POBREZA E MISÉRIA
Texto: Dt 15.1-6
Introdução
Deus
criou o homem plenamente farto e destituído de qualquer carência. Toda a terra
foi entregue ao homem para dela usufruir e tirar o seu sustento em abundância.
Mas a realidade hoje nos leva a questionar: Por que existem pobres na terra?
Qual a origem da pobreza e da miséria? A Bíblia não nos dá uma resposta
clara, mas nos revela as circunstâncias em que o homem viveu, gerando um
desequilíbrio social de forças e uma distribuição injusta de riquezas.
O propósito do presente
estudo consiste numa descrição bíblica da realidade em que vive a maior parte
da população mundial. Vejamos, então, o que a palavra de Deus tem a nos dizer
sobre a realidade trágica da pobreza que assola as nações da terra.
1. O homem desvalorizado
O pecado deformou a natureza
humana, transformando as pessoas em seres egoístas, ambiciosos e injustos. A
produção e a disputa pela posse de riquezas fizeram com que os seres humanos se
tornassem exploradores de seu próprio semelhante. A distribuição injusta das
riquezas dividiu os seres humanos em categorias polarizadas: ricos e pobres,
possuidores e possuídos, dominadores e dominados. As Escrituras destacam três
fatores que assinalam a desvalorização do homem pelo próprio homem.
a) Em primeiro lugar, o homem é desvalorizado pelo desrespeito à vida. O
assassinato de Abel pelo seu irmão Caim (Gn 4.8) revela quanto a vida humana
perdeu valor. Daí em diante, o atentado à vida, pelo progresso da violência,
promove na terra os homicídios, genocídios e as guerras.
b) Em segundo lugar, o homem é desvalorizado pelo desrespeito à liberdade.
O homem faz uso da força e da violência para privar o seu semelhante da
liberdade, reduzindo-o à escravidão. O exemplo mais infame narrado na Bíblia é
o caso de José, que foi vendido como escravo pelos seus próprios irmãos (Gn
37.27-28). Embora a escravidão tenha
sido abolida nos povos civilizados, a exploração do trabalhador, fez proliferar
a pobreza e a miséria em que se encontram a maioria da população mundial.
c) Em terceiro lugar, o homem é desvalorizado pelo desrespeito à propriedade. Os profetas anunciaram o juízo de Deus
sobre os poderosos e os legisladores injustos que espoliavam os pobres,
despojando-os dos seus bens pessoais. Isto manifesta o quanto a maldade humana
atingiu índices intoleráveis (Mq 2.1-2; Is 10.1-2).
Tudo que o ser humano tem de
maior valor é dádiva do Criador: sua vida, sua liberdade e seus bens. Deus
outorgou a todos o direito à vida para desfrutá-la de forma prazerosa, fazendo
pleno uso de sua liberdade, trabalhando para sua sobrevivência e produzindo bens
e riquezas para o seu conforto e o de sua família.
2. A marginalização dos pobres
Ao longo da história, o
aumento da população mundial, aliado ás sucessivas crises econômicas, tem
agravado a desigualdade social, marginalizando os pobres cada vez mais. As
Sagradas Escrituras apontam várias causas dessa marginalização. A opressão dos
pobres pelos ricos é a principal de todas elas. Através do profeta Amós, Deus
decretou a sentença de juízo sobre os ricos opressores de Israel, nos seguintes
termos: “Portanto, visto que pisais
o pobre, e dele exigis tributo de trigo, embora tenhais edificado casas de
pedras lavradas, não habitareis nelas; e embora tenhais plantado vinhas
desejáveis, não bebereis do seu vinho. Pois sei que são muitas as
vossas transgressões, e graves os vossos pecados; afligis o justo, aceitais
peitas, e na porta negais o direito aos necessitados”
(Am 5.11-12).
A segunda causa da
marginalização dos pobres consiste no descaso das autoridades para com o estado
de miséria do povo. O profeta Isaías vomitou a sua fúria contra os poderosos de
sua nação ao vociferar: “Os teus príncipes são rebeldes
e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de
recompensas. Não defendem o direito do órfão, e não chega perante eles a causa
das viúvas” (Is 1.23).
Além do descaso das
autoridades, a mais cruel de todas as causas da marginalização dos pobres
consiste numa legislação injusta que favorece os ricos e poderosos e aliena os
pobres, privando-o dos seus direitos e produzindo miséria. Indignado, o profeta
Isaías bradou aos legisladores de sua época: “Ai dos
que decretam leis injustas, dos que escrevem leis de opressão, para negarem
justiça aos pobres, para arrebatarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim
de despojarem as viúvas e roubarem os órfãos!” (Is 10.1-2).
3. O agravamento da pobreza
Vários são os pecados sociais
que agravam a situação de pobreza e miséria. Os nossos dias não são diferentes
dos dias passados. A grande concentração de riquezas nas mãos de poucos priva a
imensa maioria da oportunidade de prosperar e viver com dignidade. Esta foi a
realidade nos dias do profeta Isaías. “Ai dos que ajuntam casa a
casa, dos que acrescentam campo a campo, até que não haja mais lugar, de modo
que habitem sós no meio da terra!” (Is 5.8).
Cem anos antes, o profeta
Jeremias denunciava a ganância e a injustiça dos que aumentavam suas riquezas
deixando a população na miséria. “Como a gaiola cheia de
pássaros, são as suas casas cheias de fraude; por isso, se tornaram poderosos e
enriqueceram. Engordam, tornam-se nédios e ultrapassam até os
feitos dos malignos; não defendem a causa, a causa dos órfãos, para que
prospere; nem julgam o direito dos necessitados” (Jr 5.25-28).
Na perspectiva divina, a
pobreza no mundo jamais será erradicada, enquanto o homem estiver vivendo
subjugado ao pecado. Esta foi a razão pela qual a lei de Moisés estabelecia a
obrigatoriedade de todos a prestarem socorro aos pobres, mesmo sabendo que, no
caso de empréstimos, não houvesse esperança de quitação da dívida (Dt 15.7-14).
A declaração divina de que “nunca deixará
de haver pobres na terra” é respaldada por Jesus ao dizer aos seus
discípulos: “Os pobres sempre os tendes
convosco” (Mt 16.11; Mc 14.7; Jo 12.8).
Conclusão
A situação de pobreza em que
vive a maioria da população mundial é a maior evidência de que o pecado
deformou a natureza moral e espiritual do homem, transformando-o num ser
egocêntrico e explorador do seu semelhante. A discriminação dos pobres,
colocados à margem da sociedade, suscita a ira e o juízo de Deus. Eis a razão
pela qual Deus, através de sua lei justa e soberana, fez-se defensor e protetor
dos desvalidos e indefesos. A igreja, no exercício de sua missão no mundo, tem
como prioritárias duas tarefas: a proclamação do evangelho do reino de Deus e a
prática da justiça.
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