18 de junho de 2014

A RESPONSABILIDADE SOCIAL CRISTÃ - ESTUDO II


POBREZA E MISÉRIA
Texto: Dt 15.1-6
Introdução

Deus criou o homem plenamente farto e destituído de qualquer carência. Toda a terra foi entregue ao homem para dela usufruir e tirar o seu sustento em abundância. Mas a realidade hoje nos leva a questionar: Por que existem pobres na terra? Qual a origem da pobreza e da miséria? A Bíblia não nos dá uma resposta clara, mas nos revela as circunstâncias em que o homem viveu, gerando um desequilíbrio social de forças e uma distribuição injusta de riquezas.

O propósito do presente estudo consiste numa descrição bíblica da realidade em que vive a maior parte da população mundial. Vejamos, então, o que a palavra de Deus tem a nos dizer sobre a realidade trágica da pobreza que assola as nações da terra.

1.  O homem desvalorizado

O pecado deformou a natureza humana, transformando as pessoas em seres egoístas, ambiciosos e injustos. A produção e a disputa pela posse de riquezas fizeram com que os seres humanos se tornassem exploradores de seu próprio semelhante. A distribuição injusta das riquezas dividiu os seres humanos em categorias polarizadas: ricos e pobres, possuidores e possuídos, dominadores e dominados. As Escrituras destacam três fatores que assinalam a desvalorização do homem pelo próprio homem.

a) Em primeiro lugar, o homem é desvalorizado pelo desrespeito à vida. O assassinato de Abel pelo seu irmão Caim (Gn 4.8) revela quanto a vida humana perdeu valor. Daí em diante, o atentado à vida, pelo progresso da violência, promove na terra os homicídios, genocídios e as guerras.

b) Em segundo lugar, o homem é desvalorizado pelo desrespeito à liberdade. O homem faz uso da força e da violência para privar o seu semelhante da liberdade, reduzindo-o à escravidão. O exemplo mais infame narrado na Bíblia é o caso de José, que foi vendido como escravo pelos seus próprios irmãos (Gn 37.27-28). Embora a escravidão tenha sido abolida nos povos civilizados, a exploração do trabalhador, fez proliferar a pobreza e a miséria em que se encontram a maioria da população mundial.

c) Em terceiro lugar, o homem é desvalorizado pelo desrespeito à propriedade. Os profetas anunciaram o juízo de Deus sobre os poderosos e os legisladores injustos que espoliavam os pobres, despojando-os dos seus bens pessoais. Isto manifesta o quanto a maldade humana atingiu índices intoleráveis (Mq 2.1-2; Is 10.1-2).

Tudo que o ser humano tem de maior valor é dádiva do Criador: sua vida, sua liberdade e seus bens. Deus outorgou a todos o direito à vida para desfrutá-la de forma prazerosa, fazendo pleno uso de sua liberdade, trabalhando para sua sobrevivência e produzindo bens e riquezas para o seu conforto e o de sua família.

2.  A marginalização dos pobres

Ao longo da história, o aumento da população mundial, aliado ás sucessivas crises econômicas, tem agravado a desigualdade social, marginalizando os pobres cada vez mais. As Sagradas Escrituras apontam várias causas dessa marginalização. A opressão dos pobres pelos ricos é a principal de todas elas. Através do profeta Amós, Deus decretou a sentença de juízo sobre os ricos opressores de Israel, nos seguintes termos: Portanto, visto que pisais o pobre, e dele exigis tributo de trigo, embora tenhais edificado casas de pedras lavradas, não habitareis nelas; e embora tenhais plantado vinhas desejáveis, não bebereis do seu vinho. Pois sei que são muitas as vossas transgressões, e graves os vossos pecados; afligis o justo, aceitais peitas, e na porta negais o direito aos necessitados (Am 5.11-12).

A segunda causa da marginalização dos pobres consiste no descaso das autoridades para com o estado de miséria do povo. O profeta Isaías vomitou a sua fúria contra os poderosos de sua nação ao vociferar: Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o direito do órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas (Is 1.23).

Além do descaso das autoridades, a mais cruel de todas as causas da marginalização dos pobres consiste numa legislação injusta que favorece os ricos e poderosos e aliena os pobres, privando-o dos seus direitos e produzindo miséria. Indignado, o profeta Isaías bradou aos legisladores de sua época: Ai dos que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos! (Is 10.1-2).

3.  O agravamento da pobreza

Vários são os pecados sociais que agravam a situação de pobreza e miséria. Os nossos dias não são diferentes dos dias passados. A grande concentração de riquezas nas mãos de poucos priva a imensa maioria da oportunidade de prosperar e viver com dignidade. Esta foi a realidade nos dias do profeta Isaías. Ai dos que ajuntam casa a casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo que habitem sós no meio da terra! (Is 5.8).

Cem anos antes, o profeta Jeremias denunciava a ganância e a injustiça dos que aumentavam suas riquezas deixando a população na miséria. Como a gaiola cheia de pássaros, são as suas casas cheias de fraude; por isso, se tornaram poderosos e enriqueceram. Engordam, tornam-se nédios e ultrapassam até os feitos dos malignos; não defendem a causa, a causa dos órfãos, para que prospere; nem julgam o direito dos necessitados(Jr 5.25-28).

Na perspectiva divina, a pobreza no mundo jamais será erradicada, enquanto o homem estiver vivendo subjugado ao pecado. Esta foi a razão pela qual a lei de Moisés estabelecia a obrigatoriedade de todos a prestarem socorro aos pobres, mesmo sabendo que, no caso de empréstimos, não houvesse esperança de quitação da dívida (Dt 15.7-14). A declaração divina de que “nunca deixará de haver pobres na terra” é respaldada por Jesus ao dizer aos seus discípulos: “Os pobres sempre os tendes convosco” (Mt 16.11; Mc 14.7; Jo 12.8).

Conclusão

A situação de pobreza em que vive a maioria da população mundial é a maior evidência de que o pecado deformou a natureza moral e espiritual do homem, transformando-o num ser egocêntrico e explorador do seu semelhante. A discriminação dos pobres, colocados à margem da sociedade, suscita a ira e o juízo de Deus. Eis a razão pela qual Deus, através de sua lei justa e soberana, fez-se defensor e protetor dos desvalidos e indefesos. A igreja, no exercício de sua missão no mundo, tem como prioritárias duas tarefas: a proclamação do evangelho do reino de Deus e a prática da justiça.


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