25 de junho de 2014

ORDENAÇÃO DE MULHERES AO PASTORADO

  
Introdução



O objetivo deste estudo consiste em propor uma resposta clara à questão da ordenação de mulheres ao ministério pastoral, à luz das Escrituras e não do contexto cultural em que a igreja está inserida. Antes de tudo, é necessário que tenhamos como referencial o conceito de ordenação. Ordenação consiste na investidura de autoridade concedida a uma pessoa designada para o exercício de um ofício religioso público que, no caso em questão, refere-se ao episcopado numa igreja. Esta é a questão em pauta: É lícita a ordenação de mulheres ao episcopado?
Neste estudo, esta questão será respondida, tomando como base os seguintes elementos: a) o desígnio de Deus para com a igreja; b) ministérios distintos no contexto da Nova Aliança; c) a distinção de papéis no exercício de funções de liderança; d) o episcopado na igreja cristã. Sob hipótese nenhuma, será discutida a questão da equivalência ou prevalência de gêneros.

1. O desígnio de Deus para com a igreja
Indubitavelmente, a vontade de Deus é um mistério revelado à igreja (Ef 1.9-12). Paulo declara que o grande propósito da vontade divina (eudokia = beneplácito) consiste em "fazer convergir nele (em Cristo), na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas, tanto as do céu, como as da terra [...] a fim de sermos para louvor da sua glória, nós, os que de antemão esperamos em Cristo" (Ef 1.9-12). Desta forma, a glória de Deus é o propósito da missão eclesiástica. Isto, então, nos faz levantar três questões fundamentais.

Questão Nº 1: Qual o papel da igreja no mundo?
Resposta: O papel da igreja consiste em viabilizar a concretização do eterno desígnio de Deus (Ef 3.9-10; 4.11-13). O mistério da vontade divina, antes oculto, agora é revelado por meio da igreja, para que "a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais," (Ef 3.9-10). Para que a glória e a sabedoria de Deus se tornem manifestos por meio da igreja e assim se cumpra o desígnio de Deus, Cristo concedeu à igreja ministros diversos (apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres) "com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo" - Ef 4.11-12, cujo resultado esperado é o crescimento que vai durar "Até que todos cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo", (Ef 4.13).

Questão Nº 2: Quem são os ministros responsáveis por tal incumbência?
Resposta: Homens e mulheres, indistintamente, são ministros de Cristo para a realização do desígnio de Deus. A promessa de derramamento do Espírito "sobre toda a carne", cujo cumprimento teve início no dia de Pentecostes, tinha como propósito fazer que todos (homens e mulheres, jovens e velhos, e até mesmo os escravos e escravas), sem distinção de gênero, idade, ou classe social, fossem incumbidos do exercício de uma missão profética no mundo (At 2.17-18).
Na eclesiologia paulina, a igreja é uma comunidade destituída de categorias distintas, quer seja de raças, classes sociais ou gênero, "pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus". (Gl 3.26-28). Desta forma, o mesmo Deus que "estava em Cristo reconciliando consigo o mundo" (2Co 5.19), agora, na igreja, "é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (Ef 4.6).

Questão Nº 3: Na nova aliança, há distinção de pessoas e seus respectivos ministérios?
A resposta desta questão requer, em primeiro lugar, que levemos em conta que, no contexto da nova aliança, há ministérios distintos a serem exercidos por todos os cristãos, indistintamente. A diversidade de ministérios está alicerçada na diversidade dos dons espirituais concedidos pelo Espírito Santo individualmente e de forma soberana tanto a homens como mulheres, no contexto da igreja local (1Co 12.4-11). Mas, por outro lado, há claras evidências de que apenas dois ministérios foram explicitamente designados para homens: o apostolado e o episcopado. Não se trata de discriminação de gêneros (homem e mulher), mas de funções.
Desde o princípio, Deus estabeleceu hierarquia no universo. O princípio da hierarquia é, portanto, divino e universal; e não está condicionado aos valores e tradições culturais. Na ordem estabelecida por Deus, a mulher foi criada como “auxiliadora idônea” (Gn 2.18). Isto é válido tanto no contexto familiar como também no social e eclesiástico. Os gêneros humanos são distintos para exercício de funções distintas. Na ordem da criação divina, não há hierarquia de gêneros, mas de funções. "Quero, entretanto, que saibais ser Cristo o cabeça de todo homem, e o homem, o cabeça da mulher, e Deus, o cabeça de Cristo" (1Co 11.3).
No contexto eclesiástico, o princípio da hierarquia foi estabelecido pelo Senhor Jesus. Ele mesmo conferiu aos oficiais do apostolado e do episcopado autoridade sobre a igreja (2Co 10.8; 2Co 13.10; Hb 13.17). Encerrado o período apostólico com a morte de João, a autoridade apostólica foi legada ao Novo Testamento que os apóstolos deixaram como norma de fé e prática para a igreja. Temos consciência de que seus escritos são também divinamente inspirados, uma vez que todos eles foram profetas, isto é, homens santos que "falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo" (2Pe 1.21). Portanto, o que Deus revelou para a igreja do período apostólico tem o mesmo significado e o mesmo valor para a igreja nos dias de hoje.

2.  A distinção de papéis no exercício da liderança
Apenas duas categorias de ministros são distintas das demais: a dos apóstolos, que já cessaram; e a dos bispos que ainda perduram. Estes ministros foram designados para exercer autoridade na igreja. Estes dois ofícios são especiais, em virtude do nível hierárquico que ocupam em relação aos demais ministros e/ou ministérios.
Com respeito aos apóstolos, as Escrituras nos revelam, de acordo com Atos 1.21-23, que os critérios estabelecidos para a nomeação de alguém ao ofício apostólico foram os seguintes:
a)   Devia ser homem – em grego, aner = pessoa do sexo masculino (v. 21).
b)   Devia ter sido testemunha da vida e ministério de Jesus (v. 22).
c)   Devia ter sido testemunha da ressurreição de Jesus (v. 22).
Embora, na comunidade dos primeiros discípulos, houvessem mulheres que haviam sido testemunhas da vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus, sendo a principal Maria, a mãe de Jesus, nem ela nem seus filhos Tiago e Judas (autores respectivos de duas epístolas do Novo Testamento) tiveram seus nomes indicados para o apostolado. Foram propostos dois nomes apenas: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias (At 1.23). Tiago, o irmão de Jesus, só foi nomeado para o apostolado, depois da morte de Tiago, filho de Zebedeu e irmão de João; e assim o colegiado dos doze foi mantido.
O caso de Paulo é sui generis. Embora ele não tenha sido um dos componentes do colegiado dos doze nem da comunidade primitiva de Jerusalém, considerou-se apóstolo por algumas razões:
(1) Ele foi chamado e enviado como mensageiro pelo próprio Jesus e por Deus Pai (Gl 1.1);
(2) Ele foi testemunha de que Jesus ressuscitou dentre os mortos (1Co 15.3-8);
(3) ele recebeu o evangelho por revelação direta de Jesus Cristo (Gl 1.11-12);
(4) os principais dentre os doze apóstolos, Pedro, Tiago e João, reconheceram e aprovaram tanto Paulo como Barnabé como apóstolos entre os gentios (Gl 2.1-10).

Com respeito aos bispos (supervisores) as Escrituras nos revelam que o episcopado é o ofício pastoral exercido por alguém devidamente ordenado por um presbitério cujas finalidades são: pastorear (At 20.28) e governar a igreja de Deus (1Tm 3.1-5; 1Tm 5.17; cf 1Ts 5.12). O episcopado deve ser incumbência exclusiva de um presbítero (presbíteros = ancião, homem maduro). Paulo deixou isso muito claro quando deu ordens a Timóteo que elegesse em cada igreja um colegiado de presbíteros para a função pastoral (Tito 1.5).
Em 1Tm 3.2, o termo grego epíscopos traduzido como bispo é de gênero masculino. O critério que define que alguém está qualificado para governar a igreja de Deus é que governe bem a sua casa (1Tm 3.4). Uma vez que o governo de uma casa está entregue por Deus ao homem, o bispo deve ser esposo de uma só mulher (1Tm 3.2; Tt 1.5-6). Uma vez que, na igreja, o bispo é o principal mestre e está investido de autoridade para governar, a mulher não pode exercer na igreja tal autoridade, pois tal autoridade compete somente a um homem, um presbítero docente (1Tm 2.12).

3.  Com respeito às mulheres
A relevância da mulher na igreja consiste no exercício de dois ministérios designados para pessoas de ambos os sexos: o ministério profético (At 21.9; 1Co 11.5) e o ministério diaconal (1Tm 3.8-11; Rm 16.1; Fp 4.3). Com respeito ao ministério profético, é necessário que se conheça duas coisas fundamentais:
a) Profecia é um dom que consiste na iluminação do Espírito divino sobre o espírito humano, concedendo-lhe sobrenaturalmente a visão e a sabedoria para discernir a vontade de Deus em situações específicas. Por isso, a palavra expressa pelos que profetizam não consiste em instrução doutrinária formal que compete aos bispos, mas na palavra de exortação, de consolo, e de edificação espiritual (1Co 14.3, 31).
b) O ministério profético é exercido por quem recebeu do Espírito Santo o dom da profecia; e o exercício de tal dom é prioritário nas reuniões de culto (1Co 14.1-5). Tal prioridade resulta dos fins para os quais esse dom é concedido: edificar, exortar e consolar (1Co 14.3). Por esta razão, os profetas são superiores aos faladores de línguas, os quais só edificam a si mesmos, falando a Deus e não aos homens (1Co 14.2-5). Enquanto as línguas são um sinal para os descrentes, a profecia é dom que focaliza exclusivamente os crentes (1Co 14.22) e seu principal objetivo é a edificação de toda a igreja (1Co 14.4). Uma vez que as mulheres podem ser profetizas na igreja, na ocasião em que estiverem profetizando, todos (homens e demais mulheres) escutam em silêncio e julgam para verem se o que estão ouvindo vem da parte de Deus (1Co 14.29-31).

Considerações finais
1) Deus tem um desígnio e o concretiza no mundo por meio da igreja. A igreja é portadora da revelação divina e todos os crentes, tanto homens como mulheres, ungidos pelo Espírito Santo, são detentores de tal conhecimento e responsáveis por compartilhá-lo com o mundo, a fim de que a glória de Deus prevaleça em toda a terra.
2) A concretização do eterno desígnio de Deus é a incumbência da igreja através dos ministérios eclesiásticos cuja diversidade decorre da variedade de dons espirituais concedidos, segundo a vontade soberana do Espírito de Deus.
3) Deus estabeleceu na família e na igreja níveis de hierarquia, não de gêneros ou de pessoas, mas de funções e de papéis a serem exercidos por homens e por mulheres.
4) Há ministérios específicos designados somente para homens: o apostolado que já cessou e o episcopado que ainda perdura. Ambos são designados para os homens a quem Deus investiu de autoridade para governar a família e a igreja.
5) Todos os demais ministérios, com exceção do episcopado, estão designados para todos os crentes, sejam homens ou mulheres.
6) A relevância da mulher na igreja limita-se ao exercício do ministério profético e do ministério diaconal.
7) Mulheres jamais devem ser ordenadas para o episcopado. A ordenação de mulheres é um erro decorrente da falta de conhecimento bíblico-teológico ou da distorção dos princípios divinos em virtude das conveniências humanas. Que o Senhor nos perdoe, se estivermos enganados, e o Espírito de Deus nos corrija.

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