25 de janeiro de 2016

O PLANO PEDAGÓGICO DE DEUS PARA O LAR

Texto Bíblico: Dt 6.1-9

Estes, pois, são os mandamentos, os estatutos e os juízos que mandou o SENHOR, teu Deus, se te ensinassem, para que os cumprisses na terra a que passas para a possuir; para que temas ao SENHOR, teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos que eu te ordeno, tu, e teu filho, e o filho de teu filho, todos os dias da tua vida; e que teus dias sejam prolongados. Ouve, pois, ó Israel, e atenta em os cumprires, para que bem te suceda, e muito te multipliques na terra que mana leite e mel, como te disse o SENHOR, Deus de teus pais. Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração; tu as inculcarás a teus filhos, e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e ao deitar-te, e ao levantar-te. Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.


Introdução

A família é uma instituição divina e, por isso, Deus é o fundamento da vida familiar e a sua Palavra é o manual de regência do lar. O texto supra citado revela que Deus designou a família como a instituição responsável por fazer de cada indivíduo uma pessoa temente a Deus. A razão disso é que Deus, em sua aliança com Abraão, prometeu que através dele e de sua descendência haveria de abençoar todas as famílias da terra (Gn 12.1-3; 22.15-18). Como filhos de Abraão segundo a fé (Gl 3.6-9), todos os cristãos são os canais da bênção prometida a todas as famílias da terra.
Servir a Deus é o propósito de existência de todo ser humano e a família é o ambiente que Deus preparou para que isso aconteça. Todo indivíduo é aquilo que as estruturas da família produziram nele; e o lar é o ambiente onde sua personalidade é forjada. A família é uma instituição pedagógica divina designada para habilitar cada ser humano a ter um relacionamento ajustado com o seu Criador.
A necessidade do ensino bíblico no lar justifica-se pelo fato de que todo comportamento é resultado de um processo pedagógico de aprendizagem. Para isso, Deus definiu uma estratégia para que a família cumpra o seu papel educativo no plano de Deus. Trata-se, portanto, do plano pedagógico divino que consiste dos seguintes elementos:

1. A fonte do ensino a Palavra de Deus – “mandamentos, estatutos e juízos” (v. 1).

2. O propósito do ensino – o temor e a obediência a Deus – “... para que temas ao Senhor teu Deus, e guardes todos os seus estatutos e mandamentos, que eu te ordeno...” (v. 2).

3. Os aprendizes todos da família – “tu, teu filho e o filho de teu filho” (v. 2).

4. O conteúdo do ensino – a dedicação total da vida a Deus – “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças” v. 5).

5. Os responsáveis pelo ensino – os pais – “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás aos teus filhos” (v. 7).

6. O ambiente propício – no lar e em qualquer lugar – “e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te (v. 7).

7. Os resultados esperados – as bênçãos de Deus – “para que bem te suceda e muito te multipliques” (v. 3).


Conclusão

A ignorância sobre Deus e seus desígnios tem sido a causa primária de vidas que se perdem, de casamentos desfeitos e de lares desmoronados. O plano pedagógico de Deus é a única alternativa que a família dispõe para evitar essa tragédia. Portanto, conheça a palavra de Deus e ensine-a seus filhos. Todo pai de família foi designado por Deus como sacerdote do lar e como mestre do seu filho. Portanto, se você, o chefe de sua família, não assumir esta função, saiba que o diabo se encarregará de prover um substituto em seu lugar. O resultado disso já sabemos qual será. Portanto, faça do seu lar a melhor escola do mundo e desfrute com sua família dos resultados maravilhosos, que são as bênçãos prometidas por Deus a todos os que adotam o plano pedagógico divino.




20 de janeiro de 2016

OS FALSOS E OS VERDADEIROS CRISTÃOS



TEXTO: Tiago 2.1-26


A fé sem obras é morta

Fé e Obras

 “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.  Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé. Crês, tu, que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem. Queres, pois, ficar certo, ó homem insensato, de que a fé sem as obras é inoperante? Não foi por obras que Abraão, o nosso pai, foi justificado, quando ofereceu sobre o altar o próprio filho, Isaque? Vês como a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito, foi pelas obras que a fé se consumou, e se cumpriu a Escritura, a qual diz: Ora, Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça; e: Foi chamado amigo de Deus. Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente. De igual modo, não foi também justificada por obras a meretriz Raabe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro caminho? Porque, assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta”. (Tg 2.14-26).


Introdução
Esta passagem bíblica é o âmago da Epístola de Tiago, cujo tema está diretamente relacionado à prática das obras como critério de legitimação da fé. Ele propugna a ideia de que somente através da prática de boas obras é que uma pessoa pode ser identificada como um verdadeiro crente.  Caso contrário, sua fé é espúria, inútil. Muitos cristãos cometem o erro fatal de acreditar que estão salvos por terem sido batizados após sua pública profissão de fé em Jesus. Não nossas palavras, mas nossos atos comprovam a legitimidade da fé que professamos. A verdade central desta passagem é a seguinte: a prática ou a omissão das obras identificam, respectivamente, os verdadeiros e os falsos cristãos. Como demonstração desta verdade, Tiago aponta detalhes que nos habilitam a fazermos a distinção entre os falsos e os verdadeiros cristãos.

1.   Características dos falsos cristãos (v. 14-19)
      
      1.1. A primeira é a hipocrisia de seu caráter (v. 14-17).

Tais pessoas nunca praticam aquilo que dizem. Afirmam com veemência “eu creio!” – e até são sinceras ao afirmarem isso – mas são omissas no que diz respeito às obras. “Qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? (2.14). Esta é a questão fundamental levantada por Tiago. A resposta, embora implícita, não pode ser outra, senão: Nunca! Isso é impossível.
Mesmo afirmando veementemente que creem, os omissos manifestam sua hipocrisia por meio de sua falsa piedade. Ao ver pessoas pobres (até mesmo irmãos) desprovidos dos recursos básicos para sobrevivência – “carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano” (2.15) – tais pessoas, esforçando-se por parecer bondosas, dizem com cortesia: “Ide em paz” (palavra de bênção), “aquecei-vos e fartai-vos” (palavra de consolo), mas se eximem da responsabilidade de suprirem os necessitados, estando no seu alcance fazê-lo (2.16). Tais pessoas são testemunhas audazes de sua fé morta (2.17).

Princípio a ser aplicado: - Uma forma de vida que nada custa não vale nada.

1.2. A segunda característica do falso cristão reside no engano de sua falsa crença (v. 18-19).

Nos versículos 18 e 19, Tiago pressupõe a possibilidade de uma crença falsa predominar no seio da igreja. Suas palavras de argumentação nos levam a perceber que esta concepção errada é fatal para a vida eclesiástica. A razão disso é o possível surgimento de um antagonismo doutrinário divisor de opiniões entre extremistas defensores da fé, por um lado, e radicais defensores das obras, por outro. Eles já estão ativos em nossos dias. O que foi uma possiblidade no passado remoto hoje é realidade.
Sendo ambos irredutíveis, deixam-se levar por aquilo que os dominam: a carne. A rivalidade se estabelece quando alguém, fazendo uso das Escrituras, diz: “Tu tens fé, eu tenho obras” (2.18). Pronto, o conflito já se estabeleceu no campo da soteriologia: a doutrina da justificação. Agora, novos e diferentes conceitos serão atribuídos tanto à “fé” (como sendo de fonte divina) como também às “obras” (como sendo de fonte humana). Os ânimos são excitados e a polêmica prossegue: “... mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, mostrarei a minha fé” (2.18).
Segundo Tiago, a atitude dos adeptos da “fé sem obras” torna-os semelhantes aos demônios. “Crês tu que Deus é um só? Fazes bem. Até os demônios creem e tremem” (2.19). Ao levantar esta questão, Tiago não contempla o pecador perdido, necessitado de uma legítima conversão. Ele está se referindo a pessoas que professaram sua fé em Cristo (2.1), mas não deram nenhuma evidência de que são realmente regenerados. Tiago entende que tais pessoas são crentes de religião sem compromisso, de uma fé irresponsável. Crentes deste tipo têm algo em comum os demônios: ambos “creem”; mas apenas em um aspecto são distintos: os demônios “tremem” (2.19). Fé sem obras é passaporte para o inferno.
Desvios doutrinários só surgem quando emergem de uma interpretação eixegética e não exegética. O conflito aqui é semelhante ao antagonismo inconciliável entre calvinismo e arminianismo. Quando uma doutrina é mal interpretada na igreja, os danos são terríveis e o pior deles é a divisão, a facção que rompe a comunhão, excita o ódio dos radicais e a rebeldia dos insubmissos. Sentimentos e emoções exacerbados ocupam o lugar do bom senso e da razão, e o amor é substituído pela intolerância, culminando no ódio. Pela quebra da unidade, como resultado do conflito, duas novas “igrejas” emergirão dando origem a duas novas “denominações”: a igreja da fé e a igreja das obras. Cada uma delas, acreditando ser a detentora exclusiva da verdade, irá propugnar sua doutrina, visando ganhar novos prosélitos. Apenas uma coisa em comum ainda irão preservar: ambas vão usar a mesma Bíblia.
Uma vez que as Escrituras não se contradizem e a regra fundamental da Hermenêutica reza que a Escritura é interpretada pela Escritura, deduzimos que a teologia de Paulo da justificação pela fé (salvadora) sem as obras não é incompatível com a tese de Tiago, de que as obras dão legitimidade à fé (salvadora). Uma teologia (a de Tiago) complementa a outra (a de Paulo). São como duas faces de uma mesma moeda. O paradoxo é explicado pelo fato de que Paulo se refere ao pecador fora de Cristo, em seu estado de impiedade, antes da regeneração, enquanto Tiago se reporta ao pecador convertido, após a regeneração. Significa dizer que, embora sejamos salvos pela soberana graça divina, por meio da fé que nos é concedida como dom de Deus (Ef 2.8), e não por meio das obras para que ninguém se glorie (Ef 2.9), tal salvação implica, logicamente, num resultado imediato: a prática das “boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Assim, a visão de Paulo se harmoniza com a visão de Tiago.

Princípio a ser aplicado: A fé justifica a vida e as obras justificam a fé.

2.  Características dos verdadeiros cristãos (v. 20-26)

2.1.    A submissão e obediência a Deus (v. 21-23).
Dando prosseguimento a seus argumentos, Tiago apresenta dois exemplos de crentes verdadeiros, um homem e uma mulher, Abraão e Raabe. Ele descreve Abraão com o perfil de uma pessoa que manifesta verdadeira fé, citando a maior prova de submissão e obediência a Deus que um pecador pode dar: o sacrifício de seu próprio filho. Nos versículos 20 a 23, Tiago declara que pela atitude de Abraão, “a fé operava juntamente com as suas obras; com efeito foi com as obras que a fé se consumou” (2.22), dando cumprimento à Escritura que afirma: “Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado para justiça” (2.23). A exemplo de Abraão, os atos de obediência dos verdadeiros crentes justificam sua fé. Portanto, aprovados pela fé, são reputados como justos aos olhos de Deus.

2.2.    Uma vida transformada (v. 25)

Verdadeiros cristãos seguem o exemplo de Raabe. Ela era uma cananeia habitante de Jericó. Os cananeus eram descendentes de Canaã sobre quem Noé, seu avô, lançara uma terrível maldição (Gn 9.24-27). Raabe já tivera conhecimento de quem eram os hebreus e de como o seu Deus havia tratado os egípcios e os povos que se levantaram como inimigos dos hebreus. Ela sabia que o Rio Jordão se abriu para dar passagem a mais de meio milhão de homens armados para invadir sua cidade e destruir seu povo. O testemunho que ela deu aos dois espias é realmente impressionante: Bem sei que o Senhor vos deu esta terra, e que o pavor de vós caiu sobre nós, e que todos os moradores da terra se derretem diante de vós. Porque temos ouvido que o Senhor secou as águas do Mar Vermelho diante de vós, quando saístes do Egito, e também o que fizestes aos dois reis dos amorreus, Siom e Ogue, que estavam além de Jordão, os quais destruístes totalmente. Quando ouvimos isso, derreteram-se os nossos corações, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor vosso Deus é Deus em cima no céu e embaixo na terra(Josué 2.9-11).
Sua única alternativa era refugiar-se no Deus de Israel. Portanto, num ato de verdadeira fé, ela apostou sua vida em Deus. Movida pela fé e pela esperança de compartilhar da bênção derramada sobre os hebreus, ela arriscou sua própria vida, protegendo os espiões enviados por Josué à cidade de Jericó. Fez isso como ato de abnegação, de verdadeiro altruísmo, pelo dever de obediência que sua fé em Deus lhe impunha.
Altruísmo é uma atitude de abnegação. O altruísta reconhece que o fim da conduta humana é o bem do outro e não o do seu próprio ser. O cristão altruísta sempre age motivado pelo senso do dever a cumprir, reconhecendo que as boas obras são uma imposição da fé em obediência a Deus. Por isso, as obras justificam (legitimam) a fé.
Há outro lado da vida de Raabe: a transformação completa de sua vida. Ao receber a promessa de abrigo e amparo para ela e toda a sua família, Raabe encontrou em Israel, o povo santo de Deus, um futuro melhor e uma vida totalmente transformada. Seu passado haveria de ser apagado da memória de todos que a conheceram como prostituta e a viram na miséria. Por causa de sua fé, seu passado infame foi sepultado pelo perdão de Deus no vale do esquecimento e ela se tornou uma mulher santa, tão santa quanto as mulheres israelitas. O perdão de Deus e sua santidade de vida deram-lhe uma nova reputação.
O melhor de tudo, em sua história de vida, é que Raabe se casou com alguém da família sacerdotal de Arão e seu nome aparece na lista dos ancestrais de Jesus, o nosso Salvador. Veja o que a Escritura diz: “... a Arão nasceu Aminadabe; a Aminadabe nasceu Nasom; a Nasom nasceu Salmom; a Salmom nasceu, de Raabe, Booz; a Booz nasceu, de Rute, Obede; a Obede nasceu Jessé; e a Jessé nasceu o rei Davi...” (Mt 1.4-6).

Princípio a ser aplicado: as obras testificam da fé de pecadores verdadeiramente convertidos.

Conclusão

Certos tipos de árvores produzem certos tipos de frutos. Assim também é nossa fé. Se estamos em busca de verdadeiros crentes, devemos procurar pessoas cujas obras proclamam a fé que professam ter; pessoas cujos atos são coerentes com suas palavras. O princípio que rege a carta de Tiago descreve a religião como pragmática. Sem as boas obras, nos diz Tiago, a fé dos que dizem ser crentes é inútil. Para ele, tais pessoas estão espiritualmente mortas. Elas e os demônios têm algo em comum: ambos creem; em apenas num aspecto são distintos: os demônios estremecem.
Tiago nunca acreditou que somos salvos pelas obras. Não há absolutamente nada que possamos dizer ou fazer que acrescente algo ao que Jesus já fez na cruz. Portando ele nos ensina que podemos reconhecer a fé salvadora por meio das obras que ela produz na vida dos que creem. Tiago nos desafia a examinarmos nossa consciência e avaliarmos os nossos atos para que nossa fé seja julgada e nossa identidade reconhecida. Sejamos cristãos autênticos, cujas obras testifiquem a veracidade da fé que professamos.


8 de dezembro de 2014

QUANDO O HOMEM SE COMPROMETE COM DEUS

TEXTO: Miquéias 6.1-8

1 Ouvi, agora, o que diz o Senhor: Levanta-te, defende a tua causa perante os montes, e ouçam os outeiros a tua voz. b
2 Ouvi, montes, a controvérsia do Senhor, e vós, duráveis fundamentos da terra, porque o Senhor tem controvérsia com o seu povo e com Israel entrará em juízo. c

3 Povo meu, que te tenho feito? E com que te enfadei? Responde-me!
4 Pois te fiz sair da terra do Egito e da casa da servidão te remi; e enviei adiante de ti Moisés, Arão e Miriã.
5 Povo meu, lembra-te, agora, do que maquinou Balaque, rei de Moabe, e do que lhe respondeu Balaão, filho de Beor, e do que aconteceu desde Sitim até Gilgal, d para que conheças os atos de justiça do Senhor. e

6 Com que me apresentarei ao Senhor e me inclinarei ante o Deus excelso? Virei perante ele com holocaustos, com bezerros de um ano?
7 Agradar-se-á o Senhor de milhares de carneiros, de dez mil ribeiros de azeite? Darei o meu primogênito f pela minha transgressão, o fruto do meu corpo, pelo pecado da minha alma?
8 Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus. g

Introdução
Constituído em uma sociedade teocrática, Israel era um país regido por leis divinas. A religião impunha um padrão de relações pelo qual as estruturas sociais, as esferas de poder e a vida econômica de Israel eram definidas pela Lei de Deus. Mas infelizmente, durante o período da monarquia, Israel se tornou uma nação degenerada. A imoralidade, a violência e a perversão do direito e da justiça atingiram níveis insuportáveis e a nação mergulhou numa crise espiritual sem precedentes, exigindo uma intervenção urgente de Deus. Esta é a razão pela qual Deus levantou o profeta Miquéias. Sua missão era restaurar espiritualmente a nação para que fosse restabelecida a ordem no país.
Miquéias anunciou com precisão o que Deus esperava de seu povo. “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”. Com esta declaração, o profeta revelou a Israel que a verdadeira espiritualidade é fruto de uma relação comprometida com Deus.
Como se mede a espiritualidade de um crente? Que sinais indicam que uma pessoa apresenta a Deus um verdadeiro culto? A espiritualidade de um adorador não se mede pelo grau de sua emoção, nem pelos jargões que exclama, mas pelo padrão de sua relação com Deus e com as outras pessoas. Portanto, a mensagem que vou apresentar agora se resume nisto: o verdadeiro culto é a expressão humana de uma relação comprometida com Deus. Quando o homem se compromete com Deus, ele faz quatro descobertas:


1. Descobre que o pecado é o único elemento de controvérsia entre Deus e o homem (v. 1-2)
O propósito de Deus revelado na aliança do Sinai era fazer de Israel, uma nação santa para exercer uma missão sacerdotal no mundo. Mas o povo quebrou sua aliança com Deus, tornando-se uma nação perversa e rebelde.
Deus é santo e inimigo de toda injustiça. Santidade e retidão são atributos exigidos de quem se relaciona com Deus. Por esta razão, todo aquele que segue o caminho da desobediência se opõe ao desígnio de Deus e torna-se réu do juízo divino.

2. Descobre que a bondade do caráter divino traz à luz a perversidade da natureza humana (v. 3-5)
Deus está isento de qualquer responsabilidade pelos pecados do seu povo. Nada justifica a conduta ímpia do homem, uma vez que Deus sempre tem manifestado sua graça e sua misericórdia através de seus atos redentores.
Deus trouxe a lembrança do passado, de como ele libertou Israel da escravidão do Egito, de como cuidou dele durante a peregrinação no deserto e de como o abençoou, quando Balaão foi pago por Balaque para amaldiçoar Israel.
Deus é a essência do Supremo Bem e fonte de toda bondade. Uma vez que Deus fez o homem bom, nada além da liberdade humana justifica o pecado. A soberania de Deus não anula a responsabilidade humana. O homem é sujeito de seus próprios atos e, por isso, é culpado perante Deus. Pecado é a pretensão soberba do homem de viver independente de Deus.

3. Descobre que religião sem compromisso é abominação repugnante que avilta a santidade de Deus (v. 6-7)
O profeta questiona sobre qual o tipo de adoração e serviço é aceito por Deus. Estaria Deus interessado nas formalidades de um ritual religioso destituído da verdadeira espiritualidade? As perguntas do profeta eram uma declaração de que as oferendas de um falso adorador são a expressão da atitude blasfema de tentar subornar a Deus para torná-lo conivente com o pecado
Religião sem compromisso, além de ser inútil, é abominável perante Deus. A falsa adoração é uma atitude maligna e blasfema que consiste na tentativa humana de corromper a natureza e o caráter de Deus. Por isso, a alma de todo falso adorador, em vez de refletir a imagem de Deus, manifesta o caráter de Satanás. Jamais nos esqueçamos de que Deus é um ser incorruptível, santo, justo e perfeito em todos os seus atos e exige de nós santidade. "Sede santos, porque eu, o Senhor, sou santo" (Lv 20.7).

4. Descobre que o homem só goza de comunhão com Deus quando vive uma relação ajustada com o seu próximo (v. 8)
Deus responde às demandas do seu povo manifestando sua vontade, exigindo que cada adorador viva uma relação ajustada e correta com Deus e com o seu semelhante, sendo justo, misericordioso e humilde. Justiça e misericórdia são padrões éticos da relação do indivíduo com o seu semelhante, enquanto a humildade é o padrão que define o caráter da relação entre o homem e Deus.
Justiça é a expressão do dever individual humano de ver o outro como Deus o vê e tratar o outro como Deus o trata. Misericórdia é a expressão de bondade da natureza de Deus que deve fluir através do caráter humano. Humildade é virtude através da qual o homem abate o seu próprio orgulho para submeter-se à autoridade divina.
As Escrituras dizem que a vontade de Deus é boa, agradável e perfeita. Portanto, o interesse de um verdadeiro adorador consiste em agradar a Deus, realizando a sua vontade. O culto verdadeiro é a expressão de uma relação pessoal comprometida que o adorador mantém com Deus e com o seu semelhante. Quando o adorador pratica a justiça e usa de misericórdia para com o próximo, ele se torna parecido com Deus; e quando ele se humilha perante Deus, ele se torna parecido o homem idealizado por Deus.

Conclusão
Meu amado irmão, Deus sabe que tipo de adorador é você. Nunca tente disfarçar porque Deus é onisciente. Portanto, lembre-se de que você não conseguirá ir muito longe enganando a todos e a si próprio. Diante disso, quero reafirmar o que disse no início desta mensagem: a verdadeira espiritualidade é fruto de uma relação comprometida com Deus.
Somente uma relação comprometida com Deus leva o homem a descobrir que o pecado é o único elemento de controvérsia entre Deus e o homem; que a bondade do caráter divino traz à luz a perversidade da natureza humana; que religião sem compromisso é abominação repugnante que avilta a santidade divina; e, finalmente, o homem só goza da comunhão com Deus quando vive uma relação ajustada com o seu próximo.
Deus o ama e se recusa a deixá-lo como você está. Não mais a sua salvação, mas a sua espiritualidade é a maior preocupação de Deus agora. A não ser que você tenha de verdade uma relação pessoal comprometida e ajustada com Deus e o seu semelhante, você agora está sendo chamado a vir ao altar da consagração e começar uma nova relação com Deus e sua igreja.



6.1 Cf. Dt 32.1Sl 50.1-6Is 1.2.
6.2 Is 3.13-15Os 4.1-612.2.
6.5 Desde Sitim até Gilgal: Sitim foi o último lugar onde Israel acampou antes de cruzar o Jordão, e Gilgal, o lugar do seu primeiro acampamento a oeste desse rio. A frase refere-se a um período crítico e muito importante na história de Israel: o da entrada na Terra Prometida (cf. Js 3—4). Ver o Índice de Mapas.
6.3-5 Para realçar mais a infidelidade e ingratidão de Israel, enumeram-se algumas manifestações do Senhor a seu favor: a libertação do Egito (Êx 12.50-5120.2Dt 5.6); o chamado de Moisés, Arão (Êx 3.1—4.17,27-30) e Miriã (Êx 15.20); e a bênção de Balaão ao povo (Nm 22—24Dt 23.5).
6.7 Darei o meu primogênito: O sacrifício do filho primogênito, praticado algumas vezes pelos cananeus, estava terminantemente proibido em Israel (Lv 18.2120.2-5Dt 12.3118.10cf. 2Rs 16.321.6). O primogênito era objeto de uma bênção especial (Gn 27.1-4), e a ele correspondia uma porção dobrada da herança do pai (Dt 21.17).
6.6-8 Estes vs. resumem admiravelmente a pregação moral dos profetas. Miquéias retoma assim o conceito de justiça presente em Amós (Am 5.21-25), o conceito de fidelidade e misericórdia, em Oséias (Os 1—3) e os de fé e humildade, em Isaías (cf. Is 2.6-177.8-9). Deus rejeita aqueles sacrifícios que são práticas meramente exteriores (cf. 1Sm 15.22-23Pv 21.3Is 1.11-14Os 6.6Zc 7.9-10).
Sociedade Bíblica do Brasil. (1999; 2005). Bíblia de Estudo Almeida - Revista e Atualizada (Mq 6:8). Sociedade Bíblica do Brasil.

27 de novembro de 2014

LIBERDADE E RESPONSABILIDADE


"Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus" (1Pe 2.15-16).
Introdução
Você sabe como, nos dias de hoje, podemos distinguir um cristão verdadeiro de um ímpio? Independente de qual seja a sua ou a minha resposta, Deus tem uma opinião formada sobre isso. Para Deus, a distinção está na conduta. O caráter de uma pessoa é identificado pela forma como ela se comporta. Nossa conduta define o tipo pessoa que somos. Por esta razão, a Palavra de Deus nos diz: “não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia”.
Todo cristão é uma pessoa livre diante dos homens, mas responsável perante Deus. Por isso, é que Deus nos responsabiliza pelo uso que fazemos da liberdade que ele nos deu. Sabendo que Deus é a fonte de toda exigência moral, o verdadeiro cristão adota dois valores que o distinguem de um ímpio:

1. O senso de responsabilidade – “como livres que sois”
1.1. A liberdade faz de cada indivíduo o sujeito responsável pelas decisões que toma (1Co 6.12)
1.2. A liberdade faz de cada indivíduo o sujeito responsável pelos atos que pratica (Gn 4.7)
1.3. A liberdade faz de cada indivíduo o sujeito responsável por cada palavra que diz (Mt 12.36-37)
Verdade Aprendida: Responsabilidade é o encargo moral que deriva do atributo da livre agência.

2. O respeito aos limites – “como pretexto da malícia”
O abuso da liberdade produz três consequências trágicas:
2.1.     Escandaliza os novos na fé (1Co 8.9)
2.2.     Estimula a licenciosidade dos carnais (Gl 5.13-21)
2.3.     Justifica sua condenação ao inferno (Mt 18.7-9; Mt 7.21-23)
Verdade Aprendida: Licenciosidade é o molde do caráter infame dos libertinos. Libertino é um indivíduo sem escrúpulos, um violador consciente dos padrões morais.

Conclusão
Amados, a Escritura diz: para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Portanto, não nos esqueçamos jamais de que somos livres diante dos homens, mas responsáveis perante Deus.   A liberdade nos desafia a sermos sábios nas decisões que tomamos; corretos, em cada ato que praticamos; e decentes em cada palavra que falamos. Liberdade é um direito; responsabilidade é um dever. Ande no Espírito e seja responsável para que tenha o direito de ser livre.

24 de agosto de 2014

ENVIADO POR DEUS E REJEITADO PELO HOMEM


TEXTO: 2Sm 16.5-14

“Tendo chegado o rei Davi a Baurim, eis que dali saiu um homem da família da casa de Saul, cujo nome era Simei, filho de Gera; saiu e ia amaldiçoando. Atirava pedras contra Davi e contra todos os seus servos, ainda que todo o povo e todos os valentes estavam à direita e à esquerda do rei. Amaldiçoando-o, dizia Simei: Fora daqui, fora, homem de sangue, homem de Belial; o SENHOR te deu, agora, a paga de todo o sangue da casa de Saul, cujo reino usurpaste; o SENHOR já o entregou nas mãos de teu filho Absalão; eis-te, agora, na tua desgraça, porque és homem de sangue.
Então, Abisai, filho de Zeruia, disse ao rei: Por que amaldiçoaria este cão morto ao rei, meu senhor? Deixa-me passar e lhe tirarei a cabeça. Respondeu o rei: Que tenho eu convosco, filhos de Zeruia? Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? Disse mais Davi a Abisai e a todos os seus servos: Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o SENHOR lhe ordenou. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia.
Prosseguiam, pois, o seu caminho, Davi e os seus homens; também Simei ia ao longo do monte, ao lado dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras e terra contra ele. O rei e todo o povo que ia com ele chegaram exaustos ao Jordão e ali descansaram”.

Introdução
O presente artigo é fruto de meu sentimento de humilhação e vergonha, escrito com minhas lágrimas.  Em minha experiência de ministério, sendo vítima da rejeição injusta por parte de algumas pessoas com quem me deparei em duas das igrejas que já pastoreei, cheguei a concluir que o perfil de algumas igrejas atuais é uma réplica do antigo Israel, da época dos profetas.
Algumas igrejas dos nossos dias estão tratando os seus pastores como os filhos de Israel trataram os homens que por Deus lhes foram enviados. A história se repete, manifestando duas realidades incontestáveis. A primeira é o envio de homens vocacionados para servirem como portadores de uma mensagem de procedência divina com o propósito de edificar o povo de Deus. A segunda é a rejeição vergonhosa e humilhante a tais profetas por parte dos que afirmam ser povo de Deus.
Todos os profetas, sem exceção de nenhum, foram rejeitados de forma humilhante e violenta pelo povo de Deus. “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados!” foi o clamor do Filho de Deus, com seu rosto banhado de lágrimas e seu coração dilacerado pela dor da rejeição que sofreu por parte do povo que ele amou e pelo qual morreu.
Davi, o rei de cuja descendência nasceu o nosso Salvador, foi também vítima de uma das mais desprezíveis atitudes de rejeição por parte de Simei, “um homem da família da casa de Saul”, o rei que antecedeu Davi e que, durante anos, o perseguiu com ódio e tentou assassiná-lo várias vezes.
Absalão, filho de Davi, depois de conspirar com diversos líderes, uniu forças militares para lutar contra seu próprio pai, a fim de usurpar-lhe o trono. O rei Davi, então, para não ter que enfrentar seu próprio filho em uma batalha, montado em um jumento (não em um cavalo) figurando um homem simples do povo, fugiu de Jerusalém, deixando atrás de si a opulência do seu palácio e a glória de sua coroa.
Ao atravessar as ruas da cidade de Baurim, Simei, proferindo maldições e lançando pedradas, contra Davi, vociferava com fúria incontrolável: Sai, sai, homem sanguinário, homem de Belial! ... O Senhor te deu a paga... eis-te agora na tua desgraça... homem sanguinário” (2Sm 16.7-8). Quando Absai, guerreiro fiel, pediu a Davi autorização para decapitar com sua espada o furioso e maldizente Simei, Davi recusou retribuir o mal com o mal. Sua reação foi: “Deixai-o; que amaldiçoe [...]. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia”. Que nobreza de atitude! Quanta virtude no caráter deste homem! Este é um dos aspectos da personalidade de Davi que o caracterizou como “o homem segundo o coração de Deus” (At 13.22).
Tal como o rei Davi e os profetas do Antigo Testamento, ainda hoje, alguns pastores são, às vezes, tratados com desprezo, sofrem humilhações e agressões verbais publicamente por parte de membros da igreja que se dizem ser "povo de Deus", sem que nenhuma medida disciplinar lhes seja aplicada, permanecendo na impunidade e servindo de “exemplo” para as gerações mais jovens.
A falta de respeito para com um ministro do evangelho é o testemunho vivo da “brutalidade espiritual” por parte daqueles que nunca tiveram temor a Deus. Diante de tal fato, questionamos: Como os verdadeiros homens de Deus devem reagir diante de tais humilhações? A experiência de Davi serve para nós, homens de Deus, como exemplo de como devemos proceder. Para tanto, analisemos os fatos e as respectivas atitudes dos dois personagens desta narrativa.

1. O ungido apedrejado

1.1. Apedrejado pelas palavras - "... atirava pedras... Amaldiçoando-o, dizia Simei: Fora daqui, ... homem de Belial" (v. 5)

Pedras e palavras têm algo em comum: elas servem tanto para construir como para destruir. Palavras podem ser proferidas tais como pedradas atiradas na alma de alguém com o propósito único de machucar. As palavras de Simei expressavam nada mais que violência verbal de desrespeito vergonhoso ao seu rei, uma autoridade instituída por Deus, que atravessava pelo pior de todos os momentos de sua vida, tornando-se vítima da incompreensão impiedosa por parte do tal Simei. Com sua alma angustiada pela dor que sentia por um filho assassinado, outro filho traidor que procurava mata-lo, deposto do trono, exilado de sua pátria, como fugitivo errante tentando sobreviver, Davi prosseguia em silêncio sem reagir.
As palavras de Simei eram fruto da ingratidão manifesto de forma cruel. Simei deveria ser grato a Davi por sua vitória sobre Golias pela qual o seu povo foi liberto da ameaça dos filisteus (1Sm 17.45-47). Simei deveria ser grato a Davi por duas vezes ter poupado a vida de Saul quando o teve em suas mãos. Davi não reagiu às agressões verbais de Simei. Aqui aprendemos um princípio: Ao sermos apedrejados pelas críticas e a maledicência de quem nos despreza, o silêncio é a nossa melhor defesa.


1.2.    Apedrejado pelos sentimentos

Não só as agressões verbais, mas também os sentimentos dos agressores apedrejam a alma de homens de Deus. Não somente as pedras lançadas por Simei, mas também suas palavras e seu sentimento de rejeição apedrejaram o rei Davi. A verdade que aqui aprendemos é: o sentimento de rejeição forja conceitos injustos - "fora, fora, homem de sangue" (v. 7). Pior que o sentimento de rejeição é o sentimento de desprezo que produz insultos e humilhação – “homem de Belial" (v. 7).
Simei rejeitava Davi por duas razões: Primeiro, porque ele estava comprometido com a liderança do rei antecessor, pois era “um homem da casa de Saúl”. Segundo, porque o exército de Saúl foi derrotado pelo exército de Davi na batalha que decidiu sobre a posse do reino. Como consequência disso, sua gratidão a Davi pela derrota dos filisteus transformou-se em ódio mortífero, produzido pela inveja.


1.3.     Apedrejado pelas atitudes

A narrativa diz que "Simei ia ao longo do monte, defronte dele, caminhando e amaldiçoando, e atirava pedras contra ele, e levantava poeira" (v. 13). Quanta brutalidade! Que atitude infame! Como um insano, Simei havia descido às raias da bestialidade, própria dos seres destituídos de racionalidade. Davi estava sendo agredido e desafiado, quando deveria ser servido. Estava sendo ofendido e humilhado, quando deveria ser honrado. Tudo isto que Davi sofreu nos leva a aprender um princípio: Quem antes já nos honrou pode hoje nos apedrejar.


2.       O ungido resignado

Resignação e silêncio, e nada mais, foi tudo que restou a Davi. Com esta atitude tão nobre, embora dolorosa, Davi deixou para nós, homens de Deus, uma grande lição: é na resignação que repousa a serenidade da alma que nos leva a recusar a vingança (v. 9-10). Houve duas razões para Davi optar pela resignação (a não-vingança). A primeira é que ele admitia a possibilidade de estar sendo julgado por Deus - "Ora, deixai-o amaldiçoar; pois, se o SENHOR lhe disse: Amaldiçoa a Davi, quem diria: Por que assim fizeste? [...] Eis que meu próprio filho procura tirar-me a vida, quanto mais ainda este benjamita? Deixai-o; que amaldiçoe, pois o SENHOR lhe ordenou. Talvez o SENHOR olhará para a minha aflição e o SENHOR me pagará com bem a sua maldição deste dia." (vv. 10-12). 
         A segunda razão pela qual Davi optou pela resignação é que ele compreendia os sentimentos de seus adversários (v. 11). Em razão disso, dois grandes princípios Davi deixou para nós como legado. Primeiro, nenhum homem é agente da justiça divina. Segundo, a tolerância é o veículo que nos conduz à resignação.
Outro grande fato na experiência de Davi, ou de qualquer verdadeiro homem de Deus, é que o ungido resignado aguarda esperançoso a justa retribuição divina - o Senhor olhará para a minha aflição, e me pagará com bem a maldição deste dia (v. 12). Os verdadeiros homens de Deus agem assim porque reconhecem que a justiça é um ato da competência exclusiva divina e acreditam que Deus é o juiz de nossos atos e o Senhor de nosso destino.


Conclusão

Nenhum justo está isento de sofrer as mazelas oriundas da malevolência humana. Nem Jesus, o Filho de Deus, escapou; e o próprio Deus é a maior vítima, pois ele está sendo aviltado pelo pecado humano, o qual consiste não só numa atitude de rebeldia ofensiva ao Criador, mas também agride de forma brutal e infame a santidade divina. Até quando permitiremos que homens de Deus sejam agredidos e humilhados por quem arroga para si o direito de pertencer ao “rebanho de Cristo”? 
A igreja, quando se cala e se omite da responsabilidade de disciplinar tais “crentes”, ou quando ela mesma é autora da rejeição e humilha os homens de Deus, perde a identidade de Corpo de Cristo. Quando os que se dizem justos se calam e permanecem passivos, então seu silêncio diante do erro só tem duas explicações: covardia ou cumplicidade.
Acredito que nada resta ao ungido do Senhor, vítima de tais situações abusivas, senão, acreditar que nada escapa ao conhecimento divino e aguardar em silêncio a retribuição de Deus.





28 de julho de 2014

MISSÃO INTEGRAL - A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA - 2ª PARTE




Introdução
No estudo anterior – A NATUREZA MISSIONÁRIA DA IGREJA (1ª PARTE) – abordamos os dois primeiros tópicos que foram: 1) A eleição e a vocação universal da igreja; 2) A missão de Jesus como padrão para a missão da igreja. Continuando o assunto, veremos neste estudo os dois tópicos seguintes que nos levarão a ter uma ideia do que realmente constitui a natureza missionária da igreja.


3. A igreja como extensão encarnacional de Cristo (Ef 1.15-23)
Na perícope de Ef 1.22-23, especificamente no último versículo, o apóstolo Paulo revela que a igreja, como corpo, é a extensão encarnacional da plenitude de Cristo. Uma vez que a igreja encarna a plenitude do ser de Cristo, há três implicações que decorrem deste grande mistério.
Em primeiro lugar, a igreja deve manifestar ao mundo a integridade do caráter de Deus. A comprovação deste fato se dá através de quatro fatores: a) Cristo é a reprodução perfeita da natureza e caráter de DeusEle é “a imagem do Deus invisível (Cl 1.15); “Nele habita, corporalmente, toda a plenitude da divindade (Cl 2.19); b) Cristo, como imagem perfeita de Deus, está em nós (Rm 8.10; 2Co 13.5) e se constitui em padrão de integridade para todo verdadeiro cristão (Ef 4.13; Rm 8.29); c) A essência do ser de DeusPai, Filho e Espírito Santo – habita em nós (Jo 14.23; Ef 4.6; 1Co 3.16-17); d) A imagem de Deus, avariada pelo pecado, está sendo restaurada em todos os regenerados (2Co 3.19). Desta forma, a conclusão a que se pode chegar é que a igreja, como corpo de Cristo, é o projeto da habitação da plenitude divina. Quando Deus tiver definido o estado eterno da humanidade e da criação, então, ele será tudo em todos (1Co 15.28).
Em segundo lugar, a igreja é no mundo a detentora da autoridade divina. Três aspectos da igreja manifestam tal autoridade: a) a igreja é portadora das chaves do reino dos céus (Mt 16.19; 18.18); b) a igreja é a embaixada do reino de Cristo no mundo dos homens (2Co 5.19); c) a igreja é reino sacerdotal no mundo das nações (1Pe 2.9).  A igreja é instância da autoridade sobrenatural de Deus no mundo. Os principados e potestades, que “capturaram” a humanidade e transformaram o mundo emimpério das trevas”, estão subjugados pelo poder do Soberano do Universo que domina sobre tudo e todos como cabeça da igreja, a qual é o seu corpo e “a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas (Ef 1.23).
Em terceiro lugar, a igreja concretiza no mundo os eternos desígnios de Deus. A razão de existir da igreja é a missão que ela exerce no mundo, para concretizar os desígnios de Deus. Isto significa que a igreja deve: a) servir como agência de salvação para o mundo (Mt 16.18); b) mediar a reconciliação do mundo com Deus (2Co 5.18-19); c) viabilizar o projeto de reconstrução da humanidade (Ef 4.22-24; Cl 3.9-10). O propósito último de Deus visa reconstruir toda a criação, começando pelo homem. Na primeira criação, Deus começou com o mundo físico e terminou com o homem; na segunda, ele começa com o homem, transformando-o em nova criatura (2Co 5.17), e termina com o “novo céu e a nova terra” (Is 65.17; 66.22; Ap 21.1, 5).

4. A razão da missão cristã no mundo
A razão principal que justifica a intervenção de Deus no mundo, antes por meio de Jesus e agora por intermédio da igreja, é o estado de perdição do mundo. O mundo está perdido espiritualmente, “pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23). Como resultado, o pecado produziu a degeneração da raça e a condenação do mundo (Rm 1.18-32).
O mundo está perdido socialmente, pois a sociedade distanciou-se de Deus, invertendo os valores éticos, desrespeitando a lei divina e violando os direitos humanos estabelecidos pelo Soberano Legislador do universo. Por esta razão, “a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça (Rm 1.18).
O mundo está perdido economicamente. Todos se curvam sob o peso de um sistema explorador, onde o acúmulo excessivo de riquezas por parte de alguns produz o estado de alienação, pobreza e miséria em que vive a maioria da população mundial. Por esta razão, a exploração assolou todos os níveis das relações econômicas e o trabalhador é a sua maior vítima, como denunciou Tiago: Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando; e os clamores dos ceifeiros penetraram até aos ouvidos do Senhor dos Exércitos (Tg 5.4). Em sua crítica à situação cada vez mais agravante e caracterizada por uma crise socioeconômica e política do mundo contemporâneo, onde a igreja se acomoda mesmo diante do antagonismo de valores, Padilla é de parecer que quando a igreja se acomoda ao espírito da época para evitar o conflito, ela “perde a dimensão profética de sua missão e se converte em guardiã do status quo. Torna-se sal que perdeu seu sabor”.[1]

Conclusão
Não pode haver missão sem que a igreja assuma aquilo que ela realmente é em sua natureza: a extensão encarnacional de Cristo. Por outro lado, qualquer que seja a comunidade cristã local que não estiver plenamente ciente da razão de estar no mundo, ocupar-se-á com qualquer atividade religiosa, deixando de ser um empreendimento divino, para tornar-se um clube religioso. Jamais esqueçamos do propósito para o qual a igreja foi instituída por Deus: servir como agência de salvação para o mundo.







[1] René PADILLA. Ibdem, p. 69.