14 de outubro de 2013

MEGA IGREJAS, MEGA TEMPLOS, MEGA PASTORES


Para onde a igreja irá até o final deste século?



Uma situação muito séria

          Na conjuntura da pós-modernidade,* caracterizada pelo relativismo ético, pelo pluralismo ideológico, cultural e religioso, a igreja tem sido a maior vítima do desgaste em escala ascendente da imagem de um homem de Deus em consequência do profissionalismo eclesiástico e do mercantilismo religioso que barateiam o evangelho, profanam a igreja, aviltando a Deus, ultrajando o Espírito da Graça e desonrando aquele que fundou a igreja: Jesus Cristo.

Nestes trinta e dois anos de ministério pastoral, tenho sido testemunha da ascendência de alguns parceiros de ministério que se tornaram expoentes da liderança eclesiástica como também da decadência e queda vergonhosa de outros que antes haviam professado formalmente sua lealdade a Jesus e aos compromissos da missão. Mas o que mais me preocupa não é a queda de líderes – até anjos caíram - mas o modelo de igrejas, identificadas nas reportagens como “Mega Igrejas”, que se reúnem em seus “Mega Templos”, lideradas por “Mega Pastores”. Na era dos “megabits” e dos “megabytes” (já superados pelos “terabytes”), está emergindo outro tipo de igreja: a Mega Igreja, geradora da “Igreja Emergente”.

A pós-modernidade exibe tão múltiplas opções para cada ser humano, propondo suprir e alimentar suas aspirações mais elevadas, em todas as áreas e dimensões da existência humana, que a tendência parece ser a construção de um labirinto onde as pessoas se perdem por não saberem aonde ir e chegar, e nem mesmo como voltar.

Uma situação agravante

Nesta conjuntura, o mundo está sendo o palco de um movimento que surgiu no final do século XX e início do século XXI, designado como Igreja Emergente. A respeito de tal “Igreja”, a Wikipédia (enciclopédia livre), assim a designa:

“a igreja emergente (às vezes chamada de movimento emergente) é um movimento cristão do final do século 20 e início do 21 que ultrapassou um certo número de limites teológicos: seus participantes podem ser descritos como evangelicais, pós-evangelicais, pós-conservadores, e pós-liberais. Proponentes creem que o movimento transcende o rótulo “modernista” do “conservadorismo” e “liberalismo”, chamando o movimento de uma “conversação”, por enfatizar seu desenvolvimento e natureza descentralizadora, sua ampla série de pontos de vista e seu compromisso no diálogo. Seus participantes buscam viver sua fé naquilo que creem ser uma sociedade “pós-moderna”. Quando envolvidos na conversação muitos concordam sobre sua desilusão com a igreja organizada e institucional e sustentam a desconstrução da moderna adoração cristã, moderno evangelismo, e a natureza da moderna comunidade cristã”.


Os propugnadores da igreja emergente opinam que a mensagem do Evangelho, como ele se revela nas Escrituras, é dogmática e arrogante. Portanto, os emergentes opinam que um evangelho mais moderado tem que ser inventado, visando sua aceitação pelas massas dentro dessa geração mais jovem. Esse movimento busca reinventar o Cristianismo, desviando os olhos humanos da cruz, para enfocar os relacionamentos e a experiência espiritual. Seus adeptos são essencialmente místicos, praticantes das orações contemplativas, incluindo a yoga como recurso para chegar mais perto de Deus. Mas o pior de tudo é que eles se identificam como evangélicos.
Vamos refletir, usando a razão e as Sagradas Escrituras

Diante de tal situação, suscito duas questões: uma que me inquieta e outra que me assusta. A questão inquietante é: Que espécie de ministros nossas igrejas estarão produzindo? A questão assustadora é: Que espécie de igrejas esses ministros irão produzir?

Biblicamente, os ministros eclesiásticos são produzidos pela própria igreja. Mas quando ela perde sua identidade, deixa de ser igreja e torna-se um movimento religioso. Acredito que o tipo de igrejas que serão produzidas dependerá do tipo de ministros produzidos pelas próprias igrejas. Portanto, urge que tenhamos uma visão correta do perfil de uma igreja neotestamentária e de uma imagem correta daqueles que a lideram.

Em 1Co 4.1, o apóstolo Paulo declara: QUE os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. De acordo com tais palavras, o apóstolo nos faz compreender que os ministros da igreja são escravos de Cristo que gerenciam a obra de Deus. Duas figuras designam a imagem dos homens de Deus, neste versículo: a figura do escravo e a figura do administrador.

Ministros são servidores de Cristo, não da igreja. Dentre toda a terminologia utilizada no grego do Novo Testamento para descrever a função de um serviçal, três são as que mais de destacam: diákonos, doulos e hyperétes. O termo grego utilizado pelo apóstolo Paulo para designar a figura e o papel do ministro de Deus não é o vocábulo diákonos (o servente); nem tampouco doulos (o escravo doméstico), mas hyperétes. Esta é a única vez, em todo o Novo Testamento, em que Paulo utiliza este vocábulo. Literalmente, o termo, segundo os exegetas renomados, designa um escravo de ínfima categoria, ou ainda, um remador de baixo colocado nos porões das galeras romanas. É este termo do qual Paulo se utilizou para descrever a figura de um ministro de Deus.

A grande pergunta é: Por que Paulo utilizou tal expressão? Com toda certeza, sob hipótese nenhuma, ele não teve a intenção de menosprezar os servos de Deus, uma vez que ele era um deles, nem tampouco queria ferir a honra e a dignidade do ministério. Proponho que Paulo utilizou o termo hyperétes, porque o remador de baixo é o homem que não aparece, está destituído de privilégios, méritos ou direitos de que os detentores do poder arrogam para si mesmos. O hyperétes é o tipo de escravo que só tem um direito: o de obedecer; tem um só privilégio: o de trabalhar e apenas um mérito: o de ser julgado.

O hyperétes de Cristo é a antítese do poder, da soberba, da opulência, da vaidade e do orgulho. O hyperétes de Cristo é a antítese daqueles que manifestam a síndrome de Lúcifer, o usurpador do reino que sonha em estabelecer o seu trono acima das estrelas do céu, para se tornar semelhante ao Altíssimo (Is 14.13).

O hyperétes de Cristo é a figura do que serve calado, embora sofrendo as injustas humilhações. O hyperétes de Cristo é o homem cujo espírito contradiz a altivez, para que não ofusque a glória de Cristo. O hyperétes de Cristo é homem que, à semelhança do próprio Jesus, despoja-se das prerrogativas da fama para se submeter de forma paradoxal à postura desenhada pelo profeta Isaías do Ebed Yahweh (O Servo de Javé).

          Como escravos de Cristo, não fomos chamados por Deus para a glória de homens; tampouco, fomos chamados por homens para a glória de Deus. Nenhuma glória há em nós a não ser a de um hyperétes. Pastores, assumamos com orgulho a função de remadores de baixo, sabendo que, embora haja a possibilidade de que não sejamos lembrados pelos que navegam no convés, jamais seremos esquecidos por Deus. Deus jamais esquecerá que, na arca da salvação que transporta o povo de Deus, nós somos os remadores de baixo.

          Além de servidores de Cristo, somos também gerentes dos mistérios de Deus. Mais uma vez permitam-me utilizar-me do conhecimento acadêmico para lhes comunicar o sentido de “despenseiro dos mistérios de Deus”, expressão usada pelo apóstolo Paulo para descrever a imagem de um ministro de Deus.

          O termo grego utilizado por Paulo é oikonomos, palavra composta de duas outras: oikós (casa) e nomos (lei, norma, regra). Portanto, o oikonomos é aquele que foi encarregado de administrar, gerenciar, de por ordem na casa. Isto significa que cada hyperétes de Cristo é também um oikonomos de Deus. Em outras palavras, os ministros da igreja são servidores de Cristo responsáveis por gerenciar a casa de Deus.

          Os despenseiros dos mistérios de Deus são, em primeiro lugar, homens que conhecem os eternos desígnios de Deus. O profeta Amós declarou que Deus nada faz sem primeiro comunicar os seus segredos aos seus servos, os profetas. Jesus declarou aos seus discípulos que somente a eles foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus. Portanto, os servidores de Cristo são os guardiões dos segredos de Deus.

          Os despenseiros de Deus são homens que, pelo Espírito Santo, ocupam sua mente com as coisas que ocupam a mente de Deus. Eles são mordomos que gerenciam a economia de Deus, que cuidam dos empreendimentos divinos e não dos negócios humanos. Eis a razão pela qual Paulo disse a Timóteo: “Aquele que milita não se embarace com os negócios desta vida” (2Tm 2.4). E, testemunhando de sua própria experiência, declarou aos gálatas: “Porventura, procuro eu, agora, o favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo” Gl 1.10).

          Pastores, se são realmente escravos de Cristo e ministros de Deus, jamais se esqueçam da imagem que devemos projetar para o mundo. Em relação ao mundo somos servidores de Cristo; em relação à igreja, somos gerentes dos empreendimentos de Deus. Homens que honram o ministério são aqueles que são achados fiéis trabalhando como escravos de Cristo na execução dos projetos de Deus. Portanto, dignifiquem o ministério, consagrem sua vida e sejam leais a Cristo que, despojando-se de suas prerrogativas celestiais, veio até nós para cumprir uma missão divina, deixando para nós sua insígnia de servo e seu distintivo de despenseiro dos mistérios de Deus. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com todos vocês. Amém.

_____________________
* Segundo o Dicionário Aurélio, pós-modernidade refere-se contexto em "Que, nas últimas décadas do séc. XX, adota uma postura descomprometida, independente, em face das transformações profundas ocorridas na ordem socioeconômica"

Nenhum comentário:

Postar um comentário