8 de dezembro de 2014

QUANDO O HOMEM SE COMPROMETE COM DEUS

TEXTO: Miquéias 6.1-8

1 Ouvi, agora, o que diz o Senhor: Levanta-te, defende a tua causa perante os montes, e ouçam os outeiros a tua voz. b
2 Ouvi, montes, a controvérsia do Senhor, e vós, duráveis fundamentos da terra, porque o Senhor tem controvérsia com o seu povo e com Israel entrará em juízo. c

3 Povo meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me!
4 Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Miriã.
5 Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque, rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu desde Sitim até Gilgal, d para que conheças os atos de justiça do Senhor. e

6 Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?
7 Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito f pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?
8 Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus. g

Introdução
Constituído em uma sociedade teocrática, Israel era um país regido por leis divinas. A religião impunha um padrão de relações pelo qual as estruturas sociais, as esferas de poder e a vida econômica de Israel eram definidas pela Lei de Deus. Mas infelizmente, durante o período da monarquia, Israel se tornou uma nação degenerada. A imoralidade, a violência e a perversão do direito e da justiça atingiram níveis insuportáveis e a nação mergulhou numa crise espiritual sem precedentes, exigindo uma intervenção urgente de Deus. Esta é a razão pela qual Deus levantou o profeta Miquéias. Sua missão era restaurar espiritualmente a nação para que fosse restabelecida a ordem no país.
Miquéias anunciou com precisão o que Deus esperava de seu povo. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”. Com esta declaração, o profeta revelou a Israel que a verdadeira espiritualidade é fruto de uma relação comprometida com Deus.
Como se mede a espiritualidade de um crente? Que sinais indicam que uma pessoa apresenta a Deus um verdadeiro culto? A espiritualidade de um adorador não se mede pelo grau de sua emoção, nem pelos jargões que exclama, mas pelo padrão de sua relação com Deus e com as outras pessoas. Portanto, a mensagem que vou apresentar agora se resume nisto: o verdadeiro culto é a expressão humana de uma relação comprometida com Deus. Quando o homem se compromete com Deus, ele faz quatro descobertas:


1. Descobre que o pecado é o único elemento de controvérsia entre Deus e o homem (v. 1-2)
O propósito de Deus revelado na aliança do Sinai era fazer de Israel, uma nação santa para exercer uma missão sacerdotal no mundo. Mas o povo quebrou sua aliança com Deus, tornando-se uma nação perversa e rebelde.
Deus é santo e inimigo de toda injustiça. Santidade e retidão são atributos exigidos de quem se relaciona com Deus. Por esta razão, todo aquele que segue o caminho da desobediência se opõe ao desígnio de Deus e torna-se réu do juízo divino.

2. Descobre que a bondade do caráter divino traz à luz a perversidade da natureza humana (v. 3-5)
Deus está isento de qualquer responsabilidade pelos pecados do seu povo. Nada justifica a conduta ímpia do homem, uma vez que Deus sempre tem manifestado sua graça e sua misericórdia através de seus atos redentores.
Deus trouxe a lembrança do passado, de como ele libertou Israel da escravidão do Egito, de como cuidou dele durante a peregrinação no deserto e de como o abençoou, quando Balaão foi pago por Balaque para amaldiçoar Israel.
Deus é a essência do Supremo Bem e fonte de toda bondade. Uma vez que Deus fez o homem bom, nada além da liberdade humana justifica o pecado. A soberania de Deus não anula a responsabilidade humana. O homem é sujeito de seus próprios atos e, por isso, é culpado perante Deus. Pecado é a pretensão soberba do homem de viver independente de Deus.

3. Descobre que religião sem compromisso é abominação repugnante que avilta a santidade de Deus (v. 6-7)
O profeta questiona sobre qual o tipo de adoração e serviço é aceito por Deus. Estaria Deus interessado nas formalidades de um ritual religioso destituído da verdadeira espiritualidade? As perguntas do profeta eram uma declaração de que as oferendas de um falso adorador são a expressão da atitude blasfema de tentar subornar a Deus para torná-lo conivente com o pecado
Religião sem compromisso, além de ser inútil, é abominável perante Deus. A falsa adoração é uma atitude maligna e blasfema que consiste na tentativa humana de corromper a natureza e o caráter de Deus. Por isso, a alma de todo falso adorador, em vez de refletir a imagem de Deus, manifesta o caráter de Satanás. Jamais nos esqueçamos de que Deus é um ser incorruptível, santo, justo e perfeito em todos os seus atos e exige de nós santidade. "Sede santos, porque eu, o Senhor, sou santo" (Lv 20.7).

4. Descobre que o homem só goza de comunhão com Deus quando vive uma relação ajustada com o seu próximo (v. 8)
Deus responde às demandas do seu povo manifestando sua vontade, exigindo que cada adorador viva uma relação ajustada e correta com Deus e com o seu semelhante, sendo justo, misericordioso e humilde. Justiça e misericórdia são padrões éticos da relação do indivíduo com o seu semelhante, enquanto a humildade é o padrão que define o caráter da relação entre o homem e Deus.
Justiça é a expressão do dever individual humano de ver o outro como Deus o vê e tratar o outro como Deus o trata. Misericórdia é a expressão de bondade da natureza de Deus que deve fluir através do caráter humano. Humildade é virtude através da qual o homem abate o seu próprio orgulho para submeter-se à autoridade divina.
As Escrituras dizem que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita. Portanto, o interesse de um verdadeiro adorador consiste em agradar a Deus, realizando a sua vontade. O culto verdadeiro é a expressão de uma relação pessoal comprometida que o adorador mantém com Deus e com o seu semelhante. Quando o adorador pratica a justiça e usa de misericórdia para com o próximo, ele se torna parecido com Deus; e quando ele se humilha perante Deus, ele se torna parecido o homem idealizado por Deus.

Conclusão
Meu amado irmão, Deus sabe que tipo de adorador é você. Nunca tente disfarçar porque Deus é onisciente. Portanto, lembre-se de que você não conseguirá ir muito longe enganando a todos e a si próprio. Diante disso, quero reafirmar o que disse no início desta mensagem: a verdadeira espiritualidade é fruto de uma relação comprometida com Deus.
Somente uma relação comprometida com Deus leva o homem a descobrir que o pecado é o único elemento de controvérsia entre Deus e o homem; que a bondade do caráter divino traz à luz a perversidade da natureza humana; que religião sem compromisso é abominação repugnante que avilta a santidade divina; e, finalmente, o homem só goza da comunhão com Deus quando vive uma relação ajustada com o seu próximo.
Deus o ama e se recusa a deixá-lo como você está. Não mais a sua salvação, mas a sua espiritualidade é a maior preocupação de Deus agora. A não ser que você tenha de verdade uma relação pessoal comprometida e ajustada com Deus e o seu semelhante, você agora está sendo chamado a vir ao altar da consagração e começar uma nova relação com Deus e sua igreja.



6.1 Cf. Dt 32.1Sl 50.1-6Is 1.2.
6.2 Is 3.13-15Os 4.1-612.2.
6.5 Desde Sitim até Gilgal: Sitim foi o último lugar onde Israel acampou antes de cruzar o Jordão, e Gilgal, o lugar do seu primeiro acampamento a oeste desse rio. A frase refere-se a um período crítico e muito importante na história de Israel: o da entrada na Terra Prometida (cf. Js 3—4). Ver o Índice de Mapas.
6.3-5 Para realçar mais a infidelidade e ingratidão de Israel, enumeram-se algumas manifestações do Senhor a seu favor: a libertação do Egito (Êx 12.50-5120.2Dt 5.6); o chamado de Moisés, Arão (Êx 3.1—4.17,27-30) e Miriã (Êx 15.20); e a bênção de Balaão ao povo (Nm 22—24Dt 23.5).
6.7 Darei o meu primogênito: O sacrifício do filho primogênito, praticado algumas vezes pelos cananeus, estava terminantemente proibido em Israel (Lv 18.2120.2-5Dt 12.3118.10cf. 2Rs 16.321.6). O primogênito era objeto de uma bênção especial (Gn 27.1-4), e a ele correspondia uma porção dobrada da herança do pai (Dt 21.17).
6.6-8 Estes vs. resumem admiravelmente a pregação moral dos profetas. Miquéias retoma assim o conceito de justiça presente em Amós (Am 5.21-25), o conceito de fidelidade e misericórdia, em Oséias (Os 1—3) e os de fé e humildade, em Isaías (cf. Is 2.6-177.8-9). Deus rejeita aqueles sacrifícios que são práticas meramente exteriores (cf. 1Sm 15.22-23Pv 21.3Is 1.11-14Os 6.6Zc 7.9-10).
Sociedade Bíblica do Brasil. (1999; 2005). Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada (Mq 6:8). Sociedade Bíblica do Brasil.

27 de novembro de 2014

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE


"Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus" (1Pe 2.15-16).
Introdução
Você sabe como, nos dias de hoje, podemos distinguir um cristão verdadeiro de um ímpio? Independente de qual seja a sua ou a minha resposta, Deus tem uma opinião formada sobre isso. Para Deus, a distinção está na conduta. O caráter de uma pessoa é identificado pela forma como ela se comporta. Nossa conduta define o tipo pessoa que somos. Por esta razão, a Palavra de Deus nos diz: “não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia”.
Todo cristão é uma pessoa livre diante dos homens, mas responsável perante Deus. Por isso, é que Deus nos responsabiliza pelo uso que fazemos da liberdade que ele nos deu. Sabendo que Deus é a fonte de toda exigência moral, o verdadeiro cristão adota dois valores que o distinguem de um ímpio:

1. O senso de responsabilidade – “como livres que sois”
1.1. A liberdade faz de cada indivíduo o sujeito responsável pelas decisões que toma (1Co 6.12)
1.2. A liberdade faz de cada indivíduo o sujeito responsável pelos atos que pratica (Gn 4.7)
1.3. A liberdade faz de cada indivíduo o sujeito responsável por cada palavra que diz (Mt 12.36-37)
Verdade Aprendida: Responsabilidade é o encargo moral que deriva do atributo da livre agência.

2. O respeito aos limites – “como pretexto da malícia”
O abuso da liberdade produz três consequências trágicas:
2.1.     Escandaliza os novos na fé (1Co 8.9)
2.2.     Estimula a licenciosidade dos carnais (Gl 5.13-21)
2.3.     Justifica sua condenação ao inferno (Mt 18.7-9; Mt 7.21-23)
Verdade Aprendida: Licenciosidade é o molde do caráter infame dos libertinos. Libertino é um indivíduo sem escrúpulos, um violador consciente dos padrões morais.

Conclusão
Amados, a Escritura diz: para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Portanto, não nos esqueçamos jamais de que somos livres diante dos homens, mas responsáveis perante Deus.   A liberdade nos desafia a sermos sábios nas decisões que tomamos; corretos, em cada ato que praticamos; e decentes em cada palavra que falamos. Liberdade é um direito; responsabilidade é um dever. Ande no Espírito e seja responsável para que tenha o direito de ser livre.

24 de agosto de 2014

ENVIADO POR DEUS E REJEITADO PELO HOMEM


TEXTO: 2Sm 16.5-14

“Tendo chegado o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da família da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera; saiu e ia amaldiçoando. Atirava pedras contra Davi e contra todos os seus servos, ainda que todo o povo e todos os valentes estavam à direita e à esquerda do rei. Amaldiçoando-o, dizia Simei: Fora daqui, fora, homem de sangue, homem de Belial; o SENHOR te deu, agora, a paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste; o SENHOR já o entregou nas mãos de teu filho Absalão; eis-te, agora, na tua desgraça, porque és homem de sangue.
Então, Abisai, filho de Zeruia, disse ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar e lhe tirarei a cabeça. Respondeu o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisai e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o SENHOR lhe ordenou. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia.
Prosseguiam, pois, o seu caminho, Davi e os seus homens; também Simei ia ao longo do monte, ao lado dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras e terra contra ele. O rei e todo o povo que ia com ele chegaram exaustos ao Jordão e ali descansaram”.

Introdução
O presente artigo é fruto de meu sentimento de humilhação e vergonha, escrito com minhas lágrimas.  Em minha experiência de ministério, sendo vítima da rejeição injusta por parte de algumas pessoas com quem me deparei em duas das igrejas que já pastoreei, cheguei a concluir que o perfil de algumas igrejas atuais é uma réplica do antigo Israel, da época dos profetas.
Algumas igrejas dos nossos dias estão tratando os seus pastores como os filhos de Israel trataram os homens que por Deus lhes foram enviados. A história se repete, manifestando duas realidades incontestáveis. A primeira é o envio de homens vocacionados para servirem como portadores de uma mensagem de procedência divina com o propósito de edificar o povo de Deus. A segunda é a rejeição vergonhosa e humilhante a tais profetas por parte dos que afirmam ser povo de Deus.
Todos os profetas, sem exceção de nenhum, foram rejeitados de forma humilhante e violenta pelo povo de Deus. “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados!” foi o clamor do Filho de Deus, com seu rosto banhado de lágrimas e seu coração dilacerado pela dor da rejeição que sofreu por parte do povo que ele amou e pelo qual morreu.
Davi, o rei de cuja descendência nasceu o nosso Salvador, foi também vítima de uma das mais desprezíveis atitudes de rejeição por parte de Simei, “um homem da família da casa de Saul”, o rei que antecedeu Davi e que, durante anos, o perseguiu com ódio e tentou assassiná-lo várias vezes.
Absalão, filho de Davi, depois de conspirar com diversos líderes, uniu forças militares para lutar contra seu próprio pai, a fim de usurpar-lhe o trono. O rei Davi, então, para não ter que enfrentar seu próprio filho em uma batalha, montado em um jumento (não em um cavalo) figurando um homem simples do povo, fugiu de Jerusalém, deixando atrás de si a opulência do seu palácio e a glória de sua coroa.
Ao atravessar as ruas da cidade de Baurim, Simei, proferindo maldições e lançando pedradas, contra Davi, vociferava com fúria incontrolável: Sai, sai, homem sanguinário, homem de Belial! ... O Senhor te deu a paga... eis-te agora na tua desgraça... homem sanguinário” (2Sm 16.7-8). Quando Absai, guerreiro fiel, pediu a Davi autorização para decapitar com sua espada o furioso e maldizente Simei, Davi recusou retribuir o mal com o mal. Sua reação foi: “Deixai-o; que amaldiçoe [...]. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia”. Que nobreza de atitude! Quanta virtude no caráter deste homem! Este é um dos aspectos da personalidade de Davi que o caracterizou como “o homem segundo o coração de Deus” (At 13.22).
Tal como o rei Davi e os profetas do Antigo Testamento, ainda hoje, alguns pastores são, às vezes, tratados com desprezo, sofrem humilhações e agressões verbais publicamente por parte de membros da igreja que se dizem ser "povo de Deus", sem que nenhuma medida disciplinar lhes seja aplicada, permanecendo na impunidade e servindo de “exemplo” para as gerações mais jovens.
A falta de respeito para com um ministro do evangelho é o testemunho vivo da “brutalidade espiritual” por parte daqueles que nunca tiveram temor a Deus. Diante de tal fato, questionamos: Como os verdadeiros homens de Deus devem reagir diante de tais humilhações? A experiência de Davi serve para nós, homens de Deus, como exemplo de como devemos proceder. Para tanto, analisemos os fatos e as respectivas atitudes dos dois personagens desta narrativa.

1. O ungido apedrejado

1.1. Apedrejado pelas palavras - "... atirava pedras... Amaldiçoando-o, dizia Simei: Fora daqui, ... homem de Belial" (v. 5)

Pedras e palavras têm algo em comum: elas servem tanto para construir como para destruir. Palavras podem ser proferidas tais como pedradas atiradas na alma de alguém com o propósito único de machucar. As palavras de Simei expressavam nada mais que violência verbal de desrespeito vergonhoso ao seu rei, uma autoridade instituída por Deus, que atravessava pelo pior de todos os momentos de sua vida, tornando-se vítima da incompreensão impiedosa por parte do tal Simei. Com sua alma angustiada pela dor que sentia por um filho assassinado, outro filho traidor que procurava mata-lo, deposto do trono, exilado de sua pátria, como fugitivo errante tentando sobreviver, Davi prosseguia em silêncio sem reagir.
As palavras de Simei eram fruto da ingratidão manifesto de forma cruel. Simei deveria ser grato a Davi por sua vitória sobre Golias pela qual o seu povo foi liberto da ameaça dos filisteus (1Sm 17.45-47). Simei deveria ser grato a Davi por duas vezes ter poupado a vida de Saul quando o teve em suas mãos. Davi não reagiu às agressões verbais de Simei. Aqui aprendemos um princípio: Ao sermos apedrejados pelas críticas e a maledicência de quem nos despreza, o silêncio é a nossa melhor defesa.


1.2.    Apedrejado pelos sentimentos

Não só as agressões verbais, mas também os sentimentos dos agressores apedrejam a alma de homens de Deus. Não somente as pedras lançadas por Simei, mas também suas palavras e seu sentimento de rejeição apedrejaram o rei Davi. A verdade que aqui aprendemos é: o sentimento de rejeição forja conceitos injustos - "fora, fora, homem de sangue" (v. 7). Pior que o sentimento de rejeição é o sentimento de desprezo que produz insultos e humilhação – “homem de Belial" (v. 7).
Simei rejeitava Davi por duas razões: Primeiro, porque ele estava comprometido com a liderança do rei antecessor, pois era “um homem da casa de Saúl”. Segundo, porque o exército de Saúl foi derrotado pelo exército de Davi na batalha que decidiu sobre a posse do reino. Como consequência disso, sua gratidão a Davi pela derrota dos filisteus transformou-se em ódio mortífero, produzido pela inveja.


1.3.     Apedrejado pelas atitudes

A narrativa diz que "Simei ia ao longo do monte, defronte dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras contra ele, e levantava poeira" (v. 13). Quanta brutalidade! Que atitude infame! Como um insano, Simei havia descido às raias da bestialidade, própria dos seres destituídos de racionalidade. Davi estava sendo agredido e desafiado, quando deveria ser servido. Estava sendo ofendido e humilhado, quando deveria ser honrado. Tudo isto que Davi sofreu nos leva a aprender um princípio: Quem antes já nos honrou pode hoje nos apedrejar.


2.       O ungido resignado

Resignação e silêncio, e nada mais, foi tudo que restou a Davi. Com esta atitude tão nobre, embora dolorosa, Davi deixou para nós, homens de Deus, uma grande lição: é na resignação que repousa a serenidade da alma que nos leva a recusar a vingança (v. 9-10). Houve duas razões para Davi optar pela resignação (a não-vingança). A primeira é que ele admitia a possibilidade de estar sendo julgado por Deus - "Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? [...] Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o SENHOR lhe ordenou. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia." (vv. 10-12). 
         A segunda razão pela qual Davi optou pela resignação é que ele compreendia os sentimentos de seus adversários (v. 11). Em razão disso, dois grandes princípios Davi deixou para nós como legado. Primeiro, nenhum homem é agente da justiça divina. Segundo, a tolerância é o veículo que nos conduz à resignação.
Outro grande fato na experiência de Davi, ou de qualquer verdadeiro homem de Deus, é que o ungido resignado aguarda esperançoso a justa retribuição divina - o Senhor olhará para a minha aflição, e me pagará com bem a maldição deste dia (v. 12). Os verdadeiros homens de Deus agem assim porque reconhecem que a justiça é um ato da competência exclusiva divina e acreditam que Deus é o juiz de nossos atos e o Senhor de nosso destino.


Conclusão

Nenhum justo está isento de sofrer as mazelas oriundas da malevolência humana. Nem Jesus, o Filho de Deus, escapou; e o próprio Deus é a maior vítima, pois ele está sendo aviltado pelo pecado humano, o qual consiste não só numa atitude de rebeldia ofensiva ao Criador, mas também agride de forma brutal e infame a santidade divina. Até quando permitiremos que homens de Deus sejam agredidos e humilhados por quem arroga para si o direito de pertencer ao “rebanho de Cristo”? 
A igreja, quando se cala e se omite da responsabilidade de disciplinar tais “crentes”, ou quando ela mesma é autora da rejeição e humilha os homens de Deus, perde a identidade de Corpo de Cristo. Quando os que se dizem justos se calam e permanecem passivos, então seu silêncio diante do erro só tem duas explicações: covardia ou cumplicidade.
Acredito que nada resta ao ungido do Senhor, vítima de tais situações abusivas, senão, acreditar que nada escapa ao conhecimento divino e aguardar em silêncio a retribuição de Deus.





28 de julho de 2014

MISSÃO INTEGRAL - A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA - 2ª PARTE




Introdução
No estudo anterior – A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA (1ª PARTE) – abordamos os dois primeiros tópicos que foram: 1) A eleição e a vocação universal da igreja; 2) A missão de Jesus como padrão para a missão da igreja. Continuando o assunto, veremos neste estudo os dois tópicos seguintes que nos levarão a ter uma ideia do que realmente constitui a natureza missionária da igreja.


3. A igreja como extensão encarnacional de Cristo (Ef 1.15-23)
Na perícope de Ef 1.22-23, especificamente no último versículo, o apóstolo Paulo revela que a igreja, como corpo, é a extensão encarnacional da plenitude de Cristo. Uma vez que a igreja encarna a plenitude do ser de Cristo, há três implicações que decorrem deste grande mistério.
Em primeiro lugar, a igreja deve manifestar ao mundo a integridade do caráter de Deus. A comprovação deste fato se dá através de quatro fatores: a) Cristo é a reprodução perfeita da natureza e caráter de DeusEle é “a imagem do Deus invisível (Cl 1.15); “Nele habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade (Cl 2.19); b) Cristo, como imagem perfeita de Deus, está em nós (Rm 8.10; 2Co 13.5) e se constitui em padrão de integridade para todo verdadeiro cristão (Ef 4.13; Rm 8.29); c) A essência do ser de DeusPai, Filho e Espírito Santo – habita em nós (Jo 14.23; Ef 4.6; 1Co 3.16-17); d) A imagem de Deus, avariada pelo pecado, está sendo restaurada em todos os regenerados (2Co 3.19). Desta forma, a conclusão a que se pode chegar é que a igreja, como corpo de Cristo, é o projeto da habitação da plenitude divina. Quando Deus tiver definido o estado eterno da humanidade e da criação, então, ele será tudo em todos (1Co 15.28).
Em segundo lugar, a igreja é no mundo a detentora da autoridade divina. Três aspectos da igreja manifestam tal autoridade: a) a igreja é portadora das chaves do reino dos céus (Mt 16.19; 18.18); b) a igreja é a embaixada do reino de Cristo no mundo dos homens (2Co 5.19); c) a igreja é reino sacerdotal no mundo das nações (1Pe 2.9).  A igreja é instância da autoridade sobrenatural de Deus no mundo. Os principados e potestades, que “capturaram” a humanidade e transformaram o mundo emimpério das trevas”, estão subjugados pelo poder do Soberano do Universo que domina sobre tudo e todos como cabeça da igreja, a qual é o seu corpo e “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.23).
Em terceiro lugar, a igreja concretiza no mundo os eternos desígnios de Deus. A razão de existir da igreja é a missão que ela exerce no mundo, para concretizar os desígnios de Deus. Isto significa que a igreja deve: a) servir como agência de salvação para o mundo (Mt 16.18); b) mediar a reconciliação do mundo com Deus (2Co 5.18-19); c) viabilizar o projeto de reconstrução da humanidade (Ef 4.22-24; Cl 3.9-10). O propósito último de Deus visa reconstruir toda a criação, começando pelo homem. Na primeira criação, Deus começou com o mundo físico e terminou com o homem; na segunda, ele começa com o homem, transformando-o em nova criatura (2Co 5.17), e termina com o “novo céu e a nova terra” (Is 65.17; 66.22; Ap 21.1, 5).

4. A razão da missão cristã no mundo
A razão principal que justifica a intervenção de Deus no mundo, antes por meio de Jesus e agora por intermédio da igreja, é o estado de perdição do mundo. O mundo está perdido espiritualmente, “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Como resultado, o pecado produziu a degeneração da raça e a condenação do mundo (Rm 1.18-32).
O mundo está perdido socialmente, pois a sociedade distanciou-se de Deus, invertendo os valores éticos, desrespeitando a lei divina e violando os direitos humanos estabelecidos pelo Soberano Legislador do universo. Por esta razão, “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça (Rm 1.18).
O mundo está perdido economicamente. Todos se curvam sob o peso de um sistema explorador, onde o acúmulo excessivo de riquezas por parte de alguns produz o estado de alienação, pobreza e miséria em que vive a maioria da população mundial. Por esta razão, a exploração assolou todos os níveis das relações econômicas e o trabalhador é a sua maior vítima, como denunciou Tiago: Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos (Tg 5.4). Em sua crítica à situação cada vez mais agravante e caracterizada por uma crise socioeconômica e política do mundo contemporâneo, onde a igreja se acomoda mesmo diante do antagonismo de valores, Padilla é de parecer que quando a igreja se acomoda ao espírito da época para evitar o conflito, ela “perde a dimensão profética de sua missão e se converte em guardiã do status quo. Torna-se sal que perdeu seu sabor”.[1]

Conclusão
Não pode haver missão sem que a igreja assuma aquilo que ela realmente é em sua natureza: a extensão encarnacional de Cristo. Por outro lado, qualquer que seja a comunidade cristã local que não estiver plenamente ciente da razão de estar no mundo, ocupar-se-á com qualquer atividade religiosa, deixando de ser um empreendimento divino, para tornar-se um clube religioso. Jamais esqueçamos do propósito para o qual a igreja foi instituída por Deus: servir como agência de salvação para o mundo.







[1] René PADILLA. Ibdem, p. 69.

15 de julho de 2014

NA ESPERANÇA DO PERDÃO



TEXTO: Sl 51.1-19

Introdução

O rei Davi foi um homem extraordinário. Era um homem sobre quem Deus fez repousar o Seu Espírito. As Escrituras o descrevem como um homem segundo o coração de Deus. Devemos a ele a autoria da maior parte dos salmos da Bíblia. Ele foi um poeta e músico apaixonado pelo louvor a Deus. Mas, lamentavelmente, houve um dia em que ele cometeu um pecado hediondo, um dos mais infames, que somente os homens mais desprezíveis atrevem-se a cometer: o rapto de uma mulher casada, Bat-Seba (em hebraico significa “filha de um juramento”), a qual, inescrupulosamente, estuprou e, para apoderar-se dela definitivamente, planejou e realizou, de forma traiçoeira, vergonhosa e covarde, a morte de Urias (seu nome, em hebraico, significa “Deus é minha luz”), esposo de Bat-Seba, um dos mais bravos e fiéis guerreiros do exército de Israel.

Esmagado pelo sentimento de culpa, Davi escreveu o Salmo 51, implorando o perdão de Deus. Isto nos leva a crer que qualquer filho de Deus está sujeito a uma queda brutal, mas, caso se arrependa verdadeiramente, pode alcançar o perdão divino. Perdão é o ato gracioso divino pelo qual Deus se recusa a executar o juízo de condenação sobre um pecador arrependido. Perdão é o ato da bondade divina pelo qual Deus, somente por sua infinita misericórdia, poupa o mais miserável de todos os pecadores de sua justa condenação. O arrependimento é o recurso mais valioso do qual o pior dos pecadores dispõe para alcançar o perdão de Deus. Quando em nós se manifesta um arrependimento legítimo, adotamos três atitudes, como segue.

        A gravidade do nosso pecado é expressa de duas formas. Em primeiro lugar, o pecado é uma atitude de agressão a Deus – “Pequei contra ti, contra ti somente...” (v. 4). Não importa o que seja, o mal que fazemos a alguém agride a santidade divina, pois todo ser humano é portador da imagem do seu Criador.
Primeira atitude: reconhecemos a gravidade do nosso pecado

Em segundo lugar, o pecado, ainda que o consideremos inofensivo, é – e sempre haverá de ser – fruto pernicioso da maldade humana – “... fiz o que é mau perante os teus olhos...” (v. 4-5). Lamentavelmente, somos pessoas más. Jesus disse: “Ninguém é bom, senão um, que é Deus” (Mc 10.18).

Segunda atitude: apelamos com ansiedade pela misericórdia de Deus
        “Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; apaga as minhas transgressões, segundo a multidão das tuas misericórdias(v. 1). Somente a misericórdia de Deus pode trazer alívio para a alma esmagada pelo sentimento de culpa. Pois eu conheço as minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim(v. 3). O remorso é um peso esmagador da alma culpada que rouba a paz e atormenta a consciência. Portanto, nada além da misericórdia de Deus nos move à busca do perdão.

A misericórdia de Deus livra a alma da sentença do juízo divino – “... serás tido por justo no teu falar e puro no teu julgar” (v. 4). Quando somos alcançados pela graça de Deus, nosso Pai amoroso, nada além do mais profundo alívio espiritual inunda nossa alma, removendo de nós a dor da consciência. Perdão, mais do que alívio, é consolo, é refrigério para alma.

Terceira atitude: acreditamos no poder transformador de Deus.
         Enquanto o pecado corrompe o caráter, corrói a alma e esmaga a consciência, a sublime graça e o maravilhoso perdão divino têm efeito restaurador, renovando o interior do homem – Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito estável(v. 10). Mais que isso, o poder transformador divino restaura a alegria do espírito deprimido – Faze-me ouvir júbilo e alegria, para que se regozijem os ossos que esmagaste (v. 8) – Restitui-me a alegria da tua salvação, e sustém-me com um espírito voluntário(v. 12). Finalmente, o poder transformador de Deus nos oferece a oportunidade de uma compensação, a de servirmos a Deus com dedicação – Então ensinarei aos transgressores os teus caminhos, e pecadores se converterão a ti (v. 13).

Conclusão
        Não nos iludamos, o pecado é produto da maldade humana que agride a santidade de Deus. Quão triste e horrível é viver com o peso esmagador de uma consciência culpada. Não importa quão graves tenham sido os nossos atos e quão destruidores os danos que eles causaram, há para todos nós a maravilhosa esperança do perdão. Nada, além do perdão divino, pode eliminar os efeitos que o pecado produz na alma humana. Somente o perdão, como ato da bondade divina, pode trazer alívio para a alma esmagada pela culpa, renovando o interior do homem e reconduzindo-o ao serviço a Deus. Arrepende-te, agora! Corre para o altar de Deus! Chora a miséria dos teus pecados e, pela mediação de Jesus, Deus enxugará dos teus olhos toda lágrima, pois ele exclamou aos arrependidos: “Bem-Aventurados os que choram, porque eles serão consolados” (Mt 5. 4).  A graça do Senhor Jesus seja contigo.