28 de julho de 2014

MISSÃO INTEGRAL - A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA - 2ª PARTE




Introdução
No estudo anterior – A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA (1ª PARTE) – abordamos os dois primeiros tópicos que foram: 1) A eleição e a vocação universal da igreja; 2) A missão de Jesus como padrão para a missão da igreja. Continuando o assunto, veremos neste estudo os dois tópicos seguintes que nos levarão a ter uma ideia do que realmente constitui a natureza missionária da igreja.


3. A igreja como extensão encarnacional de Cristo (Ef 1.15-23)
Na perícope de Ef 1.22-23, especificamente no último versículo, o apóstolo Paulo revela que a igreja, como corpo, é a extensão encarnacional da plenitude de Cristo. Uma vez que a igreja encarna a plenitude do ser de Cristo, há três implicações que decorrem deste grande mistério.
Em primeiro lugar, a igreja deve manifestar ao mundo a integridade do caráter de Deus. A comprovação deste fato se dá através de quatro fatores: a) Cristo é a reprodução perfeita da natureza e caráter de DeusEle é “a imagem do Deus invisível (Cl 1.15); “Nele habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade (Cl 2.19); b) Cristo, como imagem perfeita de Deus, está em nós (Rm 8.10; 2Co 13.5) e se constitui em padrão de integridade para todo verdadeiro cristão (Ef 4.13; Rm 8.29); c) A essência do ser de DeusPai, Filho e Espírito Santo – habita em nós (Jo 14.23; Ef 4.6; 1Co 3.16-17); d) A imagem de Deus, avariada pelo pecado, está sendo restaurada em todos os regenerados (2Co 3.19). Desta forma, a conclusão a que se pode chegar é que a igreja, como corpo de Cristo, é o projeto da habitação da plenitude divina. Quando Deus tiver definido o estado eterno da humanidade e da criação, então, ele será tudo em todos (1Co 15.28).
Em segundo lugar, a igreja é no mundo a detentora da autoridade divina. Três aspectos da igreja manifestam tal autoridade: a) a igreja é portadora das chaves do reino dos céus (Mt 16.19; 18.18); b) a igreja é a embaixada do reino de Cristo no mundo dos homens (2Co 5.19); c) a igreja é reino sacerdotal no mundo das nações (1Pe 2.9).  A igreja é instância da autoridade sobrenatural de Deus no mundo. Os principados e potestades, que “capturaram” a humanidade e transformaram o mundo emimpério das trevas”, estão subjugados pelo poder do Soberano do Universo que domina sobre tudo e todos como cabeça da igreja, a qual é o seu corpo e “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.23).
Em terceiro lugar, a igreja concretiza no mundo os eternos desígnios de Deus. A razão de existir da igreja é a missão que ela exerce no mundo, para concretizar os desígnios de Deus. Isto significa que a igreja deve: a) servir como agência de salvação para o mundo (Mt 16.18); b) mediar a reconciliação do mundo com Deus (2Co 5.18-19); c) viabilizar o projeto de reconstrução da humanidade (Ef 4.22-24; Cl 3.9-10). O propósito último de Deus visa reconstruir toda a criação, começando pelo homem. Na primeira criação, Deus começou com o mundo físico e terminou com o homem; na segunda, ele começa com o homem, transformando-o em nova criatura (2Co 5.17), e termina com o “novo céu e a nova terra” (Is 65.17; 66.22; Ap 21.1, 5).

4. A razão da missão cristã no mundo
A razão principal que justifica a intervenção de Deus no mundo, antes por meio de Jesus e agora por intermédio da igreja, é o estado de perdição do mundo. O mundo está perdido espiritualmente, “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Como resultado, o pecado produziu a degeneração da raça e a condenação do mundo (Rm 1.18-32).
O mundo está perdido socialmente, pois a sociedade distanciou-se de Deus, invertendo os valores éticos, desrespeitando a lei divina e violando os direitos humanos estabelecidos pelo Soberano Legislador do universo. Por esta razão, “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça (Rm 1.18).
O mundo está perdido economicamente. Todos se curvam sob o peso de um sistema explorador, onde o acúmulo excessivo de riquezas por parte de alguns produz o estado de alienação, pobreza e miséria em que vive a maioria da população mundial. Por esta razão, a exploração assolou todos os níveis das relações econômicas e o trabalhador é a sua maior vítima, como denunciou Tiago: Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos (Tg 5.4). Em sua crítica à situação cada vez mais agravante e caracterizada por uma crise socioeconômica e política do mundo contemporâneo, onde a igreja se acomoda mesmo diante do antagonismo de valores, Padilla é de parecer que quando a igreja se acomoda ao espírito da época para evitar o conflito, ela “perde a dimensão profética de sua missão e se converte em guardiã do status quo. Torna-se sal que perdeu seu sabor”.[1]

Conclusão
Não pode haver missão sem que a igreja assuma aquilo que ela realmente é em sua natureza: a extensão encarnacional de Cristo. Por outro lado, qualquer que seja a comunidade cristã local que não estiver plenamente ciente da razão de estar no mundo, ocupar-se-á com qualquer atividade religiosa, deixando de ser um empreendimento divino, para tornar-se um clube religioso. Jamais esqueçamos do propósito para o qual a igreja foi instituída por Deus: servir como agência de salvação para o mundo.







[1] René PADILLA. Ibdem, p. 69.

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