25 de outubro de 2013

O CHORO DA MADRUGADA

Pr. José Vidigal Queirós

Introdução
Todos nós temos alguma fragilidade que pode ser o meio pelo qual venhamos a cair moral e espiritualmente. Assim como Pedro, o discípulo que a quem Jesus entregou as chaves do reino dos céus. Dentre os discípulos de Jesus, ninguém era tão próximo do Mestre e o admirava tanto quanto Pedro. Ele foi o mais entusiasmado galileu que esteve com Jesus. Para ele, Jesus era o centro de todas as suas atenções, de seus sentimentos mais nobres e de suas emoções mais fortes. Mas, lamentavelmente, ele o negou; o que para ele foi uma demonstração de fraqueza que o levou ao mais profundo sentimento de vergonha.
Lucas nos relata (Lc 22.54-62) que, quando Jesus foi preso e levado para o pátio da casa do sacerdote, Pedro o seguia de longe. Por causa do intenso frio da noite, ele entrou no pátio e aproximou-se de uma fogueira onde havia várias pessoas se aquecendo. Foi aí que ele teve a mais triste de suas experiências. Por medo de ser levado à morte, juntamente com seu Mestre, ele o negou três vezes. Naquela mesma noite, algumas horas atrás, quando Jesus denunciou a existência de um traidor no meio deles, Pedro fanfarronou: “Ainda que seja necessário morrer contigo, eu nunca te negarei” (Mt 26.35). A resposta imediata de Jesus ele jamais haveria de esquecer: “Hoje mesmo, antes que o galo cante, tu me terás negado três vezes”.
Próximo a fogueira, ele foi abordado por três pessoas que o denunciaram como seguidor de Cristo. Ele o negou, veementemente por três vezes. Na terceira vez, diz Mateus, que ele começou a praguejar e a jurar, dizendo: Não conheço esse homem. E imediatamente o galo cantouLucas dá um detalhe: Virando-se o Senhor, olhou para Pedro; e Pedro lembrou-se da palavra do Senhor, como lhe havia dito: Hoje, antes que o galo cante, três vezes me negarás. E havendo saído, chorou amargamente” (Lc 22.61). O olhar penetrante de Jesus foi como a fisgada de um arpão na alma de Pedro. Sua consciência foi esmagada pela vergonha de admitir ser um covarde. Naquela madrugada, não havia mais nada a fazer além de fugir daquele local, embrenhar-se na escuridão da noite, e derramar copiosamente as lágrimas da culpa, durante toda a madrugada.


O exemplo de Pedro nos revela quão triste deve ser o ato de sermos revistados por nossa consciência e achados em falta. A voz de Deus nos pede que paremos no pátio da verdade, para que sejam examinados os nossos atos e nossa lealdade a Jesus seja testada. Digo isto porque a negação a Jesus resulta de um processo de queda espiritual. O fracasso de Pedro nos serve de lição. Dois fatores foram marcantes nesta experiência trágica que dilacerou a alma do homem tão frágil que amava sinceramente a Jesus, mas não teve coragem de prová-lo. Estes dois fatores são a dor da queda e as lições aprendidas.

1.        A dor da queda
Três sinais identificam a dor que Pedro sentiu por ter negado a Jesus. O primeiro foi o canto do galo que ecoou no silêncio da noite, como um alarme assustador, que despertou sua consciência, para acusa-lo de sua vergonhosa queda. O segundo foi o olhar penetrante de Jesus que, como voz do silêncio, cruzou o espaço para trazer a triste mensagem: “você fracassou; está reprovado”. O terceiro foram as lágrimas do desabafo que fizeram eclodir os soluços incontroláveis daquele homem, cuja alma foi traspassada por três sentimentos horríveis: O peso esmagador de sua consciência culpada; a vergonha humilhante por descobrir que era covarde; e a desonra por ter cometido um ato de perfídia (Pérfido é o que mente à fé jurada, Dicionário Aurélio).
Quantas vezes, movidos pelo ímpeto da emoção, em um momento de êxtase espiritual, já fizemos o mesmo diante da multidão de adoradores, propagando com aparente bravura a falsa coragem de estarmos dispostos a morrer por Jesus. Embora a coragem seja uma das mais nobres atitudes que Deus espera de nós, como exigiu de Josué, ela jamais se manifesta por meio de belas palavras proferidas no discurso de um covarde entusiasmado.
Coragem é a força que nos move ao cumprimento do dever, mesmo quando morremos de medo. Este foi o modelo de coragem que Jesus demonstrou. Na mesma noite em que foi traído por Judas Iscariotes, no Getsemani onde foi preso, Jesus chamou os três discípulos mais íntimos – Pedro, Tiago e João – e, como nos revela Marcos, “... começou a sentir-se tomado de pavor e de angústia. E lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai” (Mc 14.33-34). Que exemplo de honestidade! Que exemplo de transparência e autenticidade! Quanta franqueza! Apesar do medo que aterrorizava sua alma angustiada, Jesus se deixou levar, para cumprir o dever que o Pai lhe deu: morrer numa cruz, a mais vergonhosa e dolorosa de todas as espécies de morte.

2.        As lições da queda
Que lições podemos aprender com o exemplo de Pedro? A maioria de nós é tão frágil como ele era e pode cair vergonhosamente como ele caiu. Negar a Jesus é o pior e mais covarde ato que um crente pode cometer. Muitos o negam tanto pela vergonha de assumir publicamente sua identidade como seguidor de Jesus, como também pela omissão do testemunho público de sua fé naquele a quem, um dia, declarou como Senhor.
    James Crane[1] afirma que crentes que enveredam pelo caminho da negação percorrem cinco etapas. A primeira, quando demonstram ter demasiada confiança em si mesmo (Lc 22.33). A segunda, quando descuidam da oração (Lc 22.31-32). A terceira, quando utilizam as armas da carne em defesa da causa do Senhor (Jo 18.10). A quarta, quando seguem Jesus de longe (Lc 22.54). A quinta, quando abandonam a companhia dos irmãos.

Conclusão
Amados, quão frágeis são aqueles que julgam que podem vencer o pecado sem a ajuda de Deus. A confiança em si mesmo, o descuido da oração e o uso das armas da carne constituem-se na insígnia do fracasso daqueles que percorrem o caminho da negação a Cristo. A voz de Deus nos chama a que nos defrontemos com a verdade, para que nossa lealdade a Jesus seja testada. Convido você a dirigir-se humildemente ao Senhor Jesus, o verdadeiro Corajoso, e fazer uma confissão honesta de sua fragilidade, na esperança de que Ele lhe dê a força que transcende o medo, para assumir corajosamente diante de todos, sua identidade como discípulo de Jesus e jamais tenha de passar pela mesma experiência de Pedro, no choro da madrugada.








[1] James CRANE. O sermão eficaz, p. 95.

Nenhum comentário:

Postar um comentário