A Injustiça Social e a Lei de Deus
Introdução
Por todas as gerações, conflitos têm se estabelecido entre
pessoas, famílias, povos e nações. Dentre todas as relações conflitantes, as de
natureza socioeconômica têm sido as mais graves. Ricos e pobres, patrões e
empregados são categorias sociais humanas geradoras de tensões e conflitos.
Tudo pode ser resumido em apenas uma palavra: injustiça. Onde os direitos
humanos são violados e a lei é transgredida, impera a exploração e a violência
humanas. Como Deus responde a esta realidade? Teria Deus interesse nos
problemas sociais humanos? A resposta a esta questão é o objetivo central deste
estudo. Vejamos, portanto, o que as Escrituras nos dizem sobre a forma como Deus
lida com a injustiça social.
1. A
prosperidade criminosa dos ricos
Em Israel, no tempo da monarquia, a prosperidade de alguns custou
a desgraça da maioria empobrecida. Por falta de recursos para investimento, os
pobres penhoravam suas terras; e, na maioria dos casos, eram obrigados venderem
suas propriedades aos credores por um valor insignificante. Como dizia Isaías,
tais credores “ajuntam casa a casa,
reúnem campo a campo até que se apoderarem de toda a terra” (Is 5.8); ou,
como Oséias denunciava, os abastados de Israel que esnobavam: “Sim, me enriqueci, e adquiri muitos bens”
(Os 12.9).
O luxo das residências dos exploradores eram alvo de reprovação
dos profetas (Os 8.14; Am 3.15; 5.11), como também os banquetes extravagantes
(Is 3.16-24). Eram riquezas adquiridas de forma criminosa (Mq 2.2, 15; Os 12.8;
Am 8.5-6) à custa do suborno e perversão da lei, do direito e da justiça (Is
1.23; 10.1-2; Jr 5.28; Mq 3.11; 7.3).
A mensagem dos profetas aos seus contemporâneos, mais que uma
denúncia do pecado, era a voz da indignação divina contra os detentores do
poder econômico e político, responsáveis pelo abuso da autoridade e pela
manutenção do esquema de corrupção, em todos os níveis do poder público e
religioso. Somente a intervenção divina haveria de restaurar a ordem e a
justiça.
2. Os pobres
indefesos
Os pobres, protegidos apenas pela lei, esquecida e violada pelas
autoridades, viviam em situação de completo abandono. Em quase a sua
totalidade, a classe pobre era composta de estrangeiros que residiam em Israel,
de israelitas que haviam perdido suas terras e penhorado seus bens, e de
escravos.
Visando o amparo dos trabalhadores, a lei de Deus estabelecia o
princípio da generosidade, promulgando o preceito da doação e do empréstimo ao
pobre (Dt 15.7-11), e estabelecendo a devolução do penhor (própria roupa) antes
do pôr-do-sol (Dt 24.12-13). A cada ano sabático, o produto da terra era
deixado aos indigentes (Ex 23.11). No ano do jubileu (ocorria a cada cinquenta
anos), todas as dívidas eram completamente anistiadas e todo patrimônio era
restituído (Lv 25.10). Por amor aos pobres, Deus abençoaria a todos os ricos
que praticassem atos de generosidade (Dt 15.10).
3. Os
estrangeiros explorados
Estrangeiros, tanto peregrinos como habitantes, deveriam ser
amados por Israel, porque Deus os amava (Dt 10.18-19) e tratados sem distinção
como os naturais da terra (Lv 19.33-34). Diferente da realidade atual,
normalmente, os estrangeiros eram pobres e, no Antigo Testamento, estão
alistados entre os indigentes, as viúvas e os órfãos, aos quais Israel deveria
prestar atos de caridade (Lv 19.10; 23.32; Dt 24.18-21; cf. Jr 7.6; 22.3; Ez
22.7; Zc 7.10).
Apesar disso, alguns conseguiam enriquecer a ponto de ter escravos
hebreus (os que voluntariamente se vendiam por ter empobrecido) os quais deveriam
ser resgatados por parentes que tivessem recursos financeiros (Lv 25.47-49). Nem
por serem pobres, os direitos dos estrangeiros deveriam ser violados (Dt 24.17;
27.19). Nenhum preconceito deveria ser tolerado nem jamais haver para com eles
qualquer discriminação nos processos jurídicos, tanto no que diz respeito ao
julgamento das suas demandas (Dt 1.16) como à aplicação da pena imposta pela
lei (Lv 20.2; 24.16-22).
4. Os
trabalhadores oprimidos
A mão de obra originava-se de duas categorias de trabalhadores: os
assalariados e os escravos. Grande parte dos assalariados era formada de
estrangeiros (Ex 12.45; Lv 22.10; Dt 24.14-15). Tornar-se assalariado era
também uma alternativa de sobrevivência de israelitas empobrecidos pela perda
de suas propriedades (Dt 24.14-15). Podiam ser contratados por um dia ou por um
ano (Lv 19.13; 25.50-53; Is 16.14; 21.16).
Muitos patrões enriqueciam por meio da exploração e remuneração
injusta (Jr 22.13; Ml 3.5). A passagem bíblica que mais claramente retrata tal
situação é Tiago 5.4: “Eis que o salário
dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com
fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do
Senhor dos Exércitos”.
A mensagem bíblica, tanto no Antigo como no Novo Testamento, ao
referir-se aos problemas sociais, apresentam sempre a denúncia do pecado dos
maiorais (governantes e detentores do poder econômico) e o juízo de Deus sobre
eles. A pregação do evangelho do reino de Deus apresenta uma mensagem de esperança
para os pobres e oprimidos e uma sentença de juízo sobre todos os promotores da
iniquidade.
Conclusão
Retomando as questões levantadas no início deste estudo a respeito
da forma como Deus lida com a injustiça social na terra, chegamos à conclusão
que as Escrituras registram três fatos incontestáveis: a indignação divina
contra os responsáveis pelo estabelecimento dos sistemas de opressão e
exploração humanas, a intervenção direta de Deus em ocasiões históricas
específicas através dos profetas para promover reformas, e o juízo de
condenação sobre os detentores do poder que abusavam da autoridade. A mensagem
final das Escrituras é que a justiça será restabelecida na terra por meio de
Cristo.
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