17 de junho de 2014

A RESPONSABILIDADE SOCIAL CRISTÃ - ESTUDO I

O Homem Como Um Ser Responsável


(Sl 8.3-8)
Introdução
A igreja reconhece e propaga que cada ser humano é portador da imagem divina e que, através da encarnação de Cristo, Deus revelou com perfeição não só a sua natureza e caráter, mas também o protótipo do homem perfeito, revelador de Deus ao homem e do homem a si mesmo. Em Cristo, encontramos tudo que Deus é e tudo que o homem haverá de ser, segundo o propósito divino.
O objetivo deste estudo consiste em identificar os direitos fundamentais da pessoa humana radicalizados em sua dignidade, a qual deve ser reconhecida e valorizada, a fim de que seus direitos sejam garantidos em todas as instâncias e níveis das relações humanas. Vejamos agora o que as Escrituras têm a nos dizer sobre isso.
1. A dignidade do homem
A mensagem fundamental das Escrituras anuncia que cada pessoa humana é criatura de Deus e nessa criatura a imagem de Deus é identificada com acentuada distinção. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou...” (Gn 1.27). Assim sendo, cada ser humano tem a dignidade de pessoa, isto é, ele é mais que uma coisa: é alguém. Esta semelhança com Deus põe em evidência o fato de que o homem tem um relacionamento direto com Deus que se reflete nas relações socias humanas. Deus dotou o ser humano da capacidade de viver em sociedade e manter um sistema de inter-relações. O homem e a mulher têm perante Deus a mesma dignidade e são de igual nível e valor, pois a ambos foi entregue a mesma missão que os torna representantes legais do Criador no exercício da autoridade sobre as demais criaturas (Gn 1.28).
Na relação homem-mulher e na multiplicação da sua espécie, o ser humano satisfaz a exigência do diálogo interpessoal. Estas relações interpessoais fazem refletir o próprio Deus que compartilha com o homem não só os atributos de sua natureza e de seu caráter, mas também sua própria vida e sua glória.
O respeito pela dignidade da pessoa humana é imprescindível e cada indivíduo deve ver no seu semelhante uma extensão de si próprio, um “outro eu”, pois todos estão arraigados à mesma raiz, o primeiro homem plasmado por Deus, do qual se origina toda a espécie humana e do qual todos herdam a mesma natureza.
2. A pessoa humana como ser livre
Deus deu aos humanos individualmente o poder de decidir, para que a obediência às suas leis fosse um ato livre e espontâneo. A dignidade humana exige que cada ação se realize de acordo com uma opção consciente e livre, isto é, que cada indivíduo seja movido e levado por convicção pessoal, e não pela força de um impulso cego ou sob coação externa. Somente a ação livre faz de cada pessoa o sujeito responsável por cada ato que pratica.
Desta forma, o pecado de Adão só foi pecado, porque Deus atribuiu a ele culpa pelo seu ato de desobediência voluntária e deliberada. “Com este da árvore que te ordenei que não comesses?... Visto que atendeste à voz de tua mulher, maldita é a terra POR TUA CAUSA...” (Gn 3.11-17).
Da mesma forma foi o pecado de Caim. Deus o considerou apto a decidir não matar seu irmão Abel. Interrogando Caim a respeito de suas intenções, Deus o advertiu da responsabilidade que teria pelo que pretendia fazer: “Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, MAS A TI CUMPRE DOMINÁ-LO” (Gn 4.7).
A liberdade não se opõe à dependência do homem a Deus. As Escrituras depõem que o poder de determinar o bem e o mal não pertence ao homem, mas somente a Deus (Gn 2.16-17). Mesmo assim, o homem é verdadeiramente livre, uma vez que pode comer de todas as árvores do jardim; mas sua liberdade é limitada, pois deve deter-se diante da árvore do conhecimento do bem e do mal. A pessoa que não respeita os limites da liberdade, não é livre, é libertina, licenciosa, isto é, destituída de qualquer peia moral.
3. Os direitos universais e invioláveis do homem
O exercício da liberdade obedece, ou pelo menos deve obedecer, a uma lei moral natural, de caráter universal, que antecede e unifica todos os direitos e obrigações. Ela consiste na luz do intelecto infundida por Deus em todo ser humano e suas normas regulam a vida moral, exprimem a dignidade da pessoa humana e estabelecem as bases onde estão alicerçados os direitos e os deveres fundamentais. Como expressão maior dessa lei, o Decálogo (Dez Mandamentos) estabelece os níveis de relações e responsabilidades individuais.
Quando Deus diz: “Não matarás” (Êx 20.13), ele estabelece o direito individual à vida, protegendo-a pela proibição do homicídio. Ao declarar “Não adulterarás” (Êx 20.14), Deus protege o matrimônio e a família, visando garantir a estabilidade do lar. Quando Deus proíbe: “Não furtarás” (Êx 20. 15), ele institui o direito á propriedade privada, adquirida pelo trabalho com o desgaste da vida e da existência. Quando Deus declara: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16), ele protege o caráter, a integridade moral e a dignidade do ser humano.
Desta forma, a lei moral, infundida por Deus na consciência humana, estabelece limites à liberdade individual. A fonte dos direitos humanos não se situa na vontade de cada pessoa, nem na instituição do Estado como instância da autoridade divina, mas em Deus, nosso Criador. Tais direitos são universais, invioláveis e inalienáveis, ou seja, estão presentes em todos os seres humanos e ninguém pode legitimamente privar alguém destes direitos, porque isto seria violentar sua natureza.
Conclusão
Nada no universo é produto do acaso; tudo é obra da criação divina. Assim sendo, a existência do homem, como ser criado à imagem de Deus, tem um propósito. Cada indivíduo carrega em si próprio a dignidade de ser pessoa, de ser alguém; é livre, mas sua liberdade está restrita pela lei de Deus. Cada pessoa humana é detentora de direitos e obrigações instituídos pelo Criador, o Soberano Árbitro do Universo, diante do qual todos, individualmente, haverão de prestar contas.


Nenhum comentário:

Postar um comentário