostilidade dos grupos sectários judaicos, principalmente, os fariseus que conspiraram contra ele, para mata-lo, o que de fato ocorreu.


Conclusão

A vida de Jesus foi marcada pela natureza de sua formação em uma terra cujos habitantes eram reputados como gentalha devido ao fato de que a Galileia, durante séculos, fora uma colônia gentílica em território israelita. Um judeu de tal procedência não haveria de ser bem-vindo entre os judeus de cultura erudita. Mesmo assim, a família de Jesus era um referencial para os galileus.
Historicamente, Jesus foi um cidadão comum, tinha uma profissão e, mesmo sendo inculto, era um excelente intérprete das Escrituras e tornou-se um profeta de extraordinária repercussão. Foi morto por uma casta de conspiradores invejosos e preconceituosos que o reputavam como um embusteiro, transgressor, violador das tradições, um subversivo. Para os seus seguidores, ele era e é o Messias, o enviado de Deus que estabeleceu na terra o “reino dos céus”, trazendo salvação ao mundo.




Nenhum comentário:

Postar um comentário